Por meses fui reclusa, presa em mim
mesma, completamente apática. É difícil aproveitar o dia quando tudo é cinza.
Eventualmente, o pior passou, e os velhos hábitos voltaram. Hoje andei de
bicicleta pela primeira vez depois de tudo isso. Fui até a praia. Senti o ar
adentrando meus pulmões, o sol esquentando minha pele, os sons do cotidiano;
sentia tudo com tanta intensidade que fiquei tonta. Parei. Sentei-me na areia e
apenas vi o mundo girar. Olhava para o mar, para a areia, as pessoas e o céu. O
céu sempre me encantou, sempre me despertou um amor inexplicável pela vida. Uma
vontade de encarar o amanhã e viver cada dia como se fosse o último. Depois de
muito ver o mundo, era hora de observar a mim mesma. Quando passo por momentos
ruins, quase não noto meu exterior; ele pouco importa. Hoje era dia, olhei e
amei cada centímetro de mim: minha saia preta, a camisa de botões e estampa de
banana, meu cabelo emaranhado. Quando estou mal, não existo, não sou nada nem
ninguém. Agora me sinto o mundo todo e, ao mesmo tempo, um minúsculo grão de
areia. É bom ser alguém de novo, alguém nova.
Sylvia
Plath
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