Tem vezes que não tem jeito, o terrível gosto da amargura
nos pega no laço, junto com o sentimento de vergonha e acrescido de palavras
como: “Porque eu disse isso? ”, “Poderia ter feito de outro jeito”. Gostaria de
falar dos dias em que apenas penso, irritado, que não deveria ter comprado
aquele biscoito pra não ter que, depois, ficar contando moeda para minha
passagem de ônibus ou que eu realmente deveria ter comprado aquela camisa que
estava na promoção. Mas chega um dia em que devemos descarregar toda melancolia
e não nos esconder por trás das cortinas do humor.
Pior que
arrepender-me por ter dado errado é arrepender-me por não ter feito, pois no
primeiro caso, pode-se dizer que pelo menos tentei. E eu escrevo isso pra ela,
para aquela que perdi para outro, pior, para a que perdi pra minha insegurança,
a que perdi pra minha covardia. Me arrependo de não ter visto os sinais – ou
fingido que não vi. Me arrependo de achar que apenas as curtidas mútuas no
Instagram eram suficientes. Me arrependo amargamente de não ter puxado assunto
– por mais bobo que pudesse ter sido.
Pra piorar, o canalha ainda é
romântico, vi isso no vídeo que ela fez questão de postar nas redes sociais,
vídeo no qual ele a pede em namoro na frente de todos os amigos. Me recuso a
pensar nisso. Agora a última a imagem que me permito ter dela é seu sorriso
direcionado a mim na nossa roda de amigos, a última imagem que tenho dela quando
ainda podia ser minha, mas agora até essa imagem carrega arrependimentos, pois
nem posso jogar nela a culpa por não ter me dado a chance, porque a culpa é
minha: Eu não me dei essa chance.
Atualmente me arrependo de não conseguir
externar toda essa acidez que me corrói por dentro, de não conseguir soltar uma
lágrima. Me arrependo de achar que chorar é coisa de gente fraca e que sou
forte por não ligar. Porém, aos poucos, vou aprendendo que todo mundo consegue
ser forte, mas ser fraco é nossa maior virtude.
Abravanel Marinho