Vou me referir à corrupção como madame, pois é semelhante: tudo o que precisa é de dinheiro para ter sempre mais importância.
A corrupção brasileira tem rugas e cabelos brancos, mais de 500 anos, mas ainda não morreu. Até os invisíveis do nordeste do país a conhecem. Eles não aprendem a ler e a escrever, por falta de políticas públicas, mas sabem descrevê-la perfeitamente.
Aqui milhões de pessoas são chamadas de minorias, e algumas centenas de o poder dominante. Os últimos não dão poder aos primeiros. Não é vantajoso.
Aqui também existem dois Brasis e os dois são ruins. Um por não ajudar e o outro por não ser ajudado. Educação não tem. Saúde não tem. Emprego não tem. Mas por quê? Pois bem, lembra da madame? Ela não deixa o povo ter nada.
A madame tem vários sinônimos. Eu gosto de associá-la à doença. Ela é contagiosa, dá náusea e dor de cabeça. Ela já está tão velha que dá tédio também. É cansativo cuidar de algo que não muda. Os pobres operários cientistas brasileiros já perderam as esperanças de encontrar um remédio.
Pensaram que em 2002 tinham encontrado. A pobreza extrema causada pelo abandono diminuiu, os operários puderam usufruir daquilo que produziam e tiveram a sensação de desenvolvimento do remédio. Foi tão bom. Muitos ainda falam do quanto o presidente, também operário, fez por eles. Se identificavam. Era recíproco.
Mas no fim, madame nunca deixa de ser madame. Não no Brasil. Aqui o tempo é curupira. Agora, por exemplo, os operários já voltaram a ser somente operários, a madame está comprando saltos cada vez mais altos para alcançar cada vez mais injustiças e retornamos até à ditadura. Morte aos traidores. Típico deste país.
Então, a única coisa que sobrou foi o tédio. Tédio de saber de um golpe que não vai ser desfeito. Tédio de propagandas manipuladoras do governo. Tédio por viver um descaso que, de tanto atingir, calejou e desapareceu de vez com a receita do remédio.
Contudo, o brasileiro, por ter uma história castigada, ainda tem um farelo de esperança. Quem sabe essa grade que se fechou dia 7 de abril de 2018 sirva para reviver a imagem dos homens e mulheres brasileiros que viviam livres anos atrás?
Afinal, país rico é país sem pobreza e, quem sabe, sem madame.
Por Emma Alfie.
Caramba, que analogias legais! Colocar a corrupção como madame, falar que corrupção brasileira tem rugas e cabelos brancos... Muito bom! Isso foi o que mais me chamou atenção na sua crônica. Trouxe um diferencial legal, parabéns!
ResponderExcluirAs analogias foram geniais e realmente tratar a corrupção como madame foi uma jogada de mestre. Parabéns Emma!!!
ResponderExcluirgostei DEMAIS do texto, ficou show. Sei que isso pode ser característica sua, porém, o texto super fragmentado em mini estrofes me deixou incomodada, mesmo o texto estando muito bom.
ResponderExcluirEu gostei muito de como se referiu a corrupção principalmente no 6° paragrafo. Achei muito criativo ao longo do texto você ter associado a História do Brasil até os dias atuais
ResponderExcluirMuito boa a forma como mostrou que a corrupção não é algo novo, como alguns acham, mas sim algo que persegue o Brasil desde que Portugal aqui chegou. Chamar o tempo de curupira foi algo que chamou muito a minha atenção, super concordo!
ResponderExcluirQUE TEXTO! Muito bom, fez uma referência perfeita à corrupção e nada clichê. Ficou uma leitura fácil, que te instiga a ler até o final. Amei, parabéns!
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