sexta-feira, 27 de setembro de 2019

 Essa crônica é sobre um cara. Um cara que para muitos, ainda é um menino, mesmo já estando no auge dos seus 27 anos. Um cara que poderia ser O cara. Mas que por escolhas e comportamentos imaturos, é só mais um cara. Um cara genial, incontestável no que faz, top 3 do mundo, mas que quando encerra seus shows, se deslumbra com todo o status precocemente alcançado. Muitos que o admiram, torcem por uma volta por cima. Outros, por outro lado, já estão de saco cheio e até torcem para o seu fracasso.  
  Um moleque magrelo, com um cabelo horroroso e um talento fora de série. Ainda antes de completar 20 anos, conquistou tudo o que tinha direito, encantando a todos por onde passava e arrancando aplausos até de quem torcia contra. Mesmo assim, muitos já diziam que não vingaria. “Estamos criando um monstro”, disse um de seus oponentes após um episódio onde esse cara desrespeitou seu comandante. A essa altura, a fama de imaturo e irresponsável já o assombrava e o tornava uma figura controversa. Passou.
  De fato, criamos um monstro. Um “monstro” no bom sentido da palavra, um cara diferenciado, um cara com estilo único, um cara que aos 25 anos já havia realizado o sonho de 99% dos meninos brasileiros. Após alguns traumas e muitos julgamentos esse cara chegou lá. Ao lado de ídolos e superando ídolos do passado, esse cara se mostrava sendo O cara. Intocável.
  Porém, perdeu-se no meio do caminho. A caminhada para se tornar O cara, que estava se desenhando facilmente, ficou mais longa e mais difícil quando ele decidiu sair da rota e tentar o caminho “mais fácil” sozinho. Apesar de continuar incontestável no que se propunha a fazer, sua vida,nos bastidores dos shows, acabou com todo o encanto. Após alguns escândalos, burrices e infantilidades, a má fama voltou à tona. Atualmente, esse cara está tentando se reerguer, sua estrela está manchada. Porém, seu talento incontestável ainda existe. Quem sabe ele ainda não será O cara? Aguardemos.
Shrek Fiona

         Explosão de Talento
Você pode até não ter visto esse cara brilhar nos gramados do Brasil e do mundo, pode até não saber de seus recordes, mas há de reconhecer que já ouviu falar do garoto nascido e criado em Duque de Caxias que, com seu enorme talento, fez explodir de alegria e emoção os corações de milhões espalhados por todo planeta e tornou-se um ídolo de uma torcida apaixonada, inspirando milhares de jovens com sua categoria e seus gols.
Um cara que sempre teve a simplicidade como grande característica, seja em campo ou na vida... não era um grande velocista, nem driblador, mas sabia como poucos a arte de balançar as redes. Artilheiro máximo de seu clube e de diversos campeonatos, ele não deixou que o sucesso lhe consumisse e assim construiu uma carreira de excelência, sendo elogiado também pelo seu bom caráter e facilidade no trato social, inclusive por ter uma amizade (que ainda perdura) com o principal ídolo do rival da zona sul.  
Assim como qualquer pessoa, ele tinha alguns defeitos e, possivelmente, o principal deles foi se envolver no nefasto mundo da política, sendo deputado estadual por alguns mandatos. Entretanto, foi no principal posto administrativo de seu clube de coração que ele cometeu equívocos marcantes que dificultaram os últimos anos do clube... ainda assim, apesar dos erros de gestão, é reverenciado pelos feitos enquanto jogador de futebol e, corretamente, tido como o principal ícone do verdadeiro clube do povo.
                                                                                                           Ipojucan

  
                        Se eu tivesse no Paraíso

A vida faz com que o ser esteja vivo. Nossos sonhos e paixões nos impulsionam a viver e há um Mundo gigante para conhecermos, pessoas incríveis para nos relacionar e problemas gigantes para resolver. A euforia de existir por si só deveria nos guiar. A melodia da vida as vezes pode ser uma linda música de amor que nos lembra aquela pessoa que explode nosso coração. Buscamos diariamente sermos completos.

Talvez ela saiba de cor
Tudo que eu preciso sentir
Pedra preciosa de olhar
Ela só precisa existir
Pra me completar


Porém, a melodia da vida nem sempre nos preenche.
A dor da perda.
A dor da indignação.
A dor da injustiça.
A dor de ter perdido o nosso direito mais fundamental: o da Vida.
Por que crianças inocentes perdem a sua chance?
Ele vem e as tira do conforto e aconchego dos pais.
Ele leva a mulher que dedicou a vida a cuidar dos infortunados, brutalmente assassinada.
Ele leva o jovem cheio de sonhos brincando de bola na rua, morto com uma bala perdida.
Ele leva uma criança de 5 anos que nasceu destinada a ter cancêr. Tão nova, tão pura. Por que ele faz isso?
E aqueles que se completam com o jovem, a criança e a mulher?
Eles sangram! Esquecem o que é a vida e o que é viver. A melodia torna-se mais pesada, mais dolorosa e difícil de escutar.

