Tudo mudou na minha última semana de férias do ano passado. Meus pais sempre viajam comigo durante o recesso escolar e juntos conhecemos vários lugares bonitos. Entretanto, nesse ano, excepcionalmente, voltamos mais cedo da viagem; porque eles teriam que trabalhar em um novo projeto. Para não me deixarem em casa sozinha, eles resolveram que seria uma boa ideia deixar uma menina de quinze anos em uma colônia de férias repleta de estranhos.
Foi nesse momento pitoresco das minhas férias frustradas que conheci Diana. Filha de dois artistas plásticos, digamos que a criação dela foi um pouco mais liberal que a minha. Isso sem contar que ela não frequentava um colégio católico. Apesar das nossas gritantes diferenças de pensamento nos demos bem logo de cara.
Nunca me esquecerei da nossa primeira discussão. Parecia uma feira. Berros, xingamentos, chororô. Quinze anos não é uma idade muito madura para discussões, ainda mais de um assunto tão sério como a legalização do aborto. Nenhuma das duas parecia saber como estruturar bem o próprio argumento, mas sabíamos nossa posição: eu contra, ela a favor. Brigamos feio. Ela disse que tudo era culpa do meu ensino e de como eu estava sendo manipulada pela Igreja. Chorei muito. Achava que possuía meu próprio ponto de vista e que não tinha nada a ver com a moral cristã. As férias chegaram ao fim juntamente à minha amizade com Diana.
Quando meus pais vieram me buscar, eles trouxeram uma surpresa. Haviam sido promovidos por conta do novo projeto e por isso teríamos de nos mudar. Mudei de escola, amadureci, abri minha mente (deixei de apenas reproduzir a fala dos meus pais) e entendi que a legalização do aborto traria menos mortes às mulheres, principalmente as mais pobres. Tudo isso começou porque eu discuti com a Diana, e se algum dia eu encontrá-la de novo, quero debater mais assuntos com ela.
Por Lilac Sky.