sábado, 29 de setembro de 2018

Carta para um eleitor do coiso.

Querido quase mais que amigo,

   Gostei muito fácil de você, logo de cara. Na piscina, naquela festa durante o
carnaval, lembra? Você já conhecia um grande amigo meu e a conversa fluiu de um
jeito inesperado. Passamos o dia juntos. Te ensinei a jogar buraco e te fiz perceber o
quão ruim você era nesse jogo. Logo na semana seguinte você já estava na minha casa,
junto com nosso amigo, junto com minha família, rindo, conversando e, como sempre,
jogando.
   O assunto nunca acabava através das mensagens ao longo dos dias. Até que você
disse que gostava de mim. Gostava mais do que um amigo deve gostar. Eu surtei, claro.
Não te via de outro jeito a não ser como o cara que perdia muito para mim no buraco.
Clichê, eu sei, mas é a pura verdade. Depois de um tempo me adequei à ideia. Os nossos
encontros eram a melhor parte do meu dia. Você me esperava sair do trabalho e sempre
ria do jeito que eu atravessava a rua para te encontrar.
   Nunca quis te prender a mim, nem nunca exigi nada de você. Éramos apenas
bons amigos com alguns benefícios, talvez. Os meses passaram e me permiti ver até que
ponto eu realmente te conhecia. Suas ideologias políticas não condizentes com as
minhas começaram a me incomodar. Seu fascínio por um candidato tão despreparado
começou a me assustar. Seu repúdio aos últimos gestores do país foi transformado em
um cego desespero, todo canalizado em um único “salvador”, que, na verdade, não
emana nada além de intolerância. Eu tento entender. Juro que tento. Sei que boa parte de
seu apoio a esse candidato não passa de um perfeito exemplo do que seria um fenômeno
de contágio. Simplesmente irracional. Sei, também, que você é muito melhor do que
isso. Pelo menos a pessoa que conheci era.
   A pessoa com quem passei os finais de tarde nos últimos meses; a pessoa que me
garantiu ótimas risadas; que me levou ao cinema para assistir o filme do qual eu não
parava de falar; a pessoa que podia ver em mim qualidades que nem eu conseguia; o
menino de mente turbulenta e coração puro.
   Querido quase mais que amigo, eu tenho certeza que teríamos sido uma ótima
dupla. Aposto que eu poderia te amar, mas, como dizem, amor nunca foi o suficiente.
Os opostos se atraem, mas também se machucam. Não sei até onde vai esse seu
fascínio, nem sei dizer bem quando ele começou. Espero um dia te reencontrar, para
quem sabe fazer valer os meses que passaram. Mas, por agora, fique com essa carta e,
de todo coração, se ainda for possível, tente achar em si mesmo a pessoa incrível que
conheci.

Com saudade e carinho,
Sua quase mais que amiga


Edmundo Pevensie

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