sexta-feira, 29 de setembro de 2017

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Uma das coisas mais importantes da vida é fazer aquilo que desejamos, sempre que temos vontade.
Ao atingirmos maturidade, costumamos rever as promessas feitas a nós mesmos no começo de nossa jornada. E é nessa peleja da vida com nosso futuro que reinventamos nossos planos. Sufocamos nossas aspirações mais profundas e admitimos culpa e arrependimento pelo que não realizamos, e sendo assim, carregamos a cruz do que não pudemos fazer.
Essa empreitada nos obriga a tomar decisões que julgamos ser a melhor opção para sermos felizes e sermos o que todos chamam de “politicamente correto”, seguindo o estreito caminho do bem. No meu caso, segui alguns atalhos que me fizeram sufocar alguns sonhos e minha esperança de realizar aquilo que não pude ao longo dos anos. Não conheci a França com suas praças e monumentos históricos que tanto me seduziram e muitos países do Velho Mundo tão famosos. Não aprendi a falar inglês.
Meu arrependimento maior não foram viagens fantásticas, foi a dor de não poder dizer ao meu melhor amigo, e a tantos outros que perdi no curso da vida, que o momento mágico de um abraço valeria uma eternidade e ao mesmo tempo uma fração de segundo de um olhar sincero de uma amizade, valem tanto quanto a fé que norteia a vida religiosa de um sacerdote. Que o ceifar de um orgasmo com a amante que me deixou, poderia me dar a filha que nunca tive. E, torturante ainda, é relembrar e chorar aquele momento de dizer o “ eu te amo ” que você não disse. O arrependimento da dor e tormento do ato falho não falado, mas inconscientemente arquitetado e não articulado. Sinto arrependimento da minha indiferença com o cão que me viu chegar e eu o refutei após um estafante dia de trabalho e, abanando o rabo, me confiou sua fidelidade incondicional. Sinto arrependimento de minha recusa diante de minha irmã que pediu o batismo do seu único filho que morreu pagão.
São tantos desvios, tamanhas fugas de uma vida corrida, que me fizeram ficar dormente diante de toda essa lembrança. Uma tremenda falta de ar momentânea, que os flashes de memória quando me vêm à mente, mostram o caminho errado que segui, e é aí, neste desvão da consciência que o bate arrependimento e se revela a couraça covarde da razão, diante dessa tristeza escondida nas ramificações de meu rincão emocional.
Enfim, essas constantes passagens de que não fiz, não curti, são retratos deste ser que navega no remorso das ações que não fez, mas que tenta, apesar de tudo, resgatar o que de bom viveu e realizou no afã de um justo julgamento.

Julinho da adelaide

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