Será que você seguraria na minha mão
Se eu te visse no Paraíso?
Será que você me ajudaria a levantar
Se eu te visse no Paraíso?
Eu encontrarei o meu caminho
Pela noite e pelo dia
Porque eu sei que não posso ficar
Aqui no Paraíso
Witch

Qual o ângulo? 

Me olhou ávido e engoliu um seco. Se sua garganta arranhou eu não sei dizer, mas, logo depois, abriu um sorriso quadrado. Acho que foi uma tentativa de um meia lua.
“O que foi?”
“Nada, vou tomar um chá” e sorriu.
O chá durou um mês.

Parecia uma brincadeira casual: de vez em nunca aparecia. Sorria em angulações imprevisíveis. Tomava outro chá.
Entrei no jogo.

Na segunda-feira o coloquei numa saia justa e pude ver todos os seus músculos da face se contraindo, acabou formando um sorriso entre 90 e 180 graus. Percebi que sua pele negra rapidamente ficou avermelhada. O riso me pareceu outra tentativa falha de meia lua.
Anotado:
Sorriso 90°= nervosismo ou vergonha.

Estava ansiosa pra vê-lo, mas passou um mês tomando chá.  

Apareceu como quem chega no dia seguinte, fiz piada com sua blusa vermelha dos Incríveis. Ele me lançou um sorriso e arfou depois da gargalhada: “aiai...”. Definitivamente, 180°.

Recapitulando:
Sorriso 90°= nervosismo ou vergonha;
Sorriso 180°= alegria.

Que menino engraçado, sorri por tudo. Aliás, ele parou de tomar chá de sumiço e descobri outro sorriso: um de canto de boca. É que agora ele vem nas aulas e, de vez em quando, os nossos olhares se cruzam por aí. E é quando surge esse sorriso tímido, quase inexistente e simpático.

Fim de partida.
Desceu Quadrado

Sônia


25 de setembro de 2019. Três e quarenta e cinco da manhã.
E lá vamos nós de novo.

Sônia,
A gente sempre acaba se encontrando. Eu, com os cabelos pra cima, os dentes ainda por escovar. Cum pouco de fome, talvez, mas você sabe que eu opto por ignorá-la, já que ela é naturalmente apenas uma consequência do tédio. Você me conhece muito bem. E eu a você, com seus olhos tortos de um lado pro outro, as costas sempre instáveis. O ódio a Morfeu. Ou seria ode? Pois quando você vem, eu sempre clamo por ele. Me desculpe pela sinceridade, Sônia, mas sua companhia tende a me trazer prejuízos no dia seguinte, ainda mais por ser hoje o amanhã. Mas tudo bem, não fique triste. Você costuma me apresentar grandes canções, não é mesmo? Aliás, o que vamos ouvir hoje?

Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira.
Eu ando da cozinha ao quarto. Do quarto à sala. Da sala à varanda, faço um carinho no cachorro. Volto à cozinha. Abro a geladeira de novo mas não pego nada, apenas procuro o exato momento em que a luzinha de dentro se apaga. Sabe, Sônia, às vezes eu penso que ele fazia isso também. Eu sei que você diria que todos o fazem, que existe uma unidade por trás de todas as diferenças no mundo. Mas eu tenho em mim a loucura de que ele seria meu amigo. A loucura de que somos únicos, extraordinários. De que somos diferentes. É errado se sentir assim em meio a tanta gente, Sônia?

Se ele estivesse aqui, talvez eu abrisse o Jack Daniel's que mantenho guardado para ocasiões especiais que nunca chegam. Beberíamos e dedilharíamos o violão baixinho para não acordar aos meus pais e nem aos vizinhos. Cantaríamos algumas de suas canções, e talvez eu criasse coragem pra mostrá-lo uma das minhas - e quiçá, até comporíamos uma ali mesmo, e isso seria a coisa mais linda do mundo. Sabe, transformar o tédio em melodia. Ele se esforçaria para não soltar por inteiro sua berrante voz, mas se o fizesse, eu pouco iria me importar. Todo som ecoado por entre aqueles cachos me diz um pouco sobre ele, e a cada fonema, cada nota, cada verso, eu me sinto mais próximo de sua vida. Burguesa, poética, marginal. Guetos, zona sul, boemia. Homens e mulheres. Vida louca vida. Mas também prestaria atenção em seu silêncio. Eu às vezes me vejo quieto, sem razão ou motivo aparente, e recentemente descobri que ele também... se via assim. Talvez eu tivesse alguém ao meu lado para cantar a solidão. Talvez.

Mas ele não está aqui, Sônia. Ele nunca estará. Ele nunca ao menos saberá o meu nome. Seu corpo esbelto e pintado de sol nunca abraçará o meu. Seu sotaque carioca despretensioso nunca se confrontará ao meu fluminense. Mas isso não significa que eu não possa fingir que sim. Finjo que vamos juntos à Cantareira e, após consumir, nos quiosques, das doses semanais de câncer, tentaríamos convencer os garçons dos bares de que somos clientes apenas para usar o banheiro - a igreja de todos os bêbados. Acredito que teríamos sucesso e rezaríamos em paz, mas caso não, ele com certeza se renderia à confusão. Tiraria a camisa mostrando o peito magro e cabeludo e iria em direção ao dono do bar. Como assim eu não posso usar o banheiro? Quer que eu mije na rua? Logicamente seríamos expulsos, mas, por sermos brancos, ficaria só por isso mesmo. Talvez ele me ensinasse a viver, Sônia. Uma ideologia ou algo parecido.

