É inegável a importância de um segundo idioma no mercado de trabalho brasileiro. Inglês
então nem se fala, já que a contratação de quem sabe esse idioma chega a ser 50% maior do
que a de quem não sabe e 25% maior do que uma pessoa que sabe o espanhol, por exemplo.
Então é dele e da relação construída ao redor dele que falaremos hoje.
Muitos cursos de idiomas e colégios, atualmente, oferecem não só o aprendizado da língua
inglesa, mas o contato dos estudantes com nativos da língua, com aulas de conversação e
intercâmbios. Grande parte dos falantes consegue manter uma conversa naturalmente entre
seus colegas, professores e amigos brasileiros, mas na hora da comunicação com um nativo
vem o grande problema: o “I’m sorry”.
Nelson Rodrigues conceituou o "complexo de vira-latas" que para ele era “a inferioridade em
que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.” Esse complexo é
melhor explicado no documentário “O Complexo de Vira-Latas”, no qual vários especialistas
explicam que esse fenômeno não é atual, e sim uma herança tanto de intelectuais com
educação europeia que pensaram o Brasil como gostariam que fosse, quanto dos
colonizadores que vieram para o Brasil julgando negros e índios como inferiores.
Esse complexo, mesmo que com raízes antigas, é mais visto nas classes médias brasileiras, as
mesmas que hoje pedem desculpa ao errar tempos verbais e preposições em inglês. Essa
parcela que não reconhece a complexidade da língua brasileira, e a fala e escreve com
naturalidade, sente a obrigação de pedir desculpas ao errar uma língua que não é sua de
origem e, portanto, não tem obrigação de saber tudo. Além de se sentir envergonhada e ter
bloqueios ao conversar em inglês.
O ponto aqui não é estimular o conhecimento básico sobre o inglês ou dizer que não há
necessidade de aprendê-lo, mas desestimular o pedir desculpas como necessidade social. Não
há problema em errar uma língua que tem fonemas completamente diferentes da sua, ter
sotaque ou não saber palavras pouco usadas no dia a dia. Deixemos de lado, então, o
“vira-latismo” e valorizemos o processo de conversação como uma troca de experiências e
aprendizado, e não motivo de vergonha e inferioridade.
Michael Scarn
Que coincidência, mais um texto referenciando Nelson Rodrigues. Gostei da maneira com que desenvolveu seu pensamento, e concordo! O segredo é tomar umas antes de começar a conversar em inglês, "é só tomar uma, e quando você vê! You're speaking" deveria ser o comercial kkkk.
ResponderExcluirGostei do texto além de ser realmente uma questão que eu vejo muito, brasileiro mal fala "oi" em outro idioma e já está se desculpando enquanto acha absolutamente incrível qualquer americano conseguir falar três palavras em português.
ResponderExcluirGostei da escolha do tema, fugindo das propostas da maioria, mas acho que poderia ser um pouco mais problematizado, no geral é um ótimo texto
ResponderExcluirBom texto e boas referências, mas acho que poderia ter problematizado mais essa questão do "vira-latismo".
ResponderExcluirGostei muito do texto, ficou bem escrito e legal de ler e despertou a curiosidade, sem falar que arrasou na escolha do tema, algo muito importante e não muito falado. Só acho que a questão do complexo "vira-lata" vai muito além do "i'm sorry" e isso poderia ter sido bem mais desenvolvido no seu texto.
ResponderExcluirAlém disso tudo ainda tem a busca incessante pelo sotaque nativo. Qual nativo? Pra que? Inglês serve pra falar com o mundo e não apenas agradar os ouvidos do estadunidense que mal sabe geografia!
ResponderExcluirBoa crônica. O título foi bem explicado ao longo da narrativa e gerou uma fácil interprete. Parabéns.
ResponderExcluirGostei da escolha do título e como foi desenvolvido no texto. Sobre o tema, achei bem interessante e diferente, só acho que o argumento do "vira-lata", como dito anteriormente por alguns colegas, poderia ter sido mais desenvolvido, pois vejo como uma questão mais além do que o "i'm sorry".
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