sábado, 29 de setembro de 2018

Carta Para um Eleitor do Coiso

Querido José, lembro de quando eu era criança e você ia na minha casa ficar jogando
vídeo game com meu irmão. Você chegava, me pegava no colo e me girava, girava e
girava. Eu te achava o máximo! E mal poderia imaginar que agora iria querer ficar
distante de você. Nunca mais nos vimos, você foi morar longe e também quase não tem
falado mais com meu irmão, seu amigo de anos. O motivo pelo o qual você não tem
mais tanto contato com seu melhor amigo? Você quer falar sobre política, mas só do seu
ponto de vista, não aceita a opinião dos outros.
Você teve criação cristã, acredita na bíblia e defende a família ‘’tradicional’’ brasileira,
mas isso não é desculpa para ser intolerante. Está sempre fazendo discursos na internet,
em sua maioria começados pela frase ‘’Não que eu seja homofóbico, mas...’’.
Ás vezes, temos algo tão enraizado em nossas vidas que é difícil se desvincular dessa
ideia. Mas, tente se colocar no lugar do outro e entender o lado dele da história. Se você
fosse gay, você gostaria que um candidato a presidência lhe diminuísse com palavras de
ódio?
Você sofreu com a violência do Rio de Janeiro, e por isso acha que o porte legal de
armas vai resolver todo esse problema. Eu não te julgo, eu sei que você se sentiu
impotente quando levaram o carro da sua família, eu sei que você se sentiu destroçado e
amedrontado com quando levou um tiro por engano, eu sei que queimou e sangrou
quando a bala em alta velocidade perfurou a sua carne e te fez ter medo de morrer, eu
sei. Mas armas não vão combater armas. Você não acha que na mínima oportunidade, o
cidadão brasileiro não irá a usar a arma para intimidar, ao invés de usar para se
defender?
Você tem dois filhos, um menino e uma menina. Você quer proteger seus filhos do
mundo, como qualquer pai, mas para isso você quer eleger um homem machista. Um
homem que acredita que as mulheres são inferiores, sua filha é inferior ao seu filho só
por ser mulher? É esse país hostil que você quer para sua menina? Você quer que ela
cresça com medo?
Você defende a ditadura, mesmo não tendo vivido nela. Sempre diz que naquela época a
vida era melhor e que não existiam crimes. Mas, sempre ignora todas as torturas e
mortes daqueles que foram contra o sistema repressor do período. Por favor, tente
imaginar, se fossem pessoas da sua família sendo torturados e mortos, você ainda
apoiaria ele?
Escrevo essa carta com o único propósito de te fazer refletir sobre suas decisões. Se
você continuar a pensar do mesmo jeito, ótimo. Se mudar o jeito de pensar, ótimo
também. Só quero te lembrar que não existe apenas esse lado.
Com amor, Cigana.
Isso mesmo, amor. Porque de ódio o mundo está cheio.

Cigana Oblíqua e Dissimulada 47

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