Marielle continua presente, mas a ausência de respostas paira no ar da minha sala de estar. A impunidade de políticos que rasgam a Constituição mascara-se atrás da prisão de um perseguido político. As cordas se estreitam no pescoço da comunidade pobre, mas eu estou protegido no meu apartamento no Humaitá. E, mesmo assim, meu coração se acelera, minha mão procura o cigarro que não está mais ali. Decidi parar com esse hábito, mas são tempos difíceis. Sinto o cheiro de repressão de longe em um pulmão asmático, cansado demais para lidar com algo que seja diferente de liberdade.
Levanto-me do sofá, respiro fundo e resisto. Resisto de desistir, de desacreditar. Estar quieto não é se render, mas sim planejar. Não haverá mudanças sem união e, para isso, é preciso pensar. Tenho meditado por tempo demais e isto me cansa, por isso fecho meus olhos para ser levado para minha utopia. Lá ninguém morre de fome, negro não é marginalizado e mulher não precisa lutar por espaço de fala. Espero dias melhores.
Por Jaci Roman.
Sensacional, lindamente escrito e eu poderia ler muito mais disso. Obrigada por isso...E eu também queria viver nessa sua utopia!
ResponderExcluirTexto curto e lindíssimo! Gostei muito da escrita com tom descritivo, e o sentimento expressou bem o que a maior parte de nós sente!
ResponderExcluirEsperamos dias melhores!
Mary-Louise P.