Eu acho que nem mesmo ele sabia, Sônia. Tenho quase certeza. Mas talvez nós pudéssemos aprender juntos. Ele me ensinaria a enfrentar a timidez. A levar mil rosas roubadas às minhas inúmeras paixões desenfreadas, mas a pensar que meus amores inventados nunca existiram no momento em que eles acabassem. A pedir piedade a essa gente careta e covarde. A contar segredos de liquidificador. A dizer que todos os meus defeitos simplesmente fazem parte do meu show. A admitir que talvez eu seja mesmo exagerado. Ele diria que nós arianos somos burros, e eu concordaria com todos os dentes mesmo sem saber um pingo sobre astrologia.
E eu o ensinaria a... O que eu poderia ensiná-lo, Sônia? Sinto que tudo que sei é sobre os outros. Que meus ensinamentos resultariam naquela eterna falta do que falar. Que.

Sônia, todo dia você me convence que o céu faz tudo ficar infinito. Bendita seja a arte, que me apresenta a quem nunca vai me conhecer. Bendito seja ele, que a cada dia, insiste em tentar me apresentar a mim.
 Adam Sandler

  Teoria do grupo de secreto de fãs doidos            

Será que é possível continuar vivendo após a morte?
 Pera aí! Deixa eu me explicar antes que você abandone a leitura pensando que vou falar sobre coisas mórbidas e sinistras...
É que eu costumo frequentar os bares da minha cidade e não perco uma oportunidade de curtir uma musica ao vivo. E tipo, SEMPRE tem alguém –muito provavelmente com mais de 50 anos- que pede pra tocarem uma música de um cantor antigasso que já morreu fazem 3 décadas.
Por que não superam esse cara e as músicas dele?
Ok, ok ele foi o pioneiro do rock brasileiro e merece seu mérito, mas há um certo exagero...
Depois de muito pensar criei uma teoria: existe um grupo secreto de fãs que ainda não superaram a morte dele e fizeram um combinado de que em todos os lugares que fossem e que tivesse musica ao vivo, seria uma obrigação pedir para tocar uma dele.
Após essa teoria as coisas começaram a fazer mais sentido na minha cabeça, até porque ouvi falar que quando ele morreu, um grupo de fãs invadiu a igreja do cemitério entoando em uníssono uma música dele, foram direto para cima do corpo, a fim de resgatá-lo, levá-lo para passear, beber e fumar.Ou seja, do que esse fãs não são capazes de fazer né?
E agora graças a esses malucos, os cantores da noite, que se preparam para arrasar tocando O Sol de Vitor Kley, ou sei lá, tem uns mais ousados que se arriscam até a tocar umazinha do Legião Urbana , já sabem que se pedirem por  sugestão de música sempre vai ter um coroa que vai gritar pedindo pra tocar uma do pai do rock brasileiro.
Enfim, acho melhor nos conformarmos, porque enquanto esse grupo secreto de fãs doidos existir as músicas desse cara (meio cabeludo de barbinha num estilo cowboy fora da lei meio maluco beleza) vão continuar sendo a mosca que pousa em nossas sopas e que nem DDT consegue exterminar. Mas relexa, 4 minutos passarão rapidamente e quem sabe a banda agora não toca uma da Anitta?
Metamorfose Ambulante


 O rei nunca perde majestade


Esse senhor todo mundo conhece, já ouviu falar ou já esteve em sua presença. Mas, calma né! Vamos conhecer ele melhor e todas as suas nuances.

Já nasceu grande, imponente e com a postura de rei. Tem seu nome de batismo, porém seu apelido é uma marca registrada. Acostumado desde o nascimento a grandes festas, nasceu para isso.

Já entre os 20 e 30 anos esteve em seu auge, nesse momento desfilava com as maiores celebridades em festas monumentais que privilegiava de reis a plebeus.

O tempo passou... a idade foi chegando, mesmo com toda a sua imponência e com a chegada das modernidades de hoje começaram a lhe fazer mal. Primeiro, lhe tiraram a presença do povo e logo depois lhe tiraram os anéis. É triste, porém sua alma ainda está viva, apesar de todos os pesares. Ele se apequenou, mas está vivo em sua alma, pois quem é rei nunca perde a majestade.

