passei por você agora na Praça XV. Eu tava de bicicleta e você panfletando pro 17. Deve lembrar. Ali por perto um ambulante com adesivo do 12 ouvia "Eu e Ela", aquele pagode gostoso do Grupo Raça. Das antigas. Lembrou?
Pois é. Passei por você assoviando a melodia. Coisa rápida. Você distribuía panfletos e cantava:
"Ela e o namorado dela...
eu e minha namorada."
Por acaso, olhei pra você, você olhou pra mim e a gente entoou os versos juntos. Tu na letra e eu na melodia.
Não deve ter visto, mas eu tava com adesivo do 13.
17, 12, 13... Quem diria que o pagode ia nos unir?
Tô aqui esperando minha barca sair, vindo do trabalho, e você seguindo com o seu. Provável que vai ficar até às dez da noite na rua, que nem eu. Provável que mora no subúrbio, que nem eu. Provável que vai voltar no ônibus lotado ouvindo no fone a mesma música que eu.
Tu não lembra de mim mesmo, né? Tem certeza que não? Lá em São Cristóvão, 2002. Dava calote no ônibus pra ir à praia no verão. Foda-se. Pra gente nunca foi pecado.
Aquele dia pararam nosso busão em Botafogo e os cana foram revistar. Botaram bagulho no meu bolso. Lembra?
Tu tentou me ajudar, falou que era esculacho. Adiantou, não. 7 anos e um mês. Tráfico. Mas saí. Tô indo do trabalho pra faculdade, por isso que passei pela praça onde você tava.
Teve uma vez, quando eu tava na privação de liberdade, que o 17 foi lá visitar a gente. Sem neurose, me olhou com mó nojo. Eu tava suado, beleza. Mas é pra tanto?
Ele virou pro carcereiro e falou que a gente tinha o que merecia. Assim mermo. Sangue subiu pra mente. Fiquei puto.
Mas enfim, só te escrevi pra contar essas coisas. Dizer que tenho saudade dos nossos calotes pra ir à praia. Quem sabe rola da gente ir num pagode de novo...
Na moral mermo, sendo sincero: acho que 13 é número do azar. Mas depois do que passei com o 17, comigo ele não vai se criar.
Não era ele que devia ter aparecido lá, era você. Queria que você ficasse do meu lado de novo, quem nem naquele dia em Botafogo. Mas dessa vez, se bobear, tá arriscado a gente dançar junto. Cansei de dançar. Agora quero que a gente dite o ritmo desse pagode.
Alcione77
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
ResponderExcluirafff Alcione namoral como PODE????? Você ZEROU qualquer crônica possível nessa semana. Parabéns, você é foda. Carta foda! FODA!
ExcluirSó digo uma coisa: O mundo merece essa crônica! Eu estou sem palavras pra dizer o quanto eu me envolvi na leitura desse texto, porra... Eu quero engolir essa crônica de tão boa que és. Eu amo a forma em como usa as palavras simples, as gírias cariocas e até mesmo o "mermo". Adoro como detalha com os lugares (isso sempre é um destaque nos teus textos). Viverei por mil anos e tenho certeza que, sempre que eu ler essa crônica, vou ter o mesmo misto de sensações que me trouxe na primeira leitura. Eu realmente adorei, estou aqui batendo palma com os pés porque minhas mãos estão ocupada digitando esse comentário. Eu não tenho que tirar ou acrescentar. Tu arrasou com os arrasados, mano! E agora, abre a roda de pagode que hoje a gente vai pagodear. ♥
ResponderExcluirna boa? você esculacha. Demais a crônica. A linguagem por ser simples deixa o texto muito bom de ler, fluido e dinâmico. Além de tudo, é bem detalhado. Sensacional.
ResponderExcluirse tratando de você, nunca é um mal estar lendo às 01:28 da manhã né, Alcione? mais uma vez nos dando o prazer do seu talento...
ResponderExcluirAbsurda!
ResponderExcluirCara...você é demais! Esse texto é incrível, sem exagero.
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