sexta-feira, 13 de abril de 2018

Resistência

Destrancar a porta de casa e ver a luz de outros prédios iluminando minha sala me faz pensar duas vezes antes de ligar qualquer objeto eletrônico. Não faz sentido, as vidas se passam lá fora da mesma forma como sempre aconteceu. O mundo não está mais silencioso. Talvez seja isso que precisamos: barulho. O insano caos da revolta de um povo cansado. Mas há cansaço demais, então eu permaneço aqui, deitado no sofá, sem muitas esperanças.

Marielle continua presente, mas a ausência de respostas paira no ar da minha sala de estar. A impunidade de políticos que rasgam a Constituição mascara-se atrás da prisão de um perseguido político. As cordas se estreitam no pescoço da comunidade pobre, mas eu estou protegido no meu apartamento no Humaitá. E, mesmo assim, meu coração se acelera, minha mão procura o cigarro que não está mais ali. Decidi parar com esse hábito, mas são tempos difíceis. Sinto o cheiro de repressão de longe em um pulmão asmático, cansado demais para lidar com algo que seja diferente de liberdade.

Levanto-me do sofá, respiro fundo e resisto. Resisto de desistir, de desacreditar. Estar quieto não é se render, mas sim planejar. Não haverá mudanças sem união e, para isso, é preciso pensar. Tenho meditado por tempo demais e isto me cansa, por isso fecho meus olhos para ser levado para minha utopia. Lá ninguém morre de fome, negro não é marginalizado e mulher não precisa lutar por espaço de fala. Espero dias melhores.

Por Jaci Roman. 

2 comentários:

  1. Sensacional, lindamente escrito e eu poderia ler muito mais disso. Obrigada por isso...E eu também queria viver nessa sua utopia!

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  2. Texto curto e lindíssimo! Gostei muito da escrita com tom descritivo, e o sentimento expressou bem o que a maior parte de nós sente!
    Esperamos dias melhores!

    Mary-Louise P.

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