copacabana, posto 6.
oi, com
licença.
é uma honra
finalmente te conhecer pessoalmente. ou quase. escuto sobre você desde a sétima
série. desde aquela apostila de português que a prefeitura mandava. lembro da
sua poesia. lembro quando a professora leu e eu não entendi nada.
que caralho
de tantas pedras são essas, porra.
aí eu cresci
e entendi. deus sabe que eu não queria ter entendido mas entendi. não aguento
mais tantas pedras no meio do caminho cara. inclusive, acho a maior sacanagem
você não ter sido feito de pedra. te fizeram de bronze. bronze cara. nem pra
ser de ferro igual naquele seu poema sobre itabira:
"por
isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
noventa por
cento de ferro nas calçadas.
oitenta por
cento de ferro nas almas."
ih agora que
reparei. você tá sem seus óculos de novo cara. outra sacanagem que fizeram
contigo. tudo bem, amanhã já devem te conseguir outro. mas aí semana que vem já
vão ter te roubado de novo. vacilo isso que eles fazem contigo. logo você que
gosta de ver tudo e questionar tudo. logo você que tá aqui em uma das praias
mais famosas do mundo e aí junta duas atrações em um lugar só. não sei, eles
tão me olhando feio. devem querer tirar foto contigo e eu tô aqui falando e
falando e olha que eu nem sou de falar. sei lá, você com esse seu banquinho
aqui e com essa paisagem me da vontade de te contar minha vida toda.
aí cara, vim
aqui porque tô me sentindo igual ao josé. sentimento de solidão. abandono na
cidade grande. sem saber que caminho seguir. eu lia esse poema na escola e
achava o josé um alcoólatra desgraçado. agora eles tão me olhando como se eu
fosse um. e talvez eu seja.
desde quando
virou crime conversar com uma estátua?
Ben.
O seu texto sem dúvida foi o mais inusitado. A criação do seu diálogo com uma estátua foi bem atípico e a maneira como descreve a percepção das pessoas ao ver a cena consegue evocar um pouco de humor. Não precisa colocar essa pergunta no final, acredito que deixar apenas subentendido o diálogo com um ser inanimado promoveria um efeito melhor. E sinceramente adorei a referência ao "E agora, José?", meu favorito do Carlos Drummond de Andrade.
ResponderExcluirEu me identifiquei muito com a crônica. Amo criar diálogos imaginários com seres inanimados só pra dizer a mim mesmo que falo com eles e não sozinho. Amei a sutileza e a genialidade do humor ao associar os óculos frequentemente roubados à visão de mundo do poeta e, talvez pelas inúmeras pedras no meio do caminho, de admitir que talvez tenhamos nos tornado Josés.
ResponderExcluirParaBENs pelo texto!
Esse texto ficou muuuuuito bom kkkkkjk como de costume né Ben? A sacada de utilizar a estátua para a descrição por meio de uma conversa foi genial! Parabéns pelo excelente texto.
ResponderExcluirSua crônica é, sem dúvidas, uma das mais criativas! Amei a construção da descrição do personagem, através do diálogo!
ResponderExcluirA construção do texto é ótima, o encontro dos universos (a praia, a literatura e as memórias) foi uma estratégia muito bem utilizada, deu um aspecto lírico que enriqueceu muito a crônica, parabéns.
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