Um olhar diferente

Costuma-se dizer que o sol nasce para todos, dando uma ideia de que todos temos as mesmas chances de conquistas que o mundo possa oferecer. "Dedique-se mais!", "nunca desista!", "lute enquanto eles descansam!". Frases como essas sempre foram ditas pelos mais velhos e "mais sábios". Me peguei pensando nisso esses dias, indagando essa famosa afirmação de que o sol é para todos, e achei a resposta no sujeito da frase: o sol.

Sexta-feira, 17:47h, pôr do sol. Dia calmo, poucas nuvens no céu, uma brisa gostosa de fim de tarde, com um gostinho a mais por ser o último dia útil da semana. Aprecio a chegada da noite com vista pra baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Mais tarde, sair para beber e me divertir com os amigos. Esse pôr do sol é bom para mim, me traz felicidade. Esse é o sol que nasce para mim.

Sexta-feira, 17:47h, pôr do sol. Olhando a hora e pensando em quanto tempo terá de descanso quando chegar em casa, temos um porteiro que trabalha em Niterói voltando para casa pela ponte. Para ele, ainda faltam duas conduções até sua casa. Mais um dia cansativo e estressante, no qual ele só consegue pensar se o dinheiro vai segurar as contas no final do mês. O sol se põe ao seu lado, mas a essa hora nosso trabalhador já está dormindo no único horário que consegue. Ao chegar em casa, dará atenção a sua família até a hora de dormir, e no dia seguinte terá mais uma jornada de trabalho pela frente.

O sol pode até nascer (e se pôr) para todos, mas não são todos que podem aproveitá-lo, que tiveram as mesmas oportunidades. Não tiveram seu lugar na sombra. Enquanto o sol ainda tiver que se deitar, haverá alguém lutando pelo seu direito de apreciá-lo, nem que seja pelos olhos de sua próxima geração.

Por Ninguém.