João Danado


Amor Brega, ou Rock

Minha avó é uma daquelas que quando começa a falar, não tem quem consiga parar. Ainda mais se o assunto for sobre alguma coisa da época dela.
“Ah, mas que saudade da década de 60, 70. Nessa época que as músicas eram boas, não essas porcarias que vocês escutam hoje em dia.”
Eu, na minha ignorância sobre a época já pensei logo naquela chatice de músicas clássicas, mas continuei escutando o que ela tinha para falar. E muito me impressionou que de uma hora pra outra, ela, como boa nordestina humilde que é, mandou um inglês na conversa.
Oh Darling, não sei se você conhece essa banda aqui, mas eles eram o maior sucesso! Acho que por culpa deles a gente tem essa nossa família hoje. ”
Fiquei sem entender muito bem essa última frase e perguntei pra ela, querendo saber mais sobre o motivo disso.
“Sabe como seu avô me conquistou? Ele sabia que essa era minha banda favorita, e me deu essa carta. ”
Tirou de dentro uma caixa que estava sobre o móvel da sala um papel já envelhecido, e nele estava escrito à mão, com uma caligrafia estilizada:
          “Sempre que estiver do meu lado, I Want to Hold Your Hand. Quando você vem em minha direção, já penso, Here Comes the Sun da minha vida. Quero sua companhia pra sempre Twist and Shout juntos nas loucuras e aventuras da vida. Quero contar com alguém como você sempre que precisar de um Help! Quero alguém pra compartilhar All My LovingCome Together, porque juntos, podemos ser muito felizes! ”
Dei aquela risada de canto de boca, achando um pouco de graça da situação, mas curioso pra saber o que tinha acontecido depois.
“E o que você respondeu vó?!”
E ela, que sempre tinha longas respostas para tudo, após um breve suspiro e com um olhar profundo com um ar de saudade que mirava a parede branca da sala, e um sorriso incontido, respondeu de forma incomum:
Let it be...”
                                                                              Nathan Drake

Um novo ciclo começava, uma nova fase em sua vida, uma nova cidade, novos caminhos, novas pessoas, novas amizades, novas personalidades, tudo era novo. Se bobear, até mesmo aquela roupa preta com rosa era nova.
Era um menino tímido, que naquele instante tinha o olhar perdido pelo novo mundo que tentava mapear. Parecia em alerta, como uma presa na savana, preparado contra qualquer movimento brusco das pessoas que ali passavam.
Só após alguns goles de uma dose de coragem, naquela caçulinha mais gordinha e colorida, decidiu arriscar. Com calma, foi chegando perto daquela festa toda, esperando apenas uma brecha, como um ataque de um predador, para arremessar um “oi” e sair correndo. Não corra, fique. Aqueles segundos pareciam durar a eternidade, não sabia o que dizer. As mãos suadas, as pernas tremendo, o coração palpitando em ritmo acelerado como a música que tocava, eis que lançam o enigma mais importante até que o próprio nome: “jornal ou publi?”
“Jornal”, bem baixinho, ele respondeu. Junto ao sorriso no rosto de alguns dos jurados veio o alívio imediato, uma mistura de paz e alegria com a sensação de pertencimento que pareceu transformar a presa em um novo predador da matilha. A tempestade tinha passado, agora é hora de balburdiar, viver essa nova vida e aproveitar cada momento. Vai ser feliz amigo! O pior já passou.
Bem-vindo!
Brócolis Verde

Sou rainha

Falo verdades e isso me faz ganhar prestígio na vida de muitas pessoas, principalmente, dos jovens que estão sempre ligados.
Meus cabelos negros são essenciais na minha gesticulação.
Meus olhos são pequenos, mas expressivos o suficiente.
Minha face é a mais requisitada! Aliais, é por causa dela que eu voltei ao ranking do sucesso.
Não são todas, mas a maioria das brasileiras tem a comissão de trás naquele pique e quanto a isso, meu amor, eu sou a rainha!
Sou rainha de outra coisa também, mas vou deixar você aí na curiosidade. Mas vou avisando que tecnologia veio com tudo pra me ajudar sem eu saber.
Minhas frases são um sucesso, minhas músicas já foram melhores, sou guerreira e brasileira, sou dessa terra, essa terra que me faz ser quem eu sou, principalmente, quando vou com todas as minhas características representar o carisma do Brasil pelo mundo. Eu sou a melhor e não sou eu quem digo, no mínimo uma vez por semana eu devo passar pela sua tela e fico feliz por isso. E aí, quem sou eu?
Darlene Cook

A Fama do monstro

"Ela gosta é de aparecer, isso sim"
"Você acha? Ai sei lá, acho ela tão legal, descolada... mas me dá um pouco de medo"
Há 9 anos atrás, antes de a conhecer, esse era um diálogo  que eu costumava ouvir frequentemente. Todo mundo estava comentando sobre essa nova garota... E eu? Bom, eu ainda não tinha uma opinião formada sobre ela, mas de tanto as pessoas falarem acabei cedendo. Nos conhecemos.
Naquela época, ela estava vivendo um romance ruim com um garoto de olhos castanhos, sabe como é? Daquele tipo que só de ouvi-lo chamar seu nome já te faz ranger o dente.
Uma noite, cansada desse jogo de amor, ela pegou o telefone e me chamou pra sair, disse que queria apenas dançar. Estava tocando uma música retrô muito doida e haviam garotos, garotos, garotos por toda parte! Ela colocava o olho entre os dedos e fotografava todo momento na memória, como um paparazzi. Foi tão divertido, me sentia tão feliz que eu poderia morrer!
Depois daquela noite, a mim, ela era pareceu transparente. Desfilava sua carne exposta como uma ferida, irradiava tal como o rosto de um jogador de poker prestes a ganhar a partida. E finalmente pude entender toda a fama monstruosa que ela recebia e o impacto que ela causava de primeira vista, ela sabia do que diziam, mas não podia evitar, ela nasceu desse jeito.
Bluesgirl



