domingo, 30 de setembro de 2018

Carta para um eleitor do “coiso”

Querido primeiro amigo,

O primeiro amigo a gente nunca esquece. O primeiro amigo a gente leva para a vida toda. O
primeiro amigo é aquele que cuida de nós quando mais precisamos, desde os momentos iniciais
de nossas vidas, e precisará dessa mesma cautela no fim de sua jornada. O primeiro amigo te
transmite o prazer pelos pequenos detalhes da vida. E, muitas vezes, aceita sua ingratidão, ao
abrir mão de sua companhia para te ver feliz. Eu poderia escrever durante horas o que
representa a figura do primeiro amigo para minha formação como ser humano, mas não é esse o
foco. Talvez seja hora de abdicar de meu orgulho e entender suas escolhas e posicionamentos, tá
faltando empatia no mundo, sabe?
O cenário político atual criou uma enorme polarização social, a guerra do “coiso” contra o
partido vermelho virou um grande FlaXFlu com discussões infinitas, durante o ano inteiro, que
não levam a lugar algum. Chega, por favor, chega, polarizar minha família? Qual é? Você vota
nele, e daí? Vou parar de te amar por isso? Nem fodendo. Estou contigo e nada vai mudar essa
relação. A questão não é o candidato que não pode ser nomeado, nem os “mortadelas”, mas sim
os indivíduos. Estamos doentes, amigo. E essa enfermidade parece ser contagiosa, mas eu estou
tomando meus remédios, eu estou escrevendo essa carta, porque para mim já deu, muitos de nós
já fomos contaminados, muitos núcleos familiares foram rachados, ou até mesmo destruídos.
Por isso, redijo esse bilhete. Esse bilhete que entende como você quer o fim da corrupção, que
compreende o seu anseio por um país melhor e a sua visão na imagem desse “coiso” como a
solução para todas as complicações que país carrega. Essa mensagem é uma bandeira branca, a
cor que representa junção de todas as outras, inclusive as verde e amarela e a vermelha, que o
povo maluco resolveu colocar em confronto, flâmula que não aguenta mais as brigas, as
confusões e a cega intolerância mútua fruto do individualismo, é um símbolo que pede paz.
Clichê, né? Discursinho de harmonia por um mundo melhor, eu sei, todo mundo fala isso, mas
lembre-se, sem conciliação não há convívio, sem convívio não há sociedade e, assim, voltamos
todos para os tempos das cavernas. Portanto, em nome dessa paz, te aceito, reconheço a sua
perspectiva, não concordo, porém não tem importância, minha função não é essa, tampouco é
criticar sua decisão, isso eu já fiz na última crônica. Meu papel aqui, companheiro, é te acolher,
te abraçar por intermédio das palavras, fazer você entender que, apesar de toda essa conjuntura
de conflitos, escrevo essa carta para mostrar que, mesmo com todas as discordâncias, eu te amo,
pai.

Rômulo Zaragoza

4 comentários:

  1. Bom texto. Gostei por você ter começado com "primeiro amigo" e terminado com "pai".

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  2. Acho que o primeiro passo é se desarmar e abrir espaco pra ouvir o outro, e essa crônica exercita isso muito bem. Senti o impacto do final, como se fosse pro meu pai também

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  3. Também gostei da troca do "primeiro amigo" por "pai". A estratégia de trazer pra si, dar espaço e mostrar o outro lado é muito boa. Parabéns.

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