sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Mais cinco minutos

Uma roda de amigos. Garrafas vazias e corpos cheios, brindando a versos desconexos.
Cadeiras e mesas dobradas indicam que a saideira já passou. De repente, estamos em
movimento. Era um táxi ou uber. Agora, com a proximidade do fim de mês clamo pela
segunda opção. Uma mão trêmula ergue uma cartela de cápsulas. Talvez aspirina ou
algo para o estômago. Não. Ciro Olho Vermelho era o nome impresso na embalagem.
Antes que pudesse terminar o riso pergunta, sou atravessado pela sonora garantia: é
fitoterápico. No banco de trás, apertado pela fermentação de ideias voláteis busco uma
resposta na feição do motorista. Não consigo chegar a um veredito, mas tenho
convicção de que ele viu pior. Estendo a mão. Sinto a vibração. O despertador toca. De
olhos abertos, diafragma e músculos relaxam. Dessa vez não passa de uma ressaca
onírica. No entanto, ainda preciso escrever a crônica. Rabisco algumas palavras para
não esquecer. Levanto para passar o café. Pego o pote com embalagem metálica. Sou
repreendido por uma voz ao fundo: isso é biscoito. Uma pausa. Deito-me. A realidade
pode esperar mais uns minutinhos.

Brás Cubas 171

3 comentários:

  1. Não sou abstraído o suficiente pra entender que porra foi essa no final, mas me parece ser alguma conclusão filosófica inteligente, então, mesmo sem entender, te devo uns emojis de palminhas.
    De resto, decidi elogiar os comentários que vira e mexe a narração dá, que julgo serem chiques pra caramba.
    "Cadeiras e mesas dobradas indicam que a saideira já passou"; "pela proximidade do fim do mês, clamo pela 2a opção"; "é fitoterápico"; "busco uma resposta na feição do motorista (...)".

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  2. Gostei da tua crônica, tanto que queria que ela fosse um pouquinho mais desenvolvida pra gente aproveitar mais. Tu tem um potencial interessante, acompanharei as próximas.

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  3. Bom, muito bom. A forma como usa a pontuação para expressar suas atitudes e gestos, nos faz ir junto.

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