domingo, 30 de setembro de 2018

Carta para um eleitor do coiso.

Querido tio J,
 Lembra quando você era criança e brincava na rua sem nenhuma preocupação de perigo? Você ficava até tarde da noite jogando bola com os seus amigos, e reclama até hoje do seu pé deformado devido as topadas que dava no asfalto, naquela enorme vontade de fazer um gol digno de estar nos melhores do ano?! Você consegue voltar no tempo antigo das novelas da Globo onde não existia toda essa pouca vergonha atual, aquelas cenas que o Walcyr Carrasco coloca, e faz com que você queira mudar o canal de televisão no mesmo instante? Você consegue sentir seu coração apertar naquelas brigas escolares que você teve, mas consegue sentir o sorriso se formar no seu rosto também, porque todos os problemas foram resolvidos lá mesmo e tudo continuou perfeitamente bem depois? Você e o Flavinho até tomaram uma cerva depois.  

 Relembrar os velhos tempos em que você andava pelas ruas do Rio de Janeiro sem medo de levarem seu Nokia 3410 lhe conforta? Esse medo e toda essa nova modernização te assusta. Toda essa diversificação, essas novas pessoas que estão fazendo o mundo virar de ponta pra baixo fazendo com que você se sinta de ponta pra cima, lhe deixa desconfortável, não é mesmo? Eu sei que tudo o que você deseja é que a sua filha não seja como eles, que ela seja como você foi e que a garotinha do papai possa viver da mesma forma em que você viveu. Porém, com apenas um detalhe diferenciado: o tão confortável luxo que você pode proporcioná-la hoje. Mas, eu estou ciente de que você também se questiona em como fará isso no meio de toda essa nova geração, onde todo mundo tem voz, onde todo mundo pode expressar-se da forma em como acha que bem entende, onde cada um segue a sua própria ideologia.  

 Eu sei que você acredita que ele será a âncora do nosso país. Você está se segurando nas promessas que ele está dando, as palavras de uma possível vida segura lhe fazem voltar novamente àquela infância que você fala com tanto orgulho. Tudo o que você almeja é a paz de espírito da sua família. Você quer proteger as suas filhas, e ele mesmo deu a ordem que, o homem que fizesse mal à alguma delas, pagaria um preço alto. Embora esteja em meio a tanto caos, os seus desejos podem ter duas vertentes, o sim e o não para ele governar esse país que, com tamanha discrepância lhe assusta. Mas, entenda, querido tio: a vida poderá ser bela, mas nem tudo será uma beleza.
Billie Jean.

5 comentários:

  1. Billie, gostei da abordagem com seu tio. Bela carta.

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  2. gostei demais da sensibilidade do texto

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  3. Gostei muito do texto. Você escreve muito bem, conseguiu cumprir essa tarefa de forma completa, demonstrando uma habilidade e uma sensibilidade que muito me agrada. Eu reformularia essa frase: "em como acha que bem entende" porque não ficou muito harmônico. O final poderia ter mais impacto, mas fora isso só tenho elogios pra ti. Consegui sentir que de fato você se colocou no lugar do tio J. Ele com certeza gostaria de ler essa carta e quem sabe mudaria de voto hahhaha. Parabéns.

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  4. Sutil na medida certa e acho que acertaria direto na empatia do seu tio com você. Não vejo a carta como definidora da mudanca de voto, mas sim como uma abertura para o dialogo. Você mostrou que se propõe de verdade a mostrar que o entende e respeita sua opinião, e acho que é um primeiros grande passo pra um bom debate. Uma das melhores cartas

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  5. Gostei muito. Até senti que a ideia da crônica é parecida com a minha. Gostei mais ainda ahahahah. Essa última frase, ''Mas, entenda, querido tio: a vida poderá ser bela, mas nem tudo será uma beleza.'', é ótima.

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