Jogo de bReve adivinhação

Amigo leitor,
Venho com a função de intimá-lo para um breve jogo de adivinhações, preparado?
Escolhi alguém que não possui trabalhos feitos em 2019, pois está vivendo um período de “aposentadoria” antecipada, mas que de certa forma é reconhecida e lembrada desde os anos 80.
Tal pessoa faz parte da lista de pessoas mais aclamadas em Hollywood e certamente você já cansou de vê-la ocupando sua TV durante a sessão da tarde.
É um ser de cabelos mutáveis, por vezes castanhos, ruivos ou aloirados. Ao passo de uma marca fixa: o sorriso de um milhão de dólares.
Diverte na comédia romântica, emociona no drama e surpreende, verdadeiramente, no suspense.
Já teve seu nome estampado no topo de listas de artistas mais bem pagos e igualmente nas listas vazias de medida de beleza.
O papel que a projetou foge dos padrões de uma personagem feminina “ideal”. Era uma prostituta, contratada para passar uma semana ao lado de um empresário bem sucedido.
Creio que todo o jogo já foi entregue em suas mãos e que foi ainda mais fácil para os cinéfilos de plantão.


Emma

            Desabafo


 Oii, mamy
     Começamos mais uma turnê, estamos indo para a Londres. Estou no jatinho, por isso resolvi escrever esse e-mail, você sempre me dá colo quando preciso. Depois de dois meses viajando começa a bater o cansaço...Oh como meus pés doem, sem falar das minhas costas, alguém pode chamar a massagista por favor?
      A saudade dos três é o que mais me mata, sinto faltar de tomar café e brincar com eles, os gêmeos estão aprendendo a falar, e me sinto muito culpada por estar perdendo esses momentos, também sinto falta da senhora. Tem momentos que dá vontade de jogar tudo para o alto e voltar para casa e não soltar eles nunca mais.
      Todos aqueles prêmios na estante tem seu preço, não pense que foi simples, você mais do que ninguém sabe, pois acompanhou tudo e sabe como eu lutei para chegar até aqui, ser mulher e negra nessa sociedade machista, confesso que não é nada fácil, por isso sou feminista mesmo e levanto essa bandeira, ter a minha banda composta por mulheres é uma das minhas maiores conquistas.
       Acho que se alguém me contasse que cantaria para um presidente ou seria uma das celebridades mais poderosas do mundo não acreditaria com certeza, tudo isso até hoje me parece muito bizarro e inacreditável.
     Bem vou ficando por aqui,estou bem e de um beijo nas crianças por mim.

        Bjs Te amo
Harry Potter

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Ele sabe a hora de chegar. Sim, existem poucas pessoas que sabem realmente a hora certa de se colocar, não acham? Bom, mas essa pessoa não tem tal problema, ela sabe exatamente a hora de aparecer e de interagir com todos. Ah, tem isso também, ele interage com todo mundo, digo todo mundo mesmo... Pra ele não importa muito se é menina, menino ou se não é nenhum dos dois, ele ama falar com todo mundo. O que eu também percebo é que mesmo sendo muito sociável ele não é de falar muito, ele é mais daqueles que inicia o assunto, mas você pode ter certeza que no final ta todo mundo falando sobre ele! Falando bem ou mal? Então... Ele é daqueles que você ama ou odeia sabe? Oito ou oitenta. Mas pra falar com sinceridade eu acho que a maioria das pessoas ama ele, e mesmo aqueles que dizem não gostar sempre ficam intrigados com o seu jeitinho pra lá de peculiar. Falando nisso de jeitinho, outra coisa que eu acho que ele gosta bastante é de se exercitar. Ele ta sempre de bicicleta por ai, e acho que ele faz todo dia o mesmo caminho, e eu até já o ouvi cantar algumas vezes. Outra coisa muito marcante dessa figura é que ele tá sempre feliz. Sério. Ele ta sempre rindo e querendo fazer graça pra todo mundo,  mas é preciso o entender pra conseguir rir ao invés de se assustar. Então, chegamos a sua característica mais marcante: Espontaneidade. Aquilo que eu disse sobre ele saber aparecer nas horas certas só é possível graças a ele ser super expontâneo. Mesmo todo mundo sabendo que ele vai sempre estar por perto ninguém realmente sabe quando ele vai aparecer, e quando ele aparece... Ah! Essa é a hora que você se assusta ou que você finalmente ri. Também pode ser que você se assuste e depois caia na gargalhada. Ou então, é a hora que você fica bravo e depois intrigado, já que você não entende como um homem pode aparecer do nada e te dar um susto desses, já que você tinha certeza que aquele som, no meio da Cantareira, não podia ser um latido. 

