sexta-feira, 29 de setembro de 2017

No coração ficou lembranças de nós dois

Foram mil e uma noites de amor vividas em menos de um mês. Tudo começou no aplicativo com símbolo de fogo, um like sem intenção, um match sem pretensão. Era de fato a primeira vez que eu sentia alguém ter interesse em mim, e não só interesse em beijar, mas em saber se eu já almocei ou se cheguei bem em casa. Pela primeira vez, alguém achava lindo mesmo as minhas características mais bobas. A semana começava, chegava a hora de nos conhecermos pessoalmente.
Foi tão rápido e tão simples a forma como a gente se beijou naquele banco do segundo andar do Bay Market que eu mal conseguia acreditar. O que não quer dizer que tenha sido fácil, afinal eu havia esperado por aquilo a vida inteira. Naquela segunda-feira, tudo se tornou leve. Era mais fácil estudar, conversar com os amigos, jogar sinuca. Mas não era exatamente o que eu esperava. Os ferimentos que sofri no passado ainda me impediam de aproveitar de forma plena o presente. E que belo presente era aquela baixinha.
Continuamos nos vendo, mas eu estava no automático, ia por obrigação. Saía do meu buraco para vê-la em Niterói sem a mesma empolgação que tinha com meu antigo amor. Decidi que a decisão estaria nas mãos dela. E por mais que ambos quisessem, era perceptível a minha insegurança. Ponto final.
Desde então, o Brasil viveu Olimpíadas, impeachment, Rock in Rio. As quatro estações passaram e ninguém apareceu para ocupar o lugar que ficou vago. As dúvidas sobre o que sinto por ela permanecem: amor ou medo da solidão? As coisas não estão fáceis no mundo universitário, o que aumenta a sensação de que foi um erro trocar o certo pelo duvidoso.
Se o destino me der uma segunda chance, vou poder saborear melhor tudo o que fizemos juntos. Tomar um milk-shake no shopping, ouvir ela falar do judô e mostrar seus pés cansados de bailarina. Ou viver novas aventuras, como ir a um show do Red Hot, assistir um jogo do Sport, carregá-la no colo. Seria ótimo ter o meu pedacinho do Nordeste de volta, não importa se na praia, num barco ou no farol apagado.
 
Policarpo Quaresma

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