Olá, Estela de 2015.
Não me estranhe, a gente não se conhece ainda. Você vai chegar aqui em breve. Te
recordando daqui, resolvi escrever essa carta. Nós nos parecemos tanto até hoje (algumas
coisas nunca mudam) e acredito que você precisa ler isso. Eu gostaria, quando estava no
seu lugar. Desejo te dar o conforto que não recebi.
Primeiramente, quero dizer que eu te entendo. Eu sei que tudo está confuso agora,
mas a verdade é que apenas compreendemos as situações quando nos distanciamos
delas. Você vai ter uma aula sobre isso no primeiro ano do ensino médio. E sim, você vai
estudar por mais alguns anos, ao contrário do que afirma agora. Depois, vai descobrir que a
vontade de não estudar nunca mais era sua maneira de expressar a insatisfação com o
ambiente escolar que te cerca.
Lembro de como você se animou com o colégio novo. Ir para um ambiente diferente
sempre te soou como uma chance de finalmente ser você mesma (e isso não muda com o
tempo). Mas agora, dois anos depois desse início, no oitavo ano, deve ter entendido que
esse processo de se encontrar não é tão simples, principalmente quando as pessoas ao
redor te criticam constantemente. Apesar disso, a vida te deu pessoas incríveis: a Lara e a
Mariana. Não se afaste delas. Serão as melhores companhias para conseguir passar por
isso.
Nesse ponto, você já entendeu que o formato do seu corpo é um problema, até
porque isso foi repetido (e continua sendo) como um mantra desde que se conhece por
gente. Eu sei, lidar com esses insultos (de novo!) não tem sido fácil e que você tenta se
proteger devolvendo ofensas a quem te agride. Tudo bem, essa é a sua forma de lidar no
momento e eu não te julgo por isso. Agora, começam os rolinhos “amorosos” e esse
incômodo ganha uma nova roupagem: enquanto suas colegas de classe estão
acompanhadas, você está sozinha. Essas mesmas pessoas não vão te deixar ignorar isso,
e seu ódio a si mesma só aumenta. No primeiro momento, vai acreditar que isso é o que
merece, mas um spoiler: a culpa não é sua.
Poderia ficar aqui dando conselhos eternamente, mas quero ser breve. Apenas te
peço: reúna suas forças e conclua essa fase. No fim, o mais importante é que você
sobrevive e não quero dizer que passar por esse período vai te fortalecer, porque sei o
quanto você odiaria ler isso. Aliás, não garanto que todas as coisas serão superadas, mas
eu cuido disso. Deixa comigo. Faz sua parte.
“Calma, o tempo é o seu melhor amigo
Eu sei que isso não faz sentido agora
Mas calma, pois nada fica fora do lugar por tanto tempo”
(Calma - Maglore)
Estela Lia
Falar de si para si mesmo não é fácil, mesmo que para uma versão do passado, mais distante e talvez menos difícil de decifrar já que você está distante para se ver. Acho que você fez isso muito bem, parabéns pela crônica.
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ResponderExcluirEssa questão de repensar o passado e se arrepender de coisas ou dizer que faria diferente é muito louco pq por um lado realmente tem coisas que nos envergonhamos e não queríamos ter vivido, mas vc só sabe disso pois passou por isso. Lembro muito de click quando cai nesse assunto pq em busca de um passado perfeito e que te agrade 100% você pode acabar estragando seu futuro. Como diria a filósofa contemporânea Andressa Urach, o passado é um lugar de referência e não de permanência. É importante olharmos pra trás e entender todas as problemáticas ou coisas que não gostamos mais pra aprender e evoluir. E sim, adolescência é uma fase bem merda mesmo, ainda mais se vc for uma pessoa não padrão. Mas ainda bem que ela passa!
ResponderExcluirFases da vida, não é mesmo? Muito difícil falar de si, mas muito mais difícil falar para si. Evolução e constante aprendizado. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirPartindo do princípio que a vida é feita de aprendizado e que seu eu atual superou todas essas fases, talvez essas dicas confundissem um pouco seu eu do passado no processo de amadurecimento. Mas, claro, foi só uma reflexão subjetiva, falar de si mesmo é difícil e, nesse caso, foi inovador. Parabéns.
ResponderExcluirGostei desse formato de escrever algo para o seu eu do passado e a conclusão do texto ficou muito boa. Parabéns!
ResponderExcluirFiquei um pouco confusa quando você usou “agora” para determinar tempos diferentes. De qualquer forma, achei muito legal escrever uma carta para si mesma, é uma ótima ferramenta de autoconhecimento. Sobre as dificuldades e processos dolorosos, como diz o próprio Maglore em Mantra, “tudo passará” :)
ResponderExcluirMuito interessante a sua escolha de abordar esse assunto através de uma carta, acho que todos gostariam de receber algo assim do seu "eu" do futuro. Ao longo do texto quando você fala de si atualmente é possível ver o seu amadurecimento e como você conseguiu lidar com essa fase difícil da sua vida, por isso posso dizer que você se expressou muito bem. Outro ponto que eu gostei muito foi a citação no final, ajudou ainda mais na reflexão e foi uma ótima maneira de finalizar a sua crônica. Parabéns!
ResponderExcluirinfelizmente não consegui me envolver tanto com os sentimentos que foram transmitidos, mas gostei do formato de falar para si, requer muita coragem, parabéns!
ResponderExcluirFalar de você para você nunca é fácil, mas acho que você conseguiu isso. Muitas das experiências que você passou também aconteceram comigo então acho que isso me aproximou mais do texto. Achei ele bem escrito e sem muitos rodeios. Parabéns!
ResponderExcluirMe perdi um pouco nas fases do colégio, mas amei a forma de carta.
ResponderExcluirA adolescência é realmente uma fase muito difícil para muitas pessoas. A mudança do corpo, dos pensamentos, a vida amorosa, a comparação que fazemos com outras pessoas. É muito ruim mesmo, mas como você mesmo disse, o tempo é seu melhor amigo.
ResponderExcluirQuanto a escrita, senti que poderia ter se aprofundado mais, assim como eu, mas talvez, pelo mesmo motivo não conseguiu. Pelo trauma sofrido.
Fique bem Estrela Lia
Gostei e acredito que deva ter sido um grande desafio falar para si mesma, ainda bem que a Estela de hoje não é a mesma de 2015.
ResponderExcluirFicou um pouco confuso as fases e os problemas vividos no colégio, mas ficou claro que a Estela de 2020 conseguiu passar leveza no texto.
Gosto muito da ideia de escrever cartas pra si mesmo e acho que você fez isso de uma forma um tanto quanto simples e tímida mas muito boa.
ResponderExcluirMe perdi um pouco na temporalidade ao longo do texto mas consegui entender suas palavras.
Espero que você fique bem!!
Me perdi um pouco com algumas passagens, mas a estratégia de falar para você mesma me surpreendeu! Ainda bem que a Estela de 2020 não é mais a de 2015. Parabéns pelos seus processos.
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