Diário da Sushi #1
Rio de Janeiro, 18 de
setembro de 2019,
Querido diário...
Hoje estava conversando com uma amiga evangélica, dessas
de igreja pentecostal, sobre como estou sendo iludida pelo menino que eu gosto.
Outro dia, ele me levou para a aula de poesia dele e disse que me amava
enquanto assistíamos o pôr do sol. No dia seguinte, ele estava com outra garota
numa festa na Lapa. Minha amiga se assustou e perguntou porque eu ainda gostava
dele e eu, como sempre, culpei o signo.
"Sou de peixes, nasci para ser otária mesmo!"
Eu tinha esquecido com quem estava conversando, minha
amiga rapidamente trocou o assunto para falar sobre uma menina da igreja que
ela não gosta. Para ela, astrologia é coisa do demônio. Não, pior! É coisa de
esquerda! Mas o que não é de esquerda em tempos que até o presidente da França
é comunista? Discordar do Mito cristão se tornou algo subversivo. C'est la vie.
Toda aquela situação me fez ter curiosidade sobre o signo
da minha amiga, então tratei de procurar no Facebook. Claro, virgem! Sempre os
virginianos! Virgem sempre me assombrou e sempre vai me assombrar. Virgem é o
oposto complementar de peixes. Sem virgem, não há peixes. Sem peixes, não há
virgem. Preto e branco. Seco e molhado.
Peixes é complexo, virgem é prático.
Peixes é intelectual, virgem é cientista.
Peixes é de humanas, virgem é de bem.
Peixes é balbúrdia, virgem é ordem e progresso.
Peixes é esquerda, virgem é virgem.
SUSHI
SASHIMI
Esqueceu de citar que assistir ao pôr do sol na praia também é coisa de comunista! rs
ResponderExcluirBrincadeiras à parte, é impressionante como conceitos contrários ao conservadorismo são diretamente relacionados a esse imaginário inimigo. Para não virar Venezuela ou Cuba, vale comunizar a astrologia, mesmo sendo um dos gurus dessa nova era um Astrólogo, a França, a Coca-Cola e o que mais se quiser. Adorei!
Virgem é virgem.
Adorei a temática e como tu conseguiu relacionar os elementos do texto. Muito bom!!
ResponderExcluirLeve e de uma ótima temática. Parabéns!
ResponderExcluirTexto bem limpo visualmente e agradável de ler. Conseguiu expressar a sua insatisfação sem se perder pelo caminho. Parabéns também pelo uso da repetição!
ResponderExcluirO tom de confissão de um diário e a mescla com uma perspectiva da astrologia traz uma certa imaturidade a um tema tão complexo e sério, até mesmo pelo fato desse tema necessitar de uma visão um pouco mais cética e não uma culpabilização dos signos, mas entendo ser uma escolha narrativa. Senti falta de um aprofundamento e uma problematização maior para o tema proposto. Contudo, a ideia do diário continua sendo criativa. C'est la vie.
ResponderExcluirAchei demais você usar astrologia e conectar com a essência do tema e da problematização. Como sempre demais.
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