Aurélia Sen 

Confesso

O padre já estava quase indo embora quando a porta à sua esquerda no confessionário se abriu, frestas de luz pipocando o ambiente. Um homem aparentemente elegante, de terno e gravata, havia se sentado. Não conseguiu ver seu rosto, mas não fazia diferença. Muitas vezes os traços físicos enganavam, mas os pensamentos transcritos em falas sinceras eram incapazes de serem maquiados.
“Boa noite, meu filho”
“Boa noite, padre”, responde uma voz grave, meio rouca, quase sussurrada. Aquelas palavras, tão normais, desceram como um calafrio pela espinha do sacerdote. Culpou o frio pela estranha sensação e seguiu em frente.
“Como posso te ajudar?”
“Ah... Eu tava pensando no rumo que a minha vida tomou, sabe? Sei lá, lembro de quando eu era pequeno, radiante... Carregava tanta luz... Lembro de brincar com meus irmãos… A gente tava sempre junto, sempre atrás do pai. Aí fiquei mais velho. Era adolescente, discordava do velho em várias coisas e me rebelei. Fui expulso da casa dele”, era possível ouvir o desgosto em sua voz, mas tinha algo mais ali. Diversão?
O padre pensou em dizer que sentia muito pela triste situação, mas se impediu quando ouviu uma risadinha.
Era impressão dele ou o ar tinha ficado mais pesado desde que o outro chegara? Não sabia ao certo o que era, mas algo na voz do estranho o fazia se sentir mal, desconfortável. Ou talvez fosse o modo como falava, desdenhoso. Percebeu que queria logo sair dali, mas era sua obrigação ouví-lo até o final.
E você não se arrepende disso?”, perguntou em uma tentativa de agilizar a confissão.
Padre, pelo amor… Apenas escute!”, o homem socou a parede que os separava, sua voz áspera, ríspida, agressiva. Uma onda de medo percorreu todo o corpo do clérigo. Sentiu-se ameaçado, como se estivesse cara a cara com um animal selvagem que poderia atacar a qualquer palavra errada sua. Decidiu se manter em silêncio, uma gota de suor frio escorrendo por sua testa.
Uma pausa.
“Fui morar sozinho, criei asas. Me envolvi com diversas mulheres, o que também me concedeu chifres. Que ótima combinação, né? Foi o início de meus dias sombrios, certamente. A partir daí criei um gosto pelas coisas… erradas, de acordo com meu pai. Ah, bons tempos… Hoje tá tudo diferente.”
O dono daquela voz que deixava o pobre padre enjoado suspirou antes de continuar.
“Confesso, me tornei inútil. Os humanos fazem merda sozinhos, estão num piloto automático de destruição. Não me entenda mal, eu acho ótimo! Mas só fico assistindo de longe. É tedioso! E se tento persuadir alguém, é fácil demais. Não existe mais o desafio.”
Humanos?! O coração já frágil do padre parecia à ponto de explodir. Aquilo só podia ser uma brincadeira doentia de algum louco… Tinha de ser. Mas então porque ele sentia o temor tomar completamente conta de seu corpo?
“Quem é você?”, sua voz vacilante conseguiu perguntar.
“Ah, padre… Isso não é óbvio?”
O silêncio que se seguiu foi perturbador e só foi quebrado pelo som da porta do confessionário se abrindo, seguido pelo som de passos ecoando pelo chão da catedral. Passos que pararam em frente à porta que revelaria o padre a quem ou o que quer que tivesse passado os últimos minutos conversando com ele. O sacerdote estava em choque. Não conseguia mover nem um músculo sequer. Sentiu aquela presença do lado de fora e sentiu quando uma mão segurou a maçaneta e a girou, retirando a única coisa que os separava.
Souza Queiroz

Cada geração com seu cada um!

 Renata mal tinha chegado a casa e já ouvia sua irmã chorando, com a usual indignação pela mãe não a deixar ir ao show dos tais coreanos e bla bla bla. A criatura só tem 10 anos, mal sabe o que é ser fã de alguém.
-Cheguei mãe!- Renata entrou na sala em tempo de ouvir a porta do quarto batendo- Essa garota ta ficando cada vez pior, aff! Não entendo essa idolatria.
  Dona Irene olhou descrente pra ela e argumentou sobre ser uma fase.
-Que fase o que! Esses garotos nem são interessantes...
-Pode parar por aí Renata, se eu bem me lembro, você era bem mais obsessiva em 2010!
-Que? Ta doida!
-É... Qual era o nome dele?- Ela fez força pra buscar na memoria  –Nossa, você e suas amigas eram loucas por ele...
  Renata revirou os olhos prevendo o que estava por vir, porém orgulhosa demais para sequer contribuir para aquela humilhação.
-Não sei do que está falando...
-Claro que sabe! Você tinha fotos da criatura por toda parte, e as dancinhas... Naquele vídeo com o menino do karatê kid...
-Mãe... – Renata tinha assumido um tom suplicante.
  Nesse ponto a mãe já estava indecisa se ria ou continuava seu apelo ao passado.
-E tinha aquela musica... – e soltou uma gargalhada estridente-Beibi..?
Renata tinha desistido de se defender.
-AH MEU DEUS! Ele também tinha uma franja... Igualzinha dos coreanos.
-Era bem mais bonita okay?!- A pobre adulta tentando defender a criança resguardada dava-se por vencida.
  Enquanto Irene deliciava-se com as próprias risadas, Renata lamentava o próprio passado e todo o dinheiro que gastou em pôsteres e que ainda lembrava todas as letras de todas as musicas. Mas então quando a mãe se acalmou, ela trouxe a tona:
-Mas mãe como era mesmo o nome daqueles cinco garotos da década de 90? Back... Boys...

