A cada mês, uma novidade, um novo procedimento estético, uma característica física diferente a se almejar. Trocamos de preferências mais rapidamente do que de roupa.
Sobre o tema, caberia discutir o conceito da "Donzela de Ferro" que Naomi Wolf, escritora feminista estadunidense, discute em seu livro "O Mito da Beleza" (1990). A ideia é uma referência a um instrumento medieval de mesmo nome, que era utilizado para tortura e execução de pessoas, enclausurando-as em uma espécie de molde de corpo humano. A autora o adapta à contemporaneidade, associando-o ao ideal de beleza feminino imposto pela sociedade, o qual é alimentado incessantemente pelo capitalismo.
Ouso afirmar, porém, que a nova donzela de ferro se converteu nas redes sociais. Agora ela possui harmonização facial, rinoplastia, preenchimento labial, silicone dos variados modos, lipoaspiração, sem citar muitos outros. Qual desses termos você reconhece? Já refletiu onde consome conteúdo sobre esses procedimentos? Quantas influenciadoras que você segue realizou algum deles?
Sua maior expressão na atualidade é o Instagram. Nele, a vida é retratada através de filtros irreais, que tem a capacidade de modificar a noção de realidade e a ideia sobre nossa aparência. Podemos nos comparar com fotos editadas, com modelos cheias de modificações corporais e com vidas regadas de privilégios.
E o molde se estreita cada vez mais. No fundo, nenhum de nós poderia caber perfeitamente nele, apesar da Internet nos vender a ideia de que é possível. É justamente esse o propósito: vender. Quanto mais o objetivo de encaixar-se na donzela é perseguido, mais ela é modificada. Se não há linha de chegada, o lucro (e os danos psicológicos) são constantes. Definitivamente, o dólar vale mais que eu.
Estela, estou apaixonado pela sua crônica. Nossa, perfeita do início ao fim. Meus parabéns.
ResponderExcluirAtualmente com os filtros as pessoas se cobram cada vez mais, querem se parecer com o molde, como vc disse. Parabéns pela crônica!
ResponderExcluirParabéns pela crônica, texto muito bem escrito. Só não entendi a última frase "o dólar vale mais que eu". Poderia me explicar por favor? Achei um pouco desconexo do texto.
ResponderExcluirOi Michael! A última frase eu citei um trecho da música "Tá Com Dólar, Tá Com Deus" da Francisco El Hombre, mas talvez tenha ficado desconexo do texto mesmo. Quis fazer a referência no sentido de colocar o lucro desses padrões estéticos acima da vida e da saúde mental das pessoas.
ExcluirCIRÚRGICO!
ResponderExcluirSimples e extremamente pertinente. Argumentos super bem colocados e reflexão necessária. Parabéns.
Posso estar sendo chata, mas percebi um erro de concordância no final que me incomodou bastante. Sobre o conteúdo, só tenho a parabenizar! Usou um tema muito importante e soube problematiza-lo de uma forma ótima
ResponderExcluirOi, Cigana! O erro que você comentou seria a frase final em si? Obrigada pelo comentário.
ExcluirGostei da referência ao conceito da Naomi Wolf e o texto está bem escrito. A frase final me impactou, "Definitivamente, o dólar vale mais que eu."
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei da sua escrita e do tema, algo muito real e importante, que você conseguiu desenvolver muito bem ao longo do seu texto. A referência também foi muito boa e se encaixou perfeitamente. Não tenho críticas negativas, mas talvez ficasse ainda mais interessante com mais criatividade e dinâmica. No mais, não tenho um olhar tão pessimista, acho que, comparando com o passado, algumas vezes o molde se alarga ao invés de se estreitar (mas isso é só uma questão de opinião, não influencia em nada a qualidade do seu texto).
ResponderExcluirSó comentei para dizer que estou sem comentários, ótimo texto.
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