sexta-feira, 20 de setembro de 2019


espelho
 

"filho de peixe, peixinho é."
ta aí, sempre fiquei puta quando me comparavam com meus pais. e nisso a gente entra em uma confusão danada porque eles, com todos os defeitos, tem qualidades que seriam de certa forma uma honra ser comparada a eles. mas sendo como eles eu deixo de ser eu.
é que agora eu to aprendendo que não existe essa de ser autêntico e isso é uma parada que colocaram na nossa cabeça mas pô não quero ser como eles não. meu pai é um racistinha de merda "preto é muito folgado" meu deus eu nem sei quantas vezes eu ouvi isso e pensava "não quero ser como ele". aí tem minha mãe. meu deus. tem minha mãe. ela tem tantos preconceitos que não consigo enumerar. imagina uma menina no auge dos seus 15 aceitando sua orientação sexual e ouvindo que as roupas que ela ta passando a usar são de meninos e que isso é feio. errado. "você deveria se arrumar mais", "esse vestido ficaria lindo em você", "quer esse saltinho?" não mãe. não. por favor. não.
e jovem também tem dessa de querer parecer com os outros. ok vou problematizar isso espero que você me acompanhe. toda menina que eu dava like no tinder parecia com a pessoa que eu gostaria de ser. branca, mesmo tipo de cabelo, consideravelmente boa de vida, cara blasé mas não tanto. aí irmão quando eu percebi isso foi uma baita crise de identidade. eu sempre tenho na real. e eu nunca dava certo com nenhuma delas. aí eu me tornei uma delas. e adivinha? continuei não dando certo com nenhuma delas.
comecei isso aqui falando dos meus pais e to agora falando da minha situação amorosa. eu sou uma piada. mas a real é que muito do que eu sou na vida amorosa é graças aos dois. que freud não escute por favor. eles tão juntos faz 32 anos. 32 anos. 32 é quase o dobro da minha idade cara. meu pai presenteia minha mãe toda data comemorativa. natal, páscoa, dia das mães, dia dos namorados e o aniversário dela. quero ser como ele quando gostar de alguém. quero que a pessoa que eu gostar seja como ele. e minha mãe, ela tá sempre com ele. julgando de certa forma mas sempre com ele. pra consertar as merdas que ele faz. 32 anos. quero ser como ela quando gostar de alguém. quero que a pessoa que eu gostar seja como ela.

                                                                                                           Ben

7 comentários:

  1. Adorei o texto, realmente me prendeu, até porque me identifiquei em alguns aspectos. A forma como você escreve, sem letras maiúsculas, para mim expressa um ar de fluidez, é como se as palavras surgisse em sua mente e você tivesse que escrever rápido antes que elas lhe escapem.

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  2. Em certo momento de nossa adolescência, percebemos que nossos pais não são heróis, mas humanos imperfeitos como todos, o que talvez nos faça querer ser, não o reflexo, mas o oposto de suas imagens. Essa relação entre amor/ódio, admiração/desgosto é inexplicável, mas você consegue retratá-la perfeitamente. Texto muito Ben escrito. Amei!

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  3. Seu texto consegue transmitir de forma simples e eficiente essa dualidade entre "querer" e "não querer" ser como os pais. Acredito que muitos passam por esses questionamentos e sua crônica expõe isso muito bem. A ideia de escrever sem letras maiúsculas também é algo bem característico. Acho que deveria manter o estilo. Só diria pra tomar um cuidado a mais com a pontuação. Imagino que possa ter escrito com uma certa ansiedade para deixar as ideias fluírem, mas procure dar uma revisada no fim. Por exemplo: faltou a vírgula em "dobro da minha idade, cara" ou "que freud não me escute, por favor.". Pode ter sido proposital, não sei. Só achei válido ressaltar porque perdi o ritmo na leitura. Ah, e não sei se peguei relação com a proposta da aula... Independente disso, como falei no começo, gostei de seu texto e da facilidade com que expôs sua ideia. A primeira frase foi ótimo começo com o ditado do peixinho! Espero que meu (exagerado) cometário te ajude de alguma forma. ;)

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  4. Gosto muito da utilização de letras minúsculas para construir a estrutura da crônica e da leveza com que você transmite o que sente. Parabéns!

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  5. Esse texto transmite muito sentimento e acredito que tenha sido quase como um desabafo. Não precisamos ser como eles. Sua escrita informal me traz uma naturalidade tal como uma conversa entre amigos. Continue assim..

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  6. Eu consigo me identificar bastante com esse seu texto, principalmente porque você exemplificou muito bem o que todo jovem sente em relação aos pais. Além disso, também adoro o estilo que você estabeleceu utilizando sempre letras minusculas, acho que os seus textos são os mais originais da sala, apesar de sempre apresentarem essa estrutura "simples"!

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