Nunca pensei que
eu pudesse amar, ou que fosse ser amada. Tudo que vivi até então indicava que
eu não era merecedora do sentimento mais genuíno do mundo. Quando você chegou
de fininho, confesso que nem liguei. Saímos juntos, nos divertimos juntos,
achei que era tudo amizade, tudo parte do cotidiano, da zona de conforto. Só
que algo em mim, até hoje não entendo o quê, fez você buscar me conhecer um
pouco mais. Você me ligava tarde da noite para vermos o mesmo filme, passava
horas falando sobre os diretores que você gostava e me perguntando sobre minha
distopia favorita. Nunca me senti tão interessante, cada vez eu ia querendo
mais. O problema é que eu me entendia de outra forma, algo inerente a mim
jamais permitiria que eu fosse sua. Pensando que não daria em nada, continuei
te vendo e achei que isso ia passar. Ingenuidade pura.
Até que eu fiz o
impensável: te beijei. Foi a queda da bastilha, um levante dentro de mim. Por
meses minhas noites se resumiram a pensar em você. A incerteza entre te querer
ou apenas gostar de seu interesse. Horas e horas tentando decifrar cada parte
de mim, cada palavra sua, cada momento nosso. Neguei, fingi ter cometido um
erro, feito caridade. Tudo voltaria ao normal, eu pensava, não sirvo pra essas
coisas. Me afastei. Os dias se arrastavam, a falta das suas mãos no meu cabelo
me tiravam o ar. A ausência da sua voz entristecia o melhor dos momentos. E eu
não conseguia ver filme algum. Esperava seus comentários, ansiava por suas
críticas. Só o que eu queria era cair no seu entrelaço. Sentia falta do seu
toque, do seus olhos sorridentes, do seu cheiro, das conversas de madrugada que
iam de como a batata é o alimento mais versátil do mundo até o significado da
vida.
Fevereiro chegou:
nos reencontramos e, da maneira mais natural do mundo, você se desmontou diante
de mim. Eu te vi por inteiro e me apaixonei sem decorar o caminho de volta.
Dizem que amor é revolução, e à essa eu me entrego por inteira.
Sylvia Plath
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