quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Em SUSpensão

Eu já usava o SUS antes de vir ao mundo e dar meu primeiro choro num ambiente desconhecido longe do ventre materno. A gravidez da minha mãe era de risco, então tinha que ter acompanhamento rigoroso por esses longos nove meses. Oito meses depois da minha chegada, ela foi fazer laqueadura em outra cidade. Alguns anos depois, me acidento colocando o pé na roda da bicicleta e vou pro hospital; sou consultada, faço raio-x, curativo e sou medicada. Aos 10 caio da escada e passo o dia de sábado inteiro em observação ocupando um leito hospitalar. Aos 14 tenho uma paralisia facial e corro pro hospital desesperada e aos prantos com medo de que nunca mais poder voltar a sorrir como antes. Aos 19 passo boa parte da minha terça de carnaval na UBS com alergia e dores no corpo que nunca senti nada parecido na vida (era pior que a dor do pós treino quando você começa a fazer academia). Minha caderneta de vacinação foi preenchida todos esses anos em postos públicos de saúde. O hemocentro que fui doar sangue faz parte do SUS. A comida estragada em estabelecimentos que nunca comi. A água podre que não tomo. Os medicamentos gratuitos que minha família pegou... De seus 32 anos de existência eu uso há 20. Mas minha mãe, meu pai, meus avós, meus tios... Todos eles usam há 32. Se não fosse por ele, talvez hoje eu e nem outros 70% da população brasileira que dependem exclusivamente desse sistema, estaríamos vivos hoje. Eu tenho várias experiências ruins com o SUS, mas a pior delas seria não ter mais ele!

Vivemos a era da suspensão do básico.


                                                                                                                   Mônica Magali

8 comentários:

  1. Se eu entendi bem, a proposta deveria ser elaborar uma crônica sobre um acontecimento ocorrido há mais de 3 anos, na crônica vc cita, além de um aglomerado de acontecimentos, fatos ocorridos ano passado. Acho que não conseguiu atingir a proposta, apesar do tema ser bem relevante.

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  2. O tema é bem relevante mas acho que fugiu um pouco da ideia, deveria ter sido mais uma narração de uma memória sua que alguma outra pessoa que também vivenciou aquilo talvez discorde ou lembre de forma diferente.

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  3. Como dito acima, acho q foi um tema pertinente, mas na proposta errada. Não é um fato isolado, foram certezas. Quem te levou para o hospital quando menor confirma os problemas que você teve, pq eles são amplos demais para cada um absorver de uma maneira diferente, são laudos, mais fáceis de serem gravados então. Acho que pecou nesse sentido, talvez se focasse em um desses eventos e o detalhasse, seria mais interessante e coerente com a proposta.

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  4. O tema é pertinente no período em que estamos, mas concordo com os colegas de que você fugiu da proposta: Uma narrativa de um evento que ocorreu a pelo menos 2 ou 3 anos. Se você tivesse escolhido apenas uma dessas ocasiões pode ser que tenha vingado...

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  5. Como os outros já disseram, o tema é realmente relevante e válido, mas você acabou fugindo da proposta. Poderia ter escolhido um desses acontecimentos e ter trabalhado na narrativa e nos detalhes, isso teria deixado o texto mais interessante funcionaria melhor dentro da proposta.

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  6. Um bom texto, apesar de curto, mas como os outros colegas já mencionaram, talvez tenha saído um pouco da proposta. Creio que se você focasse em uma memória específica e não em várias, poderia ter ficado mais coerente. De qualquer forma, é um tema relevante e sempre atual.

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  7. Eu gostei mas realmente foge da proposta. Acho que se fosse uma memória específica ajudaria

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  8. O tema é necessário, mas acredito que fugiu um pouco da proposta dessa semana. Acho que talvez desenvolver uma memória mais específica de algum desses acontecimentos que você citou teria sido melhor. Mas é um bom texto.

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