sexta-feira, 20 de abril de 2018

Eu cresci

“Princesinha do Papai”. Desde pequena, sempre fui chamada assim, não só pelo meu pai como por todas as pessoas próximas de nós. Cresci rodeada de amor, carinho, cuidados e, devo admitir, sendo mimada. Entretanto, nunca foi uma proteção exagerada que me privava de certas coisas, assim como eu via acontecer com amigas minhas. Eu tinha a liberdade de ter as minhas próprias experiências, ter as minhas escolhas e aprender caindo, literalmente.

Só que um dia, eu cresci. Quando completei os meus 16 anos, nossas incompatibilidades começaram a aflorar. Ele, com aquele jeito bem autoritário, criado em família conservadora, e eu, com uma personalidade forte, que sempre ia em busca do que desejava. Nós discordávamos bastante, nos mais diversos assuntos, mas eu acabava sempre cedendo, já que ainda era menor de idade e estava sob a tutela dele.

Dois anos se passaram, finalmente a maioridade chegou. A partir dali, estava decidida que, apesar de nunca faltar o respeito com meu pai, iria atrás do que eu queria, por mais que ele não concordasse. E foi assim. Nosso primeiro embate foi quando eu quis tirar carteira de motorista. Ele, que sempre gostou de carros, passou a vida inteira me falando como é bom dirigir e como devemos ser sempre independentes. No entanto, quando eu quis tirar habilitação, eu ainda era “muito jovem e imatura” para isso. “Imagina as pessoas vendo uma menininha como você dirigindo sozinha, será um perigo! ”, ele dizia.

Depois dessa, vieram mais algumas discussões em que a resposta era sempre “você é muito nova”, “não vejo necessidade” ou “você não precisa disso”. Devo dizer que, de certa forma, entendo as preocupações dele. Com a situação de violência que vemos o nosso país e, principalmente, a nossa cidade, é natural que um pai fique preocupado com a sua filha pelas ruas sozinha. Entretanto, esse é um passo que devemos passar em certo momento da vida, faz parte do crescimento.

Por conta disso, passei por cima das opiniões do meu pai e resolvi crescer, sem a permissão de alguém, apenas por conta própria. Tanto nesse caso da carteira de motorista, quanto em tantas outras. Mas nunca nos faltou amor para conseguirmos passar por cima das nossas diferenças e continuarmos juntos, coisa que falta para a grande maioria das pessoas com ideias opostas. Discussões são naturais e até são boas para o nosso crescimento pessoal. Acabar uma amizade ou quebrar um laço familiar por conta de desavenças, como temos visto acontecer com frequência nos últimos tempos, só vai nos trazer perdas.

Por Frozen Elsa.

3 comentários:

  1. interessante trazer um processo da vivência feminina no texto, trouxe um ar novo. Porém não vi você rebater as afirmações feitas no penúltimo parágrafo, e sim uma aceitação e repudiação ao mesmo tempo. Não trazendo o recurso do dialogismo.

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  2. Sua crônica trouxe uma reflexão interessante sobre essa relação de superproteção dos pais, fruto de um machismo implantado na sociedade. Contudo, está fora da proposta da semana, ao meu ver. Senti falta do dialogismo! De qualquer maneira, parabéns! Gostei muito do texto.

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  3. Acho que você poderia ter deixado mais explícito que se tratava de um machismo e ter desenvolvido mais o porquê das pessoas pensarem e agirem dessa forma, sem cair no estereótipo e não ser passiva a isso.
    Contudo, sua escrita é ótima, pontuação perfeita e abordar o machismo foi um diferencial em relação aos outros textos. Parabéns!

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