sábado, 1 de setembro de 2018

Montanha-russa


Ela não lembra quando começou. Era algo tão comum em sua infância que muitas vezes pensava que aquilo era uma demonstração de carinho. O pai dela era um homem bom, engraçado, todos do bairro o conheciam, por isso ela não achava aquilo errado. Mas ao mesmo tempo se questionava porque ele sempre dizia: “Não conte para ninguém, isso vai acabar com a nossa família. Se sua mãe souber, ela vai chamar a polícia. Você quer ter um pai na cadeia?”.
Ela tinha onze anos na última vez que aconteceu, foi em um final de semana que ficou sozinha com o pai porque a mãe estava viajando. Depois daqueles dias, ele nunca mais encostou nela. A menina passou a viver mais aliviada, só que as marcas a acompanham até hoje.
A erotização que sofreu quando criança fez com ela não conseguisse se relacionar com os meninos na juventude. O abuso criou um sentimento de insegurança e até hoje ela tem dificuldade de confiar nas pessoas que se aproximam. Afetou também a autoestima da menina, faz com se sinta em uma posição inferior às outras pessoas, não a deixa se sentir capaz de realizar coisas que é apta a fazer.
Ao longo desses anos, a depressão foi uma companheira, é como se a vida fosse uma montanha-russa. Tem dias difíceis que ela não consegue sair da cama, se arrumar e ir para o trabalho, mas têm dias que acorda animada, ajuda organizar a casa e faz coisas que lhe dá vontade de continuar vivendo. É uma guerra constante contra o passado. É uma guerra constante contra as lembranças que assombram a memória.

Regina Phalange

5 comentários:

  1. AMEI DEMAIS O PSEUDÔNIMO! íriamos entrar em conflito pois esse seria o meu haha. Bom texto, porém acho que podia dar uma dramatizada, usar palavras mais fortes com a finalidade de passar a emoção.

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  2. Impressionado com quantidade de relatos de assédios aqui. Realmente uma triste realidades da nossa sociedade. O texto está bom, mas acho q poderia ter sido escrito de uma forma mais emocionante.

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  3. Acho que a dramaticidade se perdeu um pouco no decorrer do texto. Adorei o início.

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  4. Relato extremamente triste e importante. Uma pena estar presente ainda em nossa sociedade. Acho que o uso de vocabulários um pouco mais fortes seria adequado para evidenciar ainda mais a gravidade do problema abordado.

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  5. Podia ter explorado mais a emoção do leitor, porém fiquei sentido com a situação.

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