Era noite de lua cheia, copo cheio e coração vazio. Eu estava cercado de pessoas, mas meu lamento era nenhuma delas ser você. A festa estava linda. Daquelas em que as pessoas saem e do lado de fora comentam o quão impecável era cada detalhe: dos docinhos com sabor de infância ao vestido da debutante. Enquanto a aniversariante conheceria tradicionalmente "traços de mulher", eu daria início ao meu ciclo no álcool. Duas horas após o fim daquele namoro surgiria um novo eu.
51: não era só o nome da bebida, mas o número de vezes que a ingeri para esquecer pelo menos aquela pinta maravilhosa que ela tem na parte inferior da coxa esquerda. Em um dado momento aleatório da noite, um amigo rindo me indagou: está pensando nela? Minha boca, já torta de bebida, disse não. Enquanto meus olhos marejados de sono e tristeza diziam sim.
Como uma criança tentando andar em linha reta saí daquela festa. No meio do caminho parei em frente a casa da razão das minhas lágrimas. Quase me engasguei ao tentar respirar fundo para parecer sóbrio. De repente, surpresa. Uma mão tocou em meu ombro direito. Era ela. Vestida de vermelho. Cor do diabo, cor do amor, cor daquele batom que até borrado a deixava mais atraente que o normal. Minha cegueira era tanta que não reparei sua presença na mesma festa que eu durante todo o tempo que lá fiquei.
Nervoso, bêbado e envergonhado. Nem grego, nem latim, nem português, não conseguia dizer nada. Ela, por sua vez, sabendo do meu péssimo inglês desde o início do nosso não mais namoro, começou a desabafar neste idioma, era o início de mais uma briga, a última. Juro que não entendi nada até ela traduzir. Cada palavra pesava uma tonelada. No fim da tradução ela disse um forte e inesquecível "adeus". Um adeus que eu não ouvi, que eu não entendi, que eu não sei como escreve até hoje. Mas que significou e mudou muito a minha vida. Forever.
Formiga Atômica
que pessoa estranha essa que desabafa em inglês com um bêbado. Parabéns pela crônica
ResponderExcluirBoa, Formiga. Parabéns pela crônica. Gostei.
ResponderExcluirOlá, amigos. Desculpa a demora. A pessoa em questão foi alguém que eu vivi um "namoro" por três anos. Apesar do "adeus", hoje a gente se fala normalmente. Ela falava em inglês pois sabia que isso me irritava. A resposta dela sobre a crônica e a visão dela:
ResponderExcluir"Só faltou contar a parte em que você falou comigo na festa, mesmo eu sabendo que você não lembra disso. E eu falei em inglês contigo pq você pediu e disse que me achava sexy falando assim, palhaço."
Por hoje é tudo. Não bebam como a formiga. Abraços e beijos!!!
Também achei estranho, como o Cara falou, ela ter desabafado em inglês, mas o comentário deixou mais claro, falando nele, acho que deu o toque final do texto. A crônica é ótima, ao mesmo tempo que é tensa ela é divertida. Parabéns!
ResponderExcluirGostei bastante do texto, e o comentário realmente amarrou bem, completando as lacunas mesmo.
ResponderExcluirGostei da crônica e o comentário ajudou a entender melhor a situação. O texto foi bem escrito e gostei da narrativa. Parabéns!
ResponderExcluirCaramba... achei muito bonito, mas também bem pesado. Achei que você escreveu muito bem, relatou a história de forma incrível. Fez a tristeza virar arte, parabéns!
ResponderExcluirAmeiii! Vc escreveu de forma descritiva e poética e ