sexta-feira, 14 de setembro de 2018

E por falar em saudade

Ela entrou no cômodo. Mais uma vez fingi olhar para o outro canto da sala. Mais uma vez fingi
desconhecer:
Ela.
Que ontem a noite estava bem viva nos meus sonhos. Se chamava Roberta e tinha 26 anos. É
estranho quando você simplesmente conhece alguém, só não sabe como.
Outro dia ela estava passeando em Madri: Se chamava Tereza, mas falava francês. Semana
passada estava em Paris: me encontrou na Champs-Elysées, mas falava espanhol. Acordei
gritando em português:
"Por onde anda você?"
Te vejo em inúmeros rostos, inúmeros corpos... Nomes, cheiros, sotaques... Mas a geografia da
minha mente me impede de te encontrar de verdade. Tentei uma, duas, três vezes te achar
acordado. Mas começo a aceitar que a mulher dos meus sonhos é apenas uma abstração. A moça
ruiva que entrou na sala não era você. Tampouco a francesa, a espanhola ou a mulher estranha
que deixou uma calcinha na minha cama. E esse meu auto-diálogo só retrata a minha solidão.
É estranho quando você simplesmente espera o amor. Só não sabe quando.

Ricardo Reis

11 comentários:

  1. Achei a temática interessante, gosto dessa questão da mulher, romances (vividos ou não) e da brincadeira com os idiomas. No entanto, achei que ficou um pouquinho confuso. No início do texto eu optaria por inverter a ordem de "cômodo" e "sala", começar com cômodo deixa um pouco vago.

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  2. Não achei nada confuso, pelo contrário. Desde a última crônica você já mostra um refino literário brabo. Queria ser chique assim escrevendo, fazendo essas metáforas bacanudas.

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  3. Adorei tudo na crônica, a começar pelo título, li cantando com a voz de Vinicius de Moraes em "onde anda você". Compartilho o pensamento do Zepilim, essa temática me agrada muito, você falar de romance, mulheres e ainda colocar referências a Vinicius foi simplesmente genial

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  4. Gostei muito da crônica. E como Pierrot lembrei logo da música, até parei para escutá-la. Um ótimo texto no qual o leitor pode, facilmente, identificar-se.

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  5. Boa Ricardão!! Sua crônica foi uma delícia de ler. É de uma pureza que me encanta. Gostei muito!

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  6. Adorei a crônica. Ela é curtinha, mas passa uma sensação deliciosa!

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  7. Gostei muito da ligação da crônica com a música, fez muito bem.

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  8. Ótima crônica! Como já falaram, logo lembrei da música, o ritmo da leitura foi muito bem construído.

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