segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Recriar-se



Por meses fui reclusa, presa em mim mesma, completamente apática. É difícil aproveitar o dia quando tudo é cinza. Eventualmente, o pior passou, e os velhos hábitos voltaram. Hoje andei de bicicleta pela primeira vez depois de tudo isso. Fui até a praia. Senti o ar adentrando meus pulmões, o sol esquentando minha pele, os sons do cotidiano; sentia tudo com tanta intensidade que fiquei tonta. Parei. Sentei-me na areia e apenas vi o mundo girar. Olhava para o mar, para a areia, as pessoas e o céu. O céu sempre me encantou, sempre me despertou um amor inexplicável pela vida. Uma vontade de encarar o amanhã e viver cada dia como se fosse o último. Depois de muito ver o mundo, era hora de observar a mim mesma. Quando passo por momentos ruins, quase não noto meu exterior; ele pouco importa. Hoje era dia, olhei e amei cada centímetro de mim: minha saia preta, a camisa de botões e estampa de banana, meu cabelo emaranhado. Quando estou mal, não existo, não sou nada nem ninguém. Agora me sinto o mundo todo e, ao mesmo tempo, um minúsculo grão de areia. É bom ser alguém de novo, alguém nova.


Sylvia Plath
 



Nenhum comentário:

Postar um comentário