Margo Blue


TOCA **** !!

Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada.
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou para ouvir, ele agradeceu as moedas e...
            “E...”
            Só preciso ir até ai com esta história. História de um homem, que num outro momento do Brasil era capaz de se expressar e encantar a todos com seu jeito falar. Com seus trejeitos e roupas caricatas era impossível confundi-lo com outros, ele definitivamente não se encaixava no “normal”. Era único. Era de fato, de uma Sociedade Alternativa.
Acreditava em sua geração, a geração da luz. E como muitos outros da sua área na época, estavam lá para dar forças ao povo seguir forte contra o governo autoritário vigente. Não deixava que uma mosca em sua sopa pudesse estragar o todo.
Ainda no auge de seu sucesso carregava sua terra natal, Salvador, muito próximo de si. Seu estilo conhecido caracterizado como contestador e místico já era, logo no começo, bem chamativo aos olhos do publico. Mesmo com sua cara de maluco, era um estudioso de filosofia, historia e línguas, e com todo seu talento conseguia mesclar seus conhecimentos com seu trabalho, ainda que isso não fosse de conhecimento geral.
            Cantou para morte, tem mais de dez mil anos, é um fora da lei, tava lá quando a terra parou e tinha um amigo chamado Pedro.
Agora. Se você ainda não sabe de quem estou falando, me desculpe mas...
            ...Tente outra vez.
João Frango

Eloquência


Dentro do espectro, você é um paradoxo
E talvez o paradoxo tenha contribuído para o que ocorreu
Afinal, o público não lhe compreendeu?
Ao final, você se perdeu?
Ouvi dizer que muitos morrem pela boca
Escutei por ai que o dinheiro é o hino do sucesso
Então, aquela ideia ficou oca?
Os ventos trouxeram o recesso...
Talvez tenha faltado um tradutor
Pois sua eloquência era espetacular
Demais para um público com fervor
Faltou privatizar?
Com a sutileza de um furacão
Você fez aquela exaltação
Num momento bem errado,talvez
Ou talvez fosse melhor recebida em 1823
Ou não...
Ser eloquente é um dom,uma dádiva,ou um talento?
Ou todos?
E quem discorde, que atire a primeira pedra,ou o dobro,ou o triplo
E que se encerre o ciclo
Não há nada na Constituição sobre tal julgamento
Ser eloquente é ser incompreendido?
É sentir-se perdido?
Talvez naqueles semestres
É difícil lidar com humanos
Por isso prefiro os extraterrestres
Afinal, o paradoxo era tão paradoxal assim?
Ouvi dizer que você é lá daquela terra
Afinal, pra que tantos "ouvi dizer"?
É poema ou é canção?
Afinal, pra que tantos "afinais"?
Final só tem um...

Olhando, agora pelo retrovisor,
Vejo que o último verso careceu de rimas
Careceu da questão "pra que tantos ou's?"
De uma conclusão
Afinal,e se fosse canção?
Teria sido diferente então?
Sua eloquência teria sido melhor compreendida,não?
Por que não?
Faltou compreensão?
Então...

Máximo

O Anúncio

Nelson e Nestor olhavam o tumulto, intrigados.
- Coisa estranha, né?! - comentou o primeiro.
- Né! – concordou o segundo em tom de questionamento.
- Já faz um tempo que tá desse jeito aí, um monte de humanos. – Continuou Nelson, mexendo a cabeça de um lado para o outro.
- Tá vendo alguma migalha no chão? Eu tô com fome. – disse Nestor.
- Num dá nem pra ver o chão, ainda mais se tem migalha.
- Aquela menina ali tá comendo pipoca. Lá no colo da moça, aquela com uma luz na mão. Ah, pipoca! Adoro pipoca. Mas ela num vai dá pra gente. Só ficam olhando lá pra cima.
- Ainda num entendi porque esse bando de gente tá aqui. Vamo olhar mais de perto.
Nelson bateu as asas até o outro lado da praça e pousou numa estátua, virado de frente para uma janela. Nestor tentou acompanhar e pousou ao lado do irmão.
- A gente ficar mudano de lugar num vai matar minha fome.
- Fica quieto!
A multidão entrou em alvoroço. A janela estava se abrindo, os flashes brilhavam pelo ar. Um sujeito de estatura baixa surgiu erguendo a mão. Ele parecia saudar a multidão que estava à sua espera. Uma multidão que nunca tinha esperado por ele antes. Estavam lá justamente para conhecê-lo.
- Ué, mas ele nem tá comendo pipoca, porque isso aí tudo? – Disse Nestor.
- Vai ver ele começa a jogar migalhas de pão lá de cima, quem sabe!?
A ideia de distribuir pão, na verdade, fazia mais sentido do que Nelson e Nestor poderiam imaginar. Aquilo não estava tão distante da realidade do homenzinho que o mundo aguardava para conhecer. Era alguém com certa serenidade, calma e ar de timidez. Traços de sabedoria também pareciam recair sobre seu rosto, levemente enrugado, mas poderia ser apenas um alarme falso em vista de sua idade. Ainda era cedo para dizer quais seriam os rumos que aquela pequena figura recém descoberta, encarada pela multidão, poderia traçar com suas vestes brancas.
As nuvens se condensaram ainda mais e o vento ficou mais forte. Os dois irmãos, no alto da estátua, sentiram o vento frio e algumas gotas d´água encostarem suas penas claras.
- Vamo saí daqui, Nestor! – E começou a voar para o lado oposto da praça.
Nestor decolou seguindo o irmão e reclamando dos roncos de sua barriga.
- Espero que esses chuvisco afaste essa turma daqui. - disse ele.
Enquanto sobrevoavam a multidão, um a um, dos mais variados guardas chuvas, foram se abrindo dentre as pessoas, espalhando várias cores ao longo do espaço. Ninguém queria mover um só passo. Pelo menos, não enquanto o pequeno homem no alto da varanda não fizesse seu primeiro discurso. Principalmente em meio a certas polêmicas que a instituição enfrentava naquele momento.
Os dois irmãos se esconderam debaixo de uma marquise com vista privilegiada do púlpito que havia sido preparado exclusivamente para o recém-nascido. Ele caminhou silenciosamente até o local, ajeitou os óculos no rosto e observou as pessoas por um tempo. Os flashes das câmera eram incessantes e os rostos alegres e curiosos se espelhavam dentre os guarda-chuvas. O homem sorriu para as pessoas que estavam naquele espaço aberto e começou seu discurso. Numa língua que Nelson e Nestor eram incapazes de compreender. Pareciam sons repetidos e sem sentido, tal qual os gatos e cachorros faziam.
- Acho que gostaram dele. – comentou Nelson, balançando a cabeça.
- Tá com tique de novo, mexeno o pescoço.
- Ué, mas você também faz isso. Todos nós fazemos. É coisa de família, né não!?
Ficou alguns segundos em silêncio e continuou.
- Será que todo mundo aqui é da família dele? Daquele que tá falano?
Nestor olhou ao redor. O tom de voz do homem de vestes brancas era baixo. Os tons de sua voz não pareciam ter grandes variações. Mas independentemente do que ele dizia, os milhares de fotógrafos e guarda-chuvas, ouviam atentamente e o semblante de cada um era pacífico.
- Num sei. Parece que não, mas estão olhano ele como se falasse pra todos. Igual a gente, como se as pessoas todas fossem irmãos.
- Uau!  - exclamou Nelson e continuou – Você fala só besteira quando tá com fome, né!?
- Foi isso que eu entendi, ué.
Os dois discutiram por um tempo. A chuva cessou e o discurso chegou ao fim. O homem de branco agora era conhecido pelo mundo todo. Tinha dado seu recado para todos e revelado seu novo nome. Sim, ele tinha dois: um de batismo e outro inspirado em alguém que era um referencial para ele. Um nome que nenhum antecessor tinha escolhido.
O público aplaudiu e os irmãos e voaram para longe, cruzando a multidão mais uma vez e saindo das fronteiras do menor país do mundo.
Desde aquele dia, muito se ouviu falar do pequeno homem pelo mundo afora. Logo foi revelado seu estilo de vida simples e forte engajamento para questões internacionais. Se envolveu em pequenas polêmicas e conseguiu ganhar um rótulo de ser moderno, mesmo com atitudes ditas “conservadoras”, como já se esperava de sua parte. Conseguiu a admiração de muitos e se tornou popular. Mesmo sem gravar discos e participar de programas de TV, como alguns membros de sua instituição costumam fazer no Brasil.
Nelson e Nestor ainda não presenciaram outro momento como aquele. Nem ninguém, desde então. Mas o homem de roupas brancas voltou várias e várias naquela varanda. Assim como os irmãos.
Um dia, decidiram se arriscar e pousaram na varanda. Bem na hora em que o homem havia terminado de falar. O senhor se virou para os dois e abriu um sorriso.
- Ah, vejo que vocês voltaram! – falou o homem. – Estava me perguntando se apareceriam novamente.
Ele pegou alguns papéis que estavam no púlpito. Desdobrou um jornal italiano que estava no meio deles e observou a fotografia impressa ao lado da manchete.
Era uma imagem dele próprio no alto da varanda, daquela noite chuvosa com dois pombos brancos cruzando o céu. “Era um sinal de paz, do espírito santo”, pensou o homem. Ele dobrou o jornal e se recolheu em seus aposentos com a meta transmitir uma mensagem de paz para o resto do mundo.

P.J. Souza