sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Devaneio

  Preciso escrever sobre um sonho, mas nessas duas últimas noites não sonhei nada de interessante. Ou pelo menos não me lembro. Resolvi tentar recuperar as memórias de sonhos antigos. Parei pra analisar um pouco de tudo o que já se passou em minha cabeça. Lembrei do sonho do atropelamento; do que caía pela janela; do que perdia meu pai. Inevitavelmente, lembrei também do que eu jantava em Paris; casava com o Rodrigo Santoro e ganhava o Big Brother Brasil.
     Decidi então ir mais fundo e resgatar um sonho não tão recente. Um daqueles que deixa qualquer um desnorteado. Daqueles que sempre voltam à memória para desconsertar. Pois é, sonhei com ele. E ele estava comigo. E eu sentia tudo como se fosse real. Sentia a angústia e a calmaria que ele me proporcionava. Sentia o seu toque e o seu coração batendo aqui perto de mim. Por alguns momentos, eu vi a verdade em seus discursos. A tal sinceridade apareceu, finalmente. O tal papo do “mas eu não te prometi nada” ficou de lado por algumas horas, que alívio. Como eu queria que pudéssemos nos olhar como nos olhamos ali. Vivemos grandes momentos naquela fantasia proporcionada pelo meu cérebro. Foi tudo ótimo até eu abrir os olhos. E foi péssimo. Nunca me senti tão devastada em acordar. Posso dizer, com franqueza, que foi uma dor semelhante a uma mãe perdendo seu filho. Eu juro, não é nenhum exagero. Ouvi o ponteiro dos segundos no relógio e caí na real. Foi duro. Tive que seguir.
     Essa lembrança me fez refletir sobre o quão nossos sonhos podem ser uma salvação ou uma prisão. Toda a nossa intensidade como ser humano se vê refletida ali, em um curto prazo de tempo. Nossos maiores desejos e temores se tornando uma falsa realidade. Mesmo com a dor de sentir a máscara caindo ao acordar, a gente quer viver toda a ilusão novamente, porque esse é o indivíduo. Gostamos de nos equilibrar em precipícios e de repetir os erros. Queremos paz e tormenta. Tudo bem ser esse grande paradoxo. Eu já me aceitei assim e você?

Lady Murphy

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