sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Gaiola aberta


É difícil ter asas e não conseguir voar. Ainda me lembro da dor no peito que sentia quando tentava correr, tentava fugir, tentava voar. Nada funcionava na gaiola. As vezes ela vinha e me alimentava, se estivesse de bom humor até carinhos eu ganhava, não existe nada melhor que ser amado. Mas ela ia embora, me enchia de amores e voltava para sua vida normal. Já eu, continuava na gaiola preso, esperando ela voltar.

Me revoltei de tamanho descaso, peguei minha água, meu alpiste, catei cada migalha e decidi ir embora. Fui em direção a porta e vi que a gaiola estava aberta. Esse tempo todo sofri preso dentro de uma gaiola aberta. Fiquei parado tentando imaginar qual era a explicação para ela deixar a gaiola aberta. Eu não vou a lugar nenhum, talvez ela saiba que sempre que precisar estarei aqui pronto para recebe-la e depois vê-la partir.

Vinte e três dias, sete horas e três minutos, ela não vai voltar. Continuo preso nessa gaiola aberta esperando que um dia ela perceba que a amo, talvez ela saiba e não volte por isso, tem tantas outras gaiolas cheias de amores por ai. É difícil ter asas e não conseguir voar. Ainda me lembro da dor no peito que sentia quando tentava correr, tentava fugir, tentava voar.

Voei.

Sophie Milk

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