"Mas cê votou no Ciro?". Surpreso com aquele questionamento, eu disse: "Você sabe que eu votei
no Haddad...". Ele suspirou e afirmou: "Sabe como é... Hoje em dia temos que checar se estamos
do lado certo...". Ele me sorria como quem não temia a próxima esquina da vida. Mas a todo o
momento eu tinha medo do que viria.
Já não podia segurar sua mão.
Os jornais publicavam sempre a mesma narrativa. Meu irmão está na prisão. E toda a Universidade
sucumbia àquele caos.
Já não podia segurar sua mão.
Os hematomas das surras que tomei da polícia ainda me doíam. "Eu não acredito que eles
venceram".
E eu só queria segurar a sua mão.
Assim, na praça, no mercado, em São Januário, assistindo o jogo do Vasco sem precisar esconder
que eu amo
Um homem
Como eu.
Quero ter filhos, mas não há escolas. Quero escrever, mas não há papel que seja livre.
Livre como qualquer ser humano precisa ser.
Quero gritar, mas não tenho ar limpo
Limpo como qualquer país precisa ser.
Puro como todo o amor que eu sinto e preciso esconder
Porque não há amor que sobreviva a tanto ódio, a tanta ira.
“HÁ PERIGO NA ESQUINA”
Fernando gritou antes de desaparecer dentro do carro da policia militar. Por entre as ruas do Rio
de Janeiro. Nas ruas do Brasil inteiro.
Já não posso segurar a sua mão.
Por favor, Ele não.
Ricardo Reis
Primeiramente not him! Eu consegui sentir muito sentimento nesse teu texto, achei simplesmente muito bom. Em todos os aspectos
ResponderExcluirAdoro a referência à música mais linda da Elis, e como ela aos poucos anuncia a tragédia da chegada da polícia militar. A sonoridade das últimas frases, o encontro e desencontro das mãos (que também já vinha sendo anunciando), são singelos
ResponderExcluirGostei da estrutura, deu uma mudada. O uso de referências também é muito legal e está se tornando uma característica de seus textos, Pessoa, Moraes e agora Elis. Gostei.
ResponderExcluirExcelente! Gosto de como o texto consegue ser visual, a ideia das mãos reforça isso. Muito bom.
ResponderExcluirTexto incrível. Muito envolvente!
ResponderExcluirO seu texto está muito bom, bem envolvente.
ResponderExcluirConseguiu passar ao leitor os sentimentos e ainda aproximá-lo do texto. São Januario e etc.
ResponderExcluirAff eu to muito feliz com essa. Por se diferente, o texto é bom de ler e o relato pessoal é incrível. Explorou bem a dor de ser gay e o perigo que é viver.
ResponderExcluirsua escrita é bem detalhada, me agradou bastante
ResponderExcluirRicardo, tu fez com que eu me arrepiasse na sala de aula e por mais uma vez agora que eu parei pra reler. Gostei dos toques simples que tu destes como os nomes próprios, como "Fernanda" e "Rio de Janeiro", são coisas "bobas" mas eu adoro esses detalhes. Gostei da proximidade que tuas palavras dão ao leitor, isso é ótimo. Também achei reflexivo, adorei. ♥
ResponderExcluirAgonia passada em cada palavra, transmitida de forma muito intensa. Excelente, Ricardo!!
ResponderExcluirMe envolvi muito no texto, você consegue descrever muito bem as cenas.
ResponderExcluirNossa, que texto bom! Adorei a referência a música da Elis, que faz muito sentido no nosso cenário atual. Ótimo texto, Ricardo!
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