A noite não parecia tão fria para o jovem que estava sentado à mesa daquele bar há horas. Já havia perdido a noção de quantos copos, das mais variadas bebidas, havia ingerido. Sua vida estava uma verdadeira loucura, nada mais fazia sentido. Havia perdido o emprego e sua recém esposa havia lhe deixado. O motivo? Estava cansada das traições feitas pelo mesmo. Seu estado sóbrio já era estar fora de sua própria sanidade. Havia se envolvido com alguns amigos, amigos no qual sua mãe sempre repreendia. Todos os desvarios começaram a fazer um verdadeiro sentido em sua mente. Ela está com outro. Ela te trocou por outro. Não quis saber de mais nada, bateu na mesa e pediu a conta. As coisas não ficariam mais daquele jeito, afinal, eles têm uma criança para cuidar. Uma pequena criança qual dependia de suas vidas para que crescesse da melhor forma possível. Era isso o que ele queria para a sua pequena criança.
━ Se ela não ficar comigo, não ficará com mais ninguém. ━ Sussurrou para si mesmo. E na sua mente logo veio a imagem daquele objeto, presente de um de seus novos amigos. É, aqueles mesmos que sua mãe repreendia.
Pegou a bicicleta e pedalou até sua casa, lugar onde o cheiro e a essência de sua ex ainda estava presente. A verdade é que a gente nunca sente falta das boas pessoas até que elas se vão. E ele sentia sua falta. Sentia miseravelmente a falta daquela mulher, que já estava seguindo sua vida. Abriu a última gaveta do guarda-roupa, seu melhor esconderijo para uma pistola. Nada muito luxuoso, mas que poderia fazer um grande estrago. Saiu desesperado pela casa, aquele era o seumomento.
Seu corpo estava tão quente que mal conseguira sentir o vento frio batendo contra sua face. Sabia exatamente ondeela estaria, e suas pernas nunca pareceram tão fortes por pedalar tão rápido. Estacionou sua bicicleta em qualquer canto e foi o momento imperfeito para chegar juntamente com a jovem que estava acompanhada. E não que houvesse algum problema nisso, pessoas mudam, sentimentos mudam, mas o que ela não esperava era que aquele homem no qual havia estado por alguns anos, mudaria tanto.
O ciclista pôde sentir o coração cair até o estômago por ver tal cena, o que fez com que sua revolta crescesse mais dentro de si. Aquilo não era possível, ela era dele. Sua voz era estridente naquele bairro, mais de onze da noite, muitos já estavam em seus profundos sonhos, mas que fora suficiente para acordá-los. Ou melhor, assustá-los.
Ameaças foram feitas, o jovem gritava para os quatro cantos daquela rua que iria matá-la, ela estava apavorada. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo ali, não podia acreditar que estava sendo personagem daquela história real. A arma apontada em sua direção. As mãos do jovem tremiam, nem ele sabia o que estava prestes a fazer, mas não aguentava mais. Como suas palavras foram jogadas contra aquelas pessoas que estavam ali assistindo tal cena, dois estalos ecoaram. Seu dedo havia ido de encontro ao gatilho disparando contra o ar duas balas perdidas. Por sorte para a moça, não a atingiu, mas atingiu ao seu ente próximo.Merda! Aquilo não poderia estar acontecendo. A pequena criança que estava imersa em seus sonhos conseguiu ouvir todo o barulho que vinha do lado de fora, fora acordada no susto com toda a movimentação que vinha do lado de fora. Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas sentia que não era algo bom. Sentia lá no fundo de seu âmago infantil e ingênuo. O mesmo jogou-se no chão, não pensou em fugir. Só estava ali, incrédulo do que tinha feito. Não era pra isso que sua mãe havia lhe criado, aquilo não fazia parte de si. E pôde ouvir a grande movimentação que se formara por ali. Com as mãos na cabeça se questionara qual seria o seu futuro a partir dali. Seria preso? Ele iria se matar? O que as pessoas pensariam? Sua pequena criança teria vergonha de si? Ele não sabia, mas um pouco desse futuro incerto começou a fazer sentido quando viu a luz vermelha distante chamar atenção de seus olhos pretos. Ele não fugiria, iria assumir sua responsabilidade atrás das grades.
Billie Jean.
Eu estou em choque! Que crônica envolvente. Realmente, um trauma, mas espero que tenha sido uma metáfora para algo e que não tenha acontecido de fato com você.
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ResponderExcluirCara, sua escrita é muito boa. Ótima crônica.
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ResponderExcluirNotei que na sexta linha, na frase “... amigos no qual sua mãe sempre repreendia”, houve o uso errôneo do pronome relativo. “No qual” dá ideia de lugar. O certo, creio eu, seria “amigos sobre os quais sua mãe sempre repreendia”. Esse erro se repete no terceiro parágrafo, na última linha “... era que aquele homem no qual havia estado por alguns anos...”. O correto seria “era que aquele homem com o qual havia estado por alguns anos...”. Já na última linha do segundo parágrafo há a ambiguidade de ideias pelo mau uso do termo “que” em “É, aqueles mesmos que sua mãe repreendia”. Se não houver atenção do leitor, dá a entender que a mãe repreendia os amigos, quando, na verdade, o filho era repreendido sobre essas amizades. Acredito que a frase deveria ser reformulada. Fora essas questões, achei a crônica interessante e me instigou a ler até o final.
ResponderExcluirNão li todas, mas foi a melhor que li até agora. Texto MUITO envolvente, consegue passar a emoção que outros não passaram e cria sim aquela angústia e vontade de ler o próximo parágrafo. Gostei muito do uso de "imagem daquele objeto" ao invés de já expôr "pistola", a construção ficou muito boa com a relação dos maus amigos que ficou claro o suposto objeto. Também me prendi a esses errinhos que o Edmundo falou, mas coisas bobas, basta ajustar pros próximos textos. No último parágrafo você usou uma repetição (acho que foi falta de atenção) mas que tirou um pouco a fluidez daquele pedaço "A pequena criança que estava imersa em seus sonhos conseguiu ouvir todo o barulho que vinha do lado de fora, fora acordada no susto com toda a movimentação que vinha do lado de fora." Excelente texto!
ResponderExcluirUm texto que não dá vontade de parar de ler, muito envolvente e dá para sentir toda a angústia. Muito bom! Percebi os errinhos que já foram comentados pelo Edmundo e Zepilim, mas nada que tenha tirado a qualidade da sua escrita.
ResponderExcluirDá pra perceber a diferença que algumas linhas de texto a mais fazem no desenvolvimento da história. Dá pra envolver muito mais quem lê. Prof, se tiver lendo isso, libera mais linhas aí! Rs
ResponderExcluirTexto muito bom, envolvimento do leitor trabalhado da forma correta.
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