Um leão com um sonho. O animal mais poderoso da selva, detentor de toda sabedoria, selvageria e orgulho, no meu sonho era apenas um aspirante à fama e reconhecimento. Parece improvável e até mesmo um pouco forçado, mas está para ficar mais ainda.

          O leão parecia viver em uma espécie de The voice em um mundo paralelo, com cores fortes e abismos. No entanto, nada o desanimava de performar sua música, composta por ele mesmo, diga-se de passagem, para os jurados apáticos que apenas o julgavam sem graça e sem vocação. O leão estava tão entusiasmado com a oportunidade que nem ao menos dimensionava o desdém que lhe era designado, continuava comparecendo ao “show de talentos” todo dia, com a esperança de que algo fosse mudar.

          Eu, como telespectador inconsciente desse enredo, sabia, talvez por alguma ponta solta dentro do sonho, ou talvez por pura onisciência da minha mente, que o leão tinha rejeitado amigos de verdade para seguir seus caminhos e suas prioridades. Não sei que tipo de amigos um leão teria, mas ficou claro que eram leais, o achavam talentoso e torciam por ele, mesmo o Rei da selva tendo feito jus à suas características individualistas. O leão teria pra quem voltar, caso quisesse, quando não aguentasse mais o The voice obscuro.

          Não acompanhei a história até o final, a perturbação do sono e as obrigações da vida romperam minha conexão com o leão por tempo indeterminado. Mas posso dizer que da última vez que o vi ele ainda não estava famoso, não tinha voltado para o lar e estava almoçando em um “pé sujo”.

 Didico Imperador