sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Uma mensagem de súplica

“Mamãe, quero deixar claro que não estou aqui com a intenção de ofendê-la. Na verdade, a minha maior intenção aqui é fazer com que você compreenda, mesmo que minimamente, como eu fiquei depois do que você falou essa noite. 
Eu cresci ouvindo você falar que não acredita em político algum e te vendo votar branco em todas eleições. Então, por que ele? Por que justamente um discurso cheio de ódio, machismo, homofobia te conquistou? Sinto um aperto no peito, de verdade, cada vez que eu lembro de você falando “decidi que vou votar no Bolsonaro”. Me questiono incansavelmente como você não percebe o caminho que nosso país irá seguir caso ele seja eleito. Parece que você já esqueceu de todos os vídeos dos discursos repugnantes feitos por ele. 
Você, que nasceu em meio à ditadura militar, acredita que ele é o único capaz de mudar o Brasil? Acredita que ele, que eu sequer sou capaz de citar o nome, irá acabar com a violência e com o tráfico? Está se deixando levar por um discurso de que violência se combate com mais violência, mesmo depois de ver e admitir o insucesso que foi a intervenção militar no Rio de Janeiro? 
Eu te peço, por favor, quando você chegar do trabalho, senta comigo e deixa eu te mostrar diferentes matérias, estudos, textos, vídeos que comprovam que você, principalmente na posição de ser uma mulher, não pode colaborar para a eleição desse candidato.”
Essa foi a súplica, em forma de mensagem, que enviei para minha mãe no dia que ela me contou qual seria o seu candidato. Nesse dia, ela chegou do trabalho tarde, disse que estava cansada e não queria falar sobre isso. Eu permaneci angustiada e sem acreditar que a minha mãe, a que eu sempre disse que era a melhor pessoa do mundo, iria se juntar a essas pessoas que eu tanto repudio. 
Ela é do tipo de pessoa que não dá o braço a torcer e eu sou do tipo que não desisto até o último segundo. Nossa relação está uma merda. Ela evita falar comigo. Ela não quer entrar nesse assunto. Eu quero entrar no assunto. Eu quero falar com ela e até o segundo que ela sair de casa para votar, eu vou tentar impedir.

Cecília Meireles

11 comentários:

  1. Dá pra ver na crônica a sinceridade do sentimento de decepção. Passo pela mesma coisa e consegui sentir empatia, mas fico imaginando que poderia ir muito além. Não sei bem como, só sei que da essa sensação. Talvez o clímax da história ainda tá pra acontecer e esse é só o segundo ato

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  3. Senti que faltou algo, mas ainda sim é como se o texto me abraçasse, como se fosse um espelho e refletisse o que sinto. Adorei!

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  4. Eu concordo com a Alcione e com a Lua, gostei do texto, achei a forma de escrita interessante, mas acho que poderia ter algo a mais, talvez depois da mensagem, um desfecho um pouco mais dramático ou enfático. Quando ao comentário da Lua, tive a mesma sensacão de "abraço", acho que se deve muito ao uso de "Mamãe" logo na primeira palavra do texto, cria uma certa intimidade com o leitor, muito bom. Só reparei uma coisinha bem boba, dentro das aspas da mensagem que você mandou têm outras aspas abertas, quando abrimos aspas dentro das aspas usamos ('), uma só, mas besteirinha.

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  5. Eu amei a sua cronica pq definitivamente é algo que varias pessoas podem se relacionar.

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  6. fala de mãe, do ambiente de casa. Faz o leitor se imaginar na situação.

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  7. Gostei bastante da sua crônica, achei muito bem escrita com um forte valor emotivo quando você coloca "mamãe". Uma das minhas preferidas

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  8. Me agradou o direcionamento à mãe. Me pareceu um belo desabafo e, apesar do final me dar esperança, senti o desânimo quanto o posicionamento.

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  9. Gosto da sua escrita. Ótimo texto. Adorei o "Eu quero entrar no assunto".

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  10. Deu um drama envolvente, o que me fez ficar presa no texto. Fez um bom uso das palavras (de fácil entendimento). Usou fatos e deu um tom de esperança no finalzinho. Gostei bastante. ♥

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  11. Eu adorei o texto e como ele envolve o leitor com seu desabafo, só achei que ficou faltando algo.

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