quinta-feira, 12 de setembro de 2019


Meu 2018

  Foi em meio à histeria de lados opostos querendo vez para gritar no microfone da verdade, que tive meu ano mais sombrio. Em 2018, peguei-me escrevendo no meu diário sobre depressão e deixar de existir. Aquele ano parecia rasgar cada fio tecido cuidadosamente para me sustentar sob minhas inseguranças e medos, mesmo que fossem irracionais.
  Cada professor do ensino médio parecia me estapear a face com as palavras “a vida não espera”, e em cada esquina se revelava mais uma pessoa confiante em mostrar o quão cobertos de ódio eram seus pensamentos. Assim, a cada dia, a esperança parecia deixar meu coração. Minha alma se enchia de angustia à medida que os dias difíceis chegavam, um ano de duas escolhas importantíssimas, uma para definir o futuro da nação e outra para rumar minha vida. Uma delas não era só responsabilidade minha, mas a outra caiu sobre minhas costas com um peso que nem a água fria do banho no fim do dia carregava pelo ralo.
  A decepção comigo mesma pairava no ar que eu respirava como cinzas sobrevoando o ambiente após o incêndio. Mas não havia fogo dentro de mim, só um pesar, que se externalizava como podia e sempre que eu fraquejava em impedir. Por vezes na volta para casa eu sentia os pensamentos se misturarem e os óculos embaçarem com as lágrimas invisíveis que são despejadas no transporte público.
  As coisas só pioraram com a proximidade daqueles dois dias de novembro, ainda mais depois de outubro. A falta de ar já não era só interna e restrita ao meu eu, ela também alcançou meu corpo, e o medo se tornou um companheiro soturno e onipresente.
  Mesmo assim meu 2018 foi silencioso e estampado com diversos sorrisos que secretamente significavam uma oração à um Deus que fosse misericordioso e capaz de mais uma vez permitir que o amor e a luz encontrassem seu caminho de volta. E como sempre fui, apesar de tudo, uma pessoa de fé, minha última lagrima de 2018 foi uma reza por tempos melhores e propícios para tecer novos fios.
Margo Blue

2 comentários:

  1. absurda essa pressão que colocam na gente. ótimo tema.

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  2. Também já passei por isso, Blue... foram dias, semanas e meses bem difíceis mesmo. Parabéns pelo texto!

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