segunda-feira, 27 de junho de 2016

367 x 137


Sol quente. Era domingo a tarde, dia 17 de abril. O jogo começara no Estádio da Câmara, em Brasília, e ele estava lotado. Milhares de expectadores, de todo o país, já que estava sendo transmitido pela televisão também. Todos atentos, apreensivos. Aquele jogo era importante. Decidiria o rumo do presidente de um dos times. 
Com o clima de decisão, inicia-se a partida. Logo no início, 1 gol do lado direito do campo. Alguns da torcida vibraram. Alguns muitos. Creio que eram a maioria. De repente, o número de gols só crescia. Estranhamente, seus jogadores dedicavam seus gols para os filhos, esposas, o país e até para Deus. Gritavam e comemoravam com garra. Até que o time que começara no lado esquerdo fez 1 gol. Perdido entre tantos do oponente... E seguia nessa proporção bem desigual. Dava para ter uma pré noção de qual venceria e que a presidência em questão estava realmente em risco. O mais inusitado era a euforia que surgia no estádio a cada posse de bola dos que venciam. Na cidade, os torcedores animados com o desempenho iam para fora de casa soltar fogos e para as janelas bater panelas. Satisfeitos e certos de que a esperada vitória seria o melhor para todo mundo.
Depois de horas, o resultado era inacreditável. 366 a 137. Eram pessoas decepcionadas de um lado e, do outro, explosões de alegria. Era um paradoxo e tanto dentro de um só local, o Estádio, o Brasil. Era uma torcida que, no fundo, não deveria esperar sair ganhando com 366 gols, mas que a decisão toda fosse tomada de forma mais democrática do que aquela partida. Os dos 137 sabiam que não havia tido democracia naquele processo. O juiz não julgou honesta e corretamente. Faltava 1 minuto para o fim. Nesse dia tão cheio, com expectativas que se superavam, mais um e finalmente terminou. Agora, 367. (Gol)pe.

Lia Mendes

4 comentários:

  1. Muito bom texto! Ótima metáfora relacionando o futebol e a politica. Gostei do trocadilho no final com a palavra golpe! Enfim, notei perenidade e cidadania

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  2. Admito que quando li o título fiquei meio "que raios de números são esses?" Fiquei surpresa ao ler a sua crônica e entender do que eles se tratavam >.< A metáfora de um jogo de futebol para falar sobre a votação do impeachment foi muito criativa, e ficou ainda mais marcante com o trocadilho presente no final ^^
    É claro o exercício da cidadania e o rompimento com o lead, porém não acho que tenha perenidade uma vez que você não se referiu especificamente ao evento, de forma que só se foi compreendida sua mensagem subliminar devido à atual situação política do país.

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  3. Lia! Adorei... Metáfora muito bem adequada e sem ficar clichê. Pude notar que o texto expressou o caráter cívico, rompeu com o lead e superou a realidade. Acredito que a comparação do fenômeno com uma partida de futebol atenuou a crítica que a crônica pretendeu apresentar, contudo, isso não desvalorizou nem um pouco a reflexão. Além disso, o final foi muito criativo e fechou bem o ciclo textual. Parabéns =)

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  4. Como minhas colegas falaram, muito interessante a comparação com um jogo de futebol. Adorei o forte uso de metonímia (o estádio representando todo o Brasil). Creio que você potencializou os recursos jornalísticos, ultrapassou os limites do cotidiano, proporcionou amplas visões da realidade e exerceu plenamente a cidadania. Parabéns!

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