- Carne moída.
- Puta que pariu.
- Mas vai, me fala do sonho.
- Beleza. Então, tava eu e meu pai sentados no busão, aí eu olho pra esquerda e vejo quem? Meu professor.
- Tá, e daí?
- Calma. Ele tava lá, serelepe pimpão, até aí ok. Cumprimentei, perguntou como eu tava… Aquelas coisas.
- E aí?
- Daí que a gente passou pelo Maracanã e o motorista ia parar no ponto, né. Mas do nada começaram a gritar “AE, PILOTO, PARA AÍ NÃO PORQUE OS CARA VÃO SUBIR PRA ASSALTAR!”
- Caraca.
- Pois é. Mas aí que tá o chantily da história. Eu acho que sonhei com essa porra porque na carona de volta pra casa, o pessoal no carro tava falando que o ônibus que costumo pegar tinha sido assaltado ontem!
- Cara, Freud explica isso aí. A gente sonha com pequenas coisas que marcaram nosso subconsciente.
Os dois passam da fila de entrada do bandejão, pegam seus pratos e esperam pra se servirem.
- Então era só isso o sonho?
- Calma. A segunda parte é pior. Enfim, o motorista não parou no ponto, mas logo em seguida gritou de volta: “uma hora vou ter que parar, minha senhora! Tô apertado pra mijar!”
- Correto ele.
Os dois se serviram e sentaram à mesa pra comer.
- Também acho. Mas conclusão: passamos do Maracanã, da Praça da Bandeira, quando chegamos na Cidade Nova, meu professor levantou. Adivinha o que ele fez?!
- Desceu.
- O caralho que desceu. Anunciou um assalto!
- Caô!
- Por essa luz que me ilumina - disse o garoto, fazendo o sinal da cruz.
- Você precisa ir numa psicóloga.
- Ou. Já deu, hein. Parou de gracinha. Deixa eu terminar: ele não só anunciou o assalto, como também meteu assim: “não quero abusar. Quem não tiver nada, fica tranquilo. Só preciso de no mínimo 5 reais de cada um”.
- Puta merda!
- A academia é desconstruída, né. Até o assalto é comunista.
- Tá, mas e se alguém não tivesse o dinheiro?
- E tinha gente que não tinha! Uma senhorinha. Aí um cara lá de atrás se ofereceu pra pagar os 5 reais dela.
- Que lindo.
- Poético.
- E tu deu quanto?
- 10 reais. Cheguei a mencionar que eu tava com meu pai no busão? Dei 5 reais meu e 5 do meu pai. O professor falou “que isso, de você não precisa”, mas respondi que fazia questão.
- Cara, o fato do seu pai estar na história faz toda a diferença, psicologicamente falando. Sabe o que isso significa?
- Sei: porra nenhuma. Se aquieta aí, Mini Freud. Tá achando que a mesa do bandejão tem cara de divã? Eu tô comendo arroz, feijão e carne moída, porra. A última coisa que eu quero agora é abrir meus sentimentos.
A amiga ri e dá uma garfada. Os dois começam a comer silenciosamente, até que o amigo que contava do sonho abre um olhão e balança a cabeça pra direita com velocidade e repetidamente.
- Ali o professor ladrão.
A amiga vira de costas e vê o tal professor sorrindo e se juntando à mesa com outros alunos.
- Cacete… Mó cara de comunista.
- Papo reto.
Alcione 77
Papo reto... Por essa luz que me ilumina, adorei!
ResponderExcluirVi uma grande evolução do seu primeiro texto para o atual. Na primeira crônica, você não usou o espaço entre o "-" e as falas. E agora você fez isso muito bem. Na semana passada, você tentou um texto com aspas e não ficou muito bom visualmente, mas agora está ótimo quanto a isso, dá um ar bem mais organizado para diálogos. Enfim, eu ri do sonho e gostei da forma em como fora contado.
P.S: Irei olhar para a cara de todos os professores agora pra ver quem tem cara de comunista.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirkkkkk muito bom "mini Freud"
ResponderExcluirTeus textos sempre me lembram os vídeos do choque de cultura hahahha tu vai longe.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirVocê escreve muito bem e eu morro de rir com seus textos, você faz com que o leitor se imagine dentro da história, e isso é ótimo!
ResponderExcluirMuito bom. Gostei!
ResponderExcluirHahahaha, muito bom. "Que lindo; Poético" kkkkk
ResponderExcluirSeus textos são sempre muito bons. Envolvem o leitor e trazem humor. Adorei!
ResponderExcluirSempre ótimos textos. Muito boa essa construção de diálogos tão natural.
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