HERMES

                Ele é homem, branco, heterossexual e provavelmente cristão. O combo completo. Velho o suficiente para ter credibilidade com os mais idosos, que o consideram alguém de respeito e confiável, principalmente por perpetuar os valores que a sociedade mais preza, pelo menos até ele ganhar uma nova significação. Jovem o suficiente para encantar os mais novos, que o analisam como alguém que sempre esteve ali, sempre presente, um contato com a tradição, algo que perpassa toda residência brasileira e nos une como nação, todos os dias.

Ele é contido, profissional, elegante e formal, se veste como se estivesse pronto para te ensinar alguma coisa nova ou te dar uma notícia ruim, o que, constantemente, de fato, ele faz. Terno e gravata. Prefere não demonstrar sentimentos, só quando necessário. Ou conveniente. É fundamental certo tipo de distância emocional para ser levado à sério publicamente, o emocional é fraco, frágil, feminino. Por isso, tem sempre a sua contraparte mulher para fazer esse papel. Ele é forte, seguro, masculino.

Ele é Hermes na mitologia, o mensageiro do Olimpo para o globo. Assim como o deus grego, que é guia das almas dos mortos para o reino de Hades, ele também é responsável por guiar pessoas para o submundo. Um submundo na terra, no qual por meio de ataques diários, pessoas se tornam inimigas do povo, da pátria, do bem. Porém, assim como Hermes é Mercúrio em Roma, ele também pode ser outro, um mensageiro do mal, pronto para manipular o povo brasileiro.

Ele era muitas coisas, recentemente tem se tornado muitas outras. Ironicamente, sua função, muitas vezes de ressignificar pessoas, se voltou contra ele, que agora está sendo ressignificado. O bem e o mal estão em constante transformação. Tudo é ponto de vista. Não se sabe o que é real ou falso. Ele não é mais o mensageiro da verdade e o seu Olimpo não é mais confiável. São tempos de novos deuses.

SUSHI SASHIMI