Lembro
de ter grandes expectativas para o futuro, como qualquer criança. Imaginava um
caminho teatral e cheio de possibilidades pela minha frente. Só não esperava
que isso me custaria tanta coragem, ou que coragem seria algo tão escasso dali
a algum tempo. Não esperava por minha ansiedade que me faz ter medo de tudo e
também me faz querer tudo, para agora. Ou minha insegurança que faz a
possibilidade do erro parecer inadmissível e desoladora demais para arriscar.
Minha zona de conforto que faz a mudança ser assustadora e ter apenas o “não”
como opção parecer confortável ou aceitável. Não esperava ter que lidar com
isso, não sei como lidar com isso. Então, estaciono com meu conformismo.
Basta
eu beber algumas cervejas ou parar
desocupada por alguns minutos para pensar em como seria hoje, ou daqui a
alguns anos, se tivesse feito aquelas aulas de teatro, aprendido a tocar piano,
feito balé mais cedo, ido àquele passei com a turma, me apresentado para aquela
colega de classe, me desculpado com meus pais pelo o que disse. Imagino como
seria se tivesse ido quando ele me chamou, como seria se não tivesse me
assustado, mesmo o querendo desesperadamente também. Talvez não sentiria a dor
de não tê-lo mais e de não ter feito valer quando o tive, não sentiria a culpa
por não experimentar uma relação que estava pronta para começar se não fosse
pelo meu medo de não ser o suficiente, não sentiria saudade de estar com ele
porque, provavelmente, estaria com ele agora. Nem mesmo sei definir o que me
angustia mais, a falta que ele me faz ou a culpa de saber que poderia ter dado
certo mas tirei essa chance da gente.
Ele
cansou de esperar. É cansativo, eu cansaria de mim. Eu canso de mim também. As
vezes grito a mim mesma: Acorde! Essa é a sua vida, ela não vai esperar por
seus receios passarem, ela não vai voltar atrás. Apenas faça, tenha coragem.
Viva! É algo clichê mas é muito importante dizer que melhor se arrepender por
algo que fez do que por algo que não fez. Se der errado, erros criam o ser e
não são em vão; se der certo, objetivo alcançado, agora parta para o próximo.
Se arriscar poderia ser tão simples como jogar pedrinhas sobre o lago, que
simplesmente afundam assim que tocam a água, quando esperávamos que quicassem
várias vezes em movimentos perfeitos e sincronizados sobre ela, mas ainda assim
continuamos a jogá-los na esperança de acertar. Quem dera se arriscar na vida
fosse tão fácil e exigisse a coragem que se precisa para jogar pedrinhas no
lago.
Marie Brown
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