sexta-feira, 20 de abril de 2018

Diana

Nunca tinha me incomodado antes com o fato de eu estudar em um colégio católico. Os corredores largos, a presença constante de imagens sagradas e a vigilância por parte das freiras, tudo dava à escola um caráter único que me fazia sentir em casa. Na verdade, para mim, que tinha apenas estudado na mesma escola a vida inteira e possuía os mesmos vínculos de amizade de sempre; nunca duvidei do que era ensinado ou repassado aos alunos.

Tudo mudou na minha última semana de férias do ano passado. Meus pais sempre viajam comigo durante o recesso escolar e juntos conhecemos vários lugares bonitos. Entretanto, nesse ano, excepcionalmente, voltamos mais cedo da viagem; porque eles teriam que trabalhar em um novo projeto. Para não me deixarem em casa sozinha, eles resolveram que seria uma boa ideia deixar uma menina de quinze anos em uma colônia de férias repleta de estranhos.

Foi nesse momento pitoresco das minhas férias frustradas que conheci Diana. Filha de dois artistas plásticos, digamos que a criação dela foi um pouco mais liberal que a minha. Isso sem contar que ela não frequentava um colégio católico. Apesar das nossas gritantes diferenças de pensamento nos demos bem logo de cara.

Nunca me esquecerei da nossa primeira discussão. Parecia uma feira. Berros, xingamentos, chororô. Quinze anos não é uma idade muito madura para discussões, ainda mais de um assunto tão sério como a legalização do aborto. Nenhuma das duas parecia saber como estruturar bem o próprio argumento, mas sabíamos nossa posição: eu contra, ela a favor. Brigamos feio. Ela disse que tudo era culpa do meu ensino e de como eu estava sendo manipulada pela Igreja. Chorei muito. Achava que possuía meu próprio ponto de vista e que não tinha nada a ver com a moral cristã. As férias chegaram ao fim juntamente à minha amizade com Diana.

Quando meus pais vieram me buscar, eles trouxeram uma surpresa. Haviam sido promovidos por conta do novo projeto e por isso teríamos de nos mudar. Mudei de escola, amadureci, abri minha mente (deixei de apenas reproduzir a fala dos meus pais) e entendi que a legalização do aborto traria menos mortes às mulheres, principalmente as mais pobres. Tudo isso começou porque eu discuti com a Diana, e se algum dia eu encontrá-la de novo, quero debater mais assuntos com ela.

Por Lilac Sky.

6 comentários:

  1. achei ok o texto (não foi fácil pra ninguém essa semana), mas senti que o ultimo parágrafo poderia ter sido melhor. A construção de Diana no texto foi interessante, e o tema também, mas sinto que poderia ter sido mostrado algum argumento além do que foi mostrado no parágrafo final (só que no meio do texto). Enfim, achei bacana a crônica (de verdade), mas o ultimo parágrafo realmente quebrou o tom para mim.

    ResponderExcluir
  2. Adorei a forma que o texto foi conduzido, porém eu daria mais atenção a esse final, me pareceu meio estranho.

    ResponderExcluir
  3. Achei sua ideia ótima! O texto está muito bem escrito. E, diferentemente do que falaram, não achei o final todo ruim. Só a última frase que está meio estranha. Parece que você terminou o texto com um pouco de pressa. Mas, quanto a ortografia, está impecável ao meu ver. Muito bem!

    ResponderExcluir
  4. Eu achei a parte gramatical do texto ótima e gostei bastante do aparecimento da Diana, mas esperava um último parágrafo mais desenvolvido e com mais impacto, pois ficou visível ao longo da crônica que você tem grande possibilidade de fazer isso!

    ResponderExcluir
  5. Goste da sua pontuação no texto e gostei muito mais da sua ideia contraditória entre Diana e a outra personagem do texto. Achei muito legal a posição sua no final do texto de mudar de opinião graças a Diana. No entanto, achei que poderia ter usado mais argumentos e não só o caso da legalização do aborto.

    ResponderExcluir
  6. Você construiu muito bem o cenário e conseguiu transmitir ao leitor a sensação de viver nessa escola e depois na colônia de férias. Quase me senti com 15 anos de novo rs. Como foi dito pelos outros, senti falta de um final mais marcante e também de críticas mais incisivas, mas ao mesmo tempo entendo que talvez não coubesse nesse estilo de texto mais críticas. Talvez da próxima vez você possa separar com mais clareza os textos críticos dos mais literários. Ou não. No mais, sua escrita é maravilhosa. Parabéns!

    - Desproporção Sentimental

    ResponderExcluir