Joia de Família
Família sempre foi um assunto complicado para mim. Eu nunca quis ter muito contato com meus pais, pois não queria ter o trabalho de mostrar o meu verdadeiro eu. Era mais fácil ser presenteado sendo quem eu deveria ser. Por outro lado, meu pai e minha mãe constantemente tentavam se aproximar de mim e construir uma relação mais afetuosa, mas esse achegamento nunca foi bem sucedido e essa proximidade nunca existiu. Porém, mesmo com os obstáculos que eu colocava no caminho, eles nunca desistiram.
Geralmente, me perguntava o motivo da existência dessas barreiras na nossa relação e chegava a algumas respostas fáceis de acreditar. Na primeira resposta eu culpava as próprias relações tóxicas dos meus pais com suas respectivas famílias, as quais eu não pretendia espelhar. Logo, para evitar uma relação tóxica, eu preferia não ter relação nenhuma, ou quase nenhuma. Já a segunda resposta era ainda mais reconfortante, ela se relacionava com a ideia de que “eu era assim” e não precisava da família para além das formalidades de viver em sociedade.
Entretanto, em 2014, essa dinâmica começa a se transformar. Enquanto o Brasil ia às urnas eleitorais escolher pela continuidade da presidenta da república, minha mãe optava pela ruptura do casamento com meu pai. A princípio, isso não me afetou tanto, eram tempos de continuar a caminhar, caminhar para a esquerda. O meu objetivo era continuar meu percurso longe deles, principalmente da família estendida, com quem eu tinha pouco em comum além dos laços de sangue. Dessa forma, nos anos seguintes, quando o conservadorismo teve a sua emergência gradual no país, eu estava longe demais dos meus pais para poder fornecer algum tipo de resistência dentro da minha própria casa.
A partir desse ponto, o antigo apoio incondicional que eu recebia já apresentava uma série de novas premissas e o esforço de aproximação por parte deles já era consideravelmente menor. Dentro dessa situação, recentemente, meu tio me deu uma joia de família que, segundo ele, eu mereço e que antes pertencia ao meu avô e, antes disso, ninguém sabe. Receber esse anel me deixou feliz durante algum tempo, me trazendo uma ideia de pertencimento e de unidade familiar. Apesar disso, esse presente só foi dado porque eu censuro minhas atitudes e opiniões para me relacionar com eles, visto que não quero criar um ambiente conflituoso.
Não é um presente por quem eu sou. É um presente por quem eu finjo ser.
SUSHI SASHIMI
Joia de Família
Família sempre foi um assunto complicado para mim. Eu nunca quis ter muito contato com meus pais, pois não queria ter o trabalho de mostrar o meu verdadeiro eu. Era mais fácil ser presenteado sendo quem eu deveria ser. Por outro lado, meu pai e minha mãe constantemente tentavam se aproximar de mim e construir uma relação mais afetuosa, mas esse achegamento nunca foi bem sucedido e essa proximidade nunca existiu. Porém, mesmo com os obstáculos que eu colocava no caminho, eles nunca desistiram.
Geralmente, me perguntava o motivo da existência dessas barreiras na nossa relação e chegava a algumas respostas fáceis de acreditar. Na primeira resposta eu culpava as próprias relações tóxicas dos meus pais com suas respectivas famílias, as quais eu não pretendia espelhar. Logo, para evitar uma relação tóxica, eu preferia não ter relação nenhuma, ou quase nenhuma. Já a segunda resposta era ainda mais reconfortante, ela se relacionava com a ideia de que “eu era assim” e não precisava da família para além das formalidades de viver em sociedade.
Entretanto, em 2014, essa dinâmica começa a se transformar. Enquanto o Brasil ia às urnas eleitorais escolher pela continuidade da presidenta da república, minha mãe optava pela ruptura do casamento com meu pai. A princípio, isso não me afetou tanto, eram tempos de continuar a caminhar, caminhar para a esquerda. O meu objetivo era continuar meu percurso longe deles, principalmente da família estendida, com quem eu tinha pouco em comum além dos laços de sangue. Dessa forma, nos anos seguintes, quando o conservadorismo teve a sua emergência gradual no país, eu estava longe demais dos meus pais para poder fornecer algum tipo de resistência dentro da minha própria casa.
A partir desse ponto, o antigo apoio incondicional que eu recebia já apresentava uma série de novas premissas e o esforço de aproximação por parte deles já era consideravelmente menor. Dentro dessa situação, recentemente, meu tio me deu uma joia de família que, segundo ele, eu mereço e que antes pertencia ao meu avô e, antes disso, ninguém sabe. Receber esse anel me deixou feliz durante algum tempo, me trazendo uma ideia de pertencimento e de unidade familiar. Apesar disso, esse presente só foi dado porque eu censuro minhas atitudes e opiniões para me relacionar com eles, visto que não quero criar um ambiente conflituoso.
Não é um presente por quem eu sou. É um presente por quem eu finjo ser.
SUSHI SASHIMI
Que desabafo final profundo... ótima crônica!
ResponderExcluirQue espetáculo hein, Samurai... excelente! Parabéns!
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