No dia 3 de outubro de 1930, por volta das 17h da tarde, um pouco antes de entardecer, o quartel general da 3ª Região Militar foi tomado. Washington Luís jamais acharia que Minas Gerais tentaria dar um golpe. Entretanto, enquanto via o sol quente da tarde mostrar seus últimos raios, soube que Júlio Prestes não assumiria a presidência.
Assim começava o que viria a ser a ditadura do Estado Novo.
No dia 31 de março de 1964, os militares tomaram as ruas frias da madrugada carioca. Jango foi acordado, no dia primeiro de abril, às pressas pelo seu secretário.
- João, acorda! – gritou – Temos que sair do Brasil. Os canalhas deram um golpe!
- Isso é algum tipo de piada? – perguntou Goulart, assustado – Do dia da mentira?
- Não tente se iludir, amigo. Sabíamos que essa hora chegaria. – respondeu Léo, o secretário, com olhos cabisbaixos. De fato, Jango estava contando os minutos para todos os seus planos explodirem em suas mãos.
Assim começava o primeiro dos 20 anos de ditadura militar brasileira.
No dia 11 de maio de 2016, Dilma Rousseff acompanhava a decisão dos senadores, embora já sabia muito bem o que ia acontecer. No dia seguinte, antes do sol nascer, a presidenta descobriu que o pedido de impeachment tinha sido aprovado na Comissão Especial da Câmara. Seus olhos ardiam pela noite mal dormida e só conseguia pensar em todas as suas falhas.
E como falhou. Falhou em controlar a oposição. Falhou em achar que era possível conciliar os roubos e corrupções do seu partido com sua vontade de ajudar o país. Falhou em achar que a primeira presidenta mulher de um país machista e opressor poderia sobreviver, sem maiores dificuldades, em um congresso cheio de tubarões brancos engravatados.
De um lado, brasileiros orgulhosos de verde e amarelo gritavam: “Fora PT!”. De outro, brasileiros corajosos gritavam “Golpistas não passarão!”. Mas eles passam. Estão passando. Está havendo luta, mas está havendo golpe.
O que vai ser do país? O que vai ser dos pobres? O que vai ser do serviço público, já a beira da falência? Ninguém sabia dizer.
E assim começava o governo interino de Michel Temer.
Helena Seixas
Eu adorei que a sua crônica porque você mencionou não só o impeachment como os outros golpes sofridos pelo nosso Estado ao longo da História do país. Na verdade dá até pra fazer uma reflexão com isso, questionando o quão frágil é a nossa democracia. Achei muito legal a dramatização da reação de Jango ao golpe de 64, principalmente a menção do dia da mentira (fala sério, os militares estavam praticamente pedindo pro povo fazer piada).
ResponderExcluirAcho que sua crônica tem todas as pontas da estrela, até mesmo a de apuração jornalística, e principalmente a perenidade, pois apesar de se tratar de um assunto atual, podemos ver pela "retrospectiva" no início do seu texto que golpe é algo recorrente na realidade brasileira.
Ótimo texto! Ao mesmo tempo que retrata os golpes que o país sofreu ao curso da história, faz isso de forma poética e literária. A linguagem por vezes subjetiva e os adjetivos empregados, marcam também a observação precisa, o que garante o aprimoramento das técnicas jornalísticas. Os questionamentos trazidos permitem observar o espírito cívico presente no texto. Além disso, vejo uma visão ampla da realidade, o rompimento com o lead e o "Zeitgeist", por trazer também a temática atual.
ResponderExcluirComo diria um professor nosso "A história se repete". Imagino que tenha sido uma inspiração pra você, já que você faz todo um contexto histórico de eventos políticos brasileiros que se repetem desde a década de 30. Muito interessante e acho que alcançou todas as pontas da estrela, com uma ênfase maior na questão de proporcionar visão mais ampla da realidade. Além disso, o uso da repetição no meio do texto e as perguntas no final dão um tom mais melancólico ao texto.
ResponderExcluirAdorei o texto! Principalmente porque, como já disseram, mostra que a história brasileira se repete. São os mesmos artifícios e argumentos usados, as mesmas famílias, o mesmo processo, a mesma história só que com atores diferentes. Exatamente por mostrar isso, sua crônica já demonstra um espírito cívico e proporciona uma ampla visão da realidade, por nos permitir refletir. Também sinto o rompimento com o lead e a potencialização com os recursos jornalísticos, assim como todas as pontas da estrela na verdade. Apesar de tratar de momentos específicos, o texto é perene por se tratar da história do país, sempre podendo ser complementado. Só espero que seja para melhorar, né? Mas enfim, parabéns pelo trabalho!
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