Foram mil e uma noites
de amor vividas em menos de um mês. Tudo começou no aplicativo com
símbolo de fogo, um like sem intenção, um match sem pretensão. Era de
fato a primeira vez que eu sentia alguém ter interesse em mim, e não só
interesse em beijar, mas em saber se eu já almocei ou se cheguei bem em
casa. Pela primeira vez, alguém achava lindo mesmo as minhas
características mais bobas. A semana começava, chegava a hora de nos
conhecermos pessoalmente.
Foi
tão rápido e tão simples a forma como a gente se beijou naquele banco
do segundo andar do Bay Market que eu mal conseguia acreditar. O que não
quer dizer que tenha sido fácil, afinal eu havia esperado por aquilo a
vida inteira. Naquela segunda-feira, tudo se tornou leve. Era mais fácil
estudar, conversar com os amigos, jogar sinuca. Mas não era exatamente o
que eu esperava. Os ferimentos que sofri no passado ainda me impediam
de aproveitar de forma plena o presente. E que belo presente era aquela
baixinha.
Continuamos
nos vendo, mas eu estava no automático, ia por obrigação. Saía do meu
buraco para vê-la em Niterói sem a mesma empolgação que tinha com meu
antigo amor. Decidi que a decisão estaria nas mãos dela. E por mais que
ambos quisessem, era perceptível a minha insegurança. Ponto final.
Desde
então, o Brasil viveu Olimpíadas, impeachment, Rock in Rio. As quatro
estações passaram e ninguém apareceu para ocupar o lugar que ficou vago.
As dúvidas sobre o que sinto por ela permanecem: amor ou medo da
solidão? As coisas não estão fáceis no mundo universitário, o que
aumenta a sensação de que foi um erro trocar o certo pelo duvidoso.
Se
o destino me der uma segunda chance, vou poder saborear melhor tudo o
que fizemos juntos. Tomar um milk-shake no shopping, ouvir ela falar do
judô e mostrar seus pés cansados de bailarina. Ou viver novas aventuras,
como ir a um show do Red Hot, assistir um jogo do Sport, carregá-la no
colo. Seria ótimo ter o meu pedacinho do Nordeste de volta, não importa
se na praia, num barco ou no farol apagado.
Policarpo Quaresma
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