como uma suposta solução para todos os problemas. Resolução vazia para problemáticas
profundas, é claro. Em 2018, foi a vez do Brasil. A história que vou contar nada tem a ver com
política, isso já vemos aos montes nos veículos de comunicação. Escrevo aqui, contudo, um
relato, um relato de como o fanatismo (político) mudou minha vida.
O conturbado ano de eleições (para variar) dividiu os indivíduos, mais uma vez, a partir de suas
diferentes opiniões em relação ao melhor para o sistema governamental. As discussões
acentuaram-se cada vez mais no convívio público, principalmente na convivência virtual das
redes sociais, que se transformaram em verdadeiras zonas de guerra. Xingamentos gratuitos,
amizades desfeitas, pré-julgamentos, são alguns dos frutos semeados por esse clima de tensão.
Dessa vez, todavia, a tendência fascista despertou-se em meio a tal embate com uma força
considerável. O “coiso” havia chegado para a disputa do poder. O “coiso” que atraiu diversos
seguidores com seu discurso de honestidade e serventia a Deus. O “coiso” que justificava sua
discriminação para com as minorias com o clássico “não foi bem assim, vocês manipulam o que
eu falo”. O “coiso” que levou seu eleitorado à descrença em pesquisas, urnas e até mesmo na
própria ditadura, mas à crença em enquetes de facebook e vídeos de WhatsApp. Como que um
“coiso” desses foi acontecer?
Mediante a isso, senti uma tremenda necessidade de partilhar minha incredulidade quanto à
situação descrita acima. Aproveitei para escrever a crônica enquanto posso (vai que o “coiso”
ganha a disputa eleitoral), enquanto tenho minha liberdade. Nunca pensei que um indivíduo
como ele fosse conquistar tantos fiéis. O número de eleitores do candidato que não deve ser
nomeado crescia em níveis alarmantes. O crescimento foi tão elevado que um dia o terrível
inevitável ocorreu, o “coiso” entrou em minha casa. O “coiso” levou os meus pais. Eu,
felizmente, consegui escapar, mas por um preço caro. A paz foi tirada do lar como a luz de uma
tocha em meio a tempestade. Essa era a sina programada por não segui-lo. A tempestade era
somente a ponta do Iceberg, em detrimento do cataclismo de brigas que chegavam e estavam
por vir no seio familiar no qual me encontrava inserido. Todos os meus conselhos e opiniões
contrárias ao presidenciável eram refutados com desprezo e desdém. Minha família (e todos os
outros adeptos desse cidadão) estava disposta a compactuar com o preconceito na governança,
pelo hipotético fim da corrupção. Estavam trocando um crime pelo outro sem ao menos
perceber (ou se importar). Transformei-me de são em doente, na visão dos pais, que estavam
enfermos com tal ideal absurdo, mas se enxergavam saudáveis mentalmente. Os direitos de fala
e perspectiva intrínsecos a mim perderam sua relevância. Enfim, a democracia acabara na minha
residência, com 3 pessoas. Imaginem o que acontecerá numa nação com 200 milhões, se o
“coiso” ganhar?
Rômulo Zaragoza
Comentem aí, sem medo, com todo respeito.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA sua foi uma das minhas favoritas. Muito bem escrita e bem elabora, eu consegui me identificar bastante.
ResponderExcluirgostei bastante do título!
ResponderExcluirGostei da crônica no geral, mas o título e o final foram as partes que mais me chamaram a atenção.
ResponderExcluirGostei bastante do texto, muito bem escrito.
ResponderExcluirTrás um contexto histórico interessante e ótimo, mesmo tendo chances de ficar mal executado, é uma crônica inteligente e informativa. A relação do coiso como monstro também é um bom ponto.
ResponderExcluir"O coiso entrou em minha casa" gostei disso.
ResponderExcluirAchei que tu destacou um ponto importante sobre a atualidade que foi a violência virtual. Achei o título muito legal, porque falo muito "coiso", "coisando", "coisado". Me fez arrepiar em algumas partes. Tem um toque de drama juntamente a reflexão, faz o leitor se imaginar (pelo menos eu) a aflição que é viver isso dentro de casa. Tu fizestes com que o leitor tivesse empatia com tua crônica, tá ligado? Gostei disso.
ResponderExcluirinteligente, criativo, manuseia bem a escrita, ótima narrativa!!!
ResponderExcluirGostei do modo como você trocou a palavra '' Coisa '' por '' Coiso'', foi bem inteligente. Gostei bastante da crônica.
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