quinta-feira, 12 de setembro de 2019

A inimiga da despretensão
9h12, 9h27, 9h36, 9h45...
De horários quebrados nunca gostei - só nos casos de atraso, mas penso que esses talvez me sejam impostos. Agora você deve estar se perguntando se 9h45 é mesmo um horário quebrado e não, ele não costuma ser encarado como um, mas a partir dele só se tem 15 minutos para a próxima hora... 15 minutos que, para mim, muitas vezes não são nada - a não ser que esteja atrasada, o que quase sempre acontece, mesmo sem que eu saiba ao certo, mais uma vez, se por conta própria.
Tic-tac, tic-tac, tic-tac...
Assim faz o relógio in-can-sá-vel-men-te. Assusta, mas posso dizer que ele, muitas vezes, se assemelha ao nosso pensamento. Automático, sem de fato ponderar, ou também, ponderar demais... Notas mentais: vou à praia, quanto tempo tenho para ficar por lá? Separar uma hora para andar de bicicleta e duas para conversar - con-ver-sar, mesmo! Preciso aproveitar, afinal, é o tempo que tenho para isso - o tempo, de novo...
 Ao final, percebo que me preocupei tanto em desfrutar de minhas horas livres que acabei não as utilizando plenamente. Não, eu não senti as gotinhas do mar a percorrer seus caminhos vivazes pelo meu corpo... Não, eu também não compreendi por inteiro a imensidão do encontro dos grãos de areia, em seus conjuntos tão ásperos, com a sola dos meus pés e, para os mais ousados como eu, com a superfície de minhas mãos... Também não prestei atenção nos choques suaves dos ventos com o meu rosto e fios de cabelo. Nós entendemos a importância e sentimos a urgência, mas simplesmente não conseguimos mais (re)agir naturalmente... Então, passamos a viver "quando dá", por entre as brechas do dia a dia. Uma, duas, três músicas tranquilas no vagão, - não escuto uma última quando sei que ela terá de ser interrompida - às vezes alguns artistas de rua aparecem também, e cantam, dançam ou recitam alguma poesia... É quando, após relances descompromissadamente fomentados pela curiosidade, nos pegamos acompanhando-os e, assim, nos deixamos ser tocados. Então ouço risadas, que juntas soam ainda melhor, e ainda arrisco apontar possíveis lágrimas dos mais emotivos - como eu, felizmente. Simples gestos - tanto os de ação quanto os de reação - que parecem nos retornar, de alguma forma, o sentido que volta e meia perdemos pelos caminhos tão oscilantes e exigentes da vida... É óbvio que por pouco tempo.
 Testemunhamos reencontros na Uruguai, lembramos de alguém que também sentimos falta... Melhor checar em que estação estamos! Ficamos por dentro de algumas histórias de amor na Carioca, lembramos de quem amamos... Talvez no fim de semana! O fim de semana... A vinda pela qual vivemos esperando, para só assim, então, de fato viver. Prazos, reuniões, tarefas... "Próxima estação: Botafogo! Estação de transferência entre as linhas 1 e 2...", assim, a voz mais familiar deste espaço me indica que o nosso tempo acabou e eu nem ao menos conheci você... Talvez no próximo fim de semana! 
Tic-tac... Cinco para meio-dia? Mais fácil esperar pelo encontro dos ponteiros.
Annie Drao

2 comentários:

  1. O tempo realmente é um assunto extenso e a falta dele em alguns momentos de nosso dia-a-dia rendem mais coisas ainda, como sua crônica, talvez. Gosto da temática, mas confesso que me perdi um pouco com a proposta exposta na aula. O "assunto geral" seria a falta de tempo e o pessoal, a forma como você lida com ela? Para além do meu questionamento com a proposta, sua crônica me fez pensar sobre essa "correria", na qual vivemos e acho que seria um bom caminho explorar isso de forma mais pontual, ou ritmada. Gosto muito de frases ou pensamentos "jogados" no texto, como "Melhor checar em que estação estamos!". Mas vi alguns problemas no ritmo do texto. Acredito que ele poderia ser mais curto e que algumas frases literais pudessem ser expostas com novas "frases jogadas", ou "acontecimentos". Por exemplo, no início terceiro parágrafo você não precisa dizer se preocupou no que fazer com as horas livres e acabou não fazendo nada. Apenas coloque uma frase que transmita a ideia de "preciso organizar minhas horas livres", e posteriormente, um fato que dê a entender que as horas livres foram desperdiçadas. Bom, espero que meu comentário do tamanho de uma crônica te ajude e que você tenha tempo de ler, é claro! ;)

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  2. Oi, P.J. Souza! Desculpe a demora para a resposta. Sim, o assunto geral seria a falta de tempo, mais especificamente daquele intitulado como "tempo de qualidade", aquele em que realmente vemos e sentimos o que estamos fazendo, no qual somos capazes de lembrar de nosso propósito. O pessoal você também aferiu corretamente, ele trabalha a forma como "encaramos"/lidamos com o tempo (no plural porque esse nunca deixa de ser um assunto de todos), e a forma com a qual esse, por sua vez, nos afeta (principalmente psicologicamente). Partindo para outro ponto questionado, quanto a essa parte de seu comentário: "... sua crônica me fez pensar sobre essa "correria", na qual vivemos e acho que seria um bom caminho explorar isso de forma mais pontual, ou ritmada.", posso te dizer que a falta de ritmo foi intencional... Com ela busquei representar a correria mesmo, a correria do CORPO INTEIRO... - por isso os pensamentos jogados no texto. Nós fazemos uma tarefa já pensando na próxima, certo? Foi isso que tentei representar, por isso tantas frases soltas que, de certa forma, quebravam algum raciocínio. Quanto ao último ponto ("...você não precisa dizer se preocupou no que fazer com as horas livres e acabou não fazendo nada."), quis deixar bem clara e pontuada essa passagem porque ela também representa muito bem o nosso fluxo de pensamentos acelerado e a ansiedade que acompanha, atrapalha e ESTAGNA tanta gente em suas respectivas - e corridas - rotinas. P.J. Souza, espero ter conseguido esclarecer pelo menos algumas das escolhas feitas por mim para a construção desse texto... Muito obrigada pelo comentário (!!!) e saiba que estou aberta caso novos questionamentos e pontos surjam!

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