sexta-feira, 13 de abril de 2018

Oceano de ódio

Um mar de ódio. Vou tentar mudar de clichê para começar esse desabafo, e me afogar em outro. Um oceano de ódio. É a representação melhor do que eu imagino ser o mundo virtual em que nós brasileiros vivemos. A internet é como um oceano de informações, conteúdo que vai além do horizonte que os olhos podem ver. A expansão na quantidade de informação e notícias propagadas pelos sites e redes sociais nos últimos anos deveriam ter a função de tornar as pessoas mais bem informadas, conscientes de múltiplas realidades. Mas na verdade, criou pessoas com percepção muito mais seletiva, as quais só aceitam receber conteúdo que tenha a ver com suas convicções.
           
O mundo está se tornando cada vez mais polarizado. O Brasil, sua política, seus cidadãos, todos estão assumindo lados cada vez mais radicais. A regra é escolher uma posição. Ou você escolhe ser a favor dos direitos humanos, ou defende que "bandido bom é bandido morto". Ou você defende ladrão, ou é contra a impunidade. Ou você é pró-vida , ou você é uma abortista mal amada. Ou você respeita a comunidade LGBT, ou você é a favor da família tradicional. São sempre duas visões, não há meio termo.

E há a luta entre votar em um candidato com grande apelo às massas, recentemente preso, ou em um candidato com carregado discurso de ódio, ao lado de pessoas com raízes conservadoras. Vista sua camisa vermelha, ou grite Bolsonaro 2018. Pra onde iremos correr? Esqueceram daquele famoso ditado de que "futebol, política e religião não se discutem". Porque amizades estão sendo desfeitas com essas discussões. Inimigos sendo construídos. Todos opinam, e os incomodados que tapem os ouvidos. Todos assumem uma posição.

Até mesmo os cristãos se posicionam politicamente, apenas esquecendo que o líder do cristianismo, o próprio Jesus, não se envolvia com política. Jesus tinha coisas mais importantes a fazer como abraçar as minorias, as viúvas, as prostitutas, os pobres, os explorados. Ele se preocupava em pregar o amor. Mas em nosso país, há a famosa bancada evangélica, famosa em nem ser realmente cristã nos seus atos. Há inclusive alguns de seus seguidores que defendem que gay não é gente, que a mulher é só do lar, e o homem? Ah, o homem pode ser quem ele quiser, inclusive fingir ser quem não é. E quanto ao amor? Ah, o dinheiro pode suprir isso.

E rola textão no Facebook. Rola tweet ofensivo, tweet de ameaça. O nível de intolerância extrapola ao ponto de pessoas desejarem censurar as outras. A democracia é ameaçada perante grupos que pensam deter maior poder de discurso. É bem ou mal. Isso é o que dizem. Mas, na verdade, tudo é uma grande guerra de egos. Políticos dizem apoiar o povo, as famílias, os trabalhadores, os jovens... Mas como acreditar que não estamos sendo manipulados por pessoas que só veem seu próprio umbigo?

Eu não tenho onde me encaixar nesse oceano, que de tão vasto, me perdi muitas vezes em desesperança. Então resolvi escrever esse texto, e finalizar dizendo que todos estão mentindo. Não existe mal ou bem. Nenhum grupo precisa se impôr totalmente sobre outro. Pessoas são diferentes, e essas diferenças existem para serem respeitadas. Lados que defendem a si mesmos na base do ódio são ocupados por pessoas que não estão prontas pra viver em sociedade. Porque a sociedade é plural, assim como a política deve ser, não se definindo apenas em direita ou esquerda.

E se insistirem que eu escolha um lado, escolho manter a esperança de que um dia todos vão se desafogar do ódio, e enxergar além de si mesmos. Ver um único povo de muitas vozes, onde há respeito a todas. Esse oceano revolto que existe precisa de ventos calmos e tolerantes para ser o que sempre foi. Uma união de muitos mares.

Por Mary-Louise Paris.

6 comentários:

  1. Que texto incrível e que reflexão plausível! Muito bem escrito também. E eu acho que sei quem escreveu ele, mas vou ficar quietinha.

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    1. hahah Ou você sabe, ou essa pessoa fez uma boa aliança e está te enganando direitinho!
      Ops... Digo mais nada...

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  2. Gostei da ideia central do texto. Propor uma reflexão de por que viver em uma sociedade com tanto ódio e mostrar que não é preciso sermos tão extremistas em nossas ideias é essencial. Só houve uma frase que eu acredito que foi muito mal colocada. Eu concordo que o Estado deve ser totalmente laico também, mas ao falar "Até mesmo os cristãos se posicionam politicamente, apenas esquecendo que o líder do cristianismo, o próprio Jesus, não se envolvia com política" você deu a entender como se os cristãos devem ficar fora do âmbito político. Isso, para mim, soou radical e até mesmo preconceituoso. Todos, independente da sua fé devem construir um posicionamento político sim. Agora claro, usar sua fé como base para criar leis, etc., isso não pode. Mas enfim, tirando essa frase, concordo com tudo e amei o texto!

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    1. Perdão se soou assim, não foi mesmo minha intenção!! Peço mil desculpas, afinal, uma das minhas bandeiras é lutar contra o preconceito de qualquer forma! Perdão!

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  3. Até o meio do texto achei bastante pesado e com muita informação sendo jogada sem dar muita importância. Concordo com a Andrea Melo em relação à frase "Até mesmo os cristãos se posicionam politicamente, apenas esquecendo que o líder do cristianismo, o próprio Jesus, não se envolvia com política", mas também entendo que pode ter sido apenas um erro em como se expressar. Mas a partir do parágrafo do textão no facebook, concordo com tudo e foi muito bem escrito!

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  4. Adorei grande parte do texto, acho que cê perdeu um pouco durante uma parte mas acontece. Aliás, acho que sei quem é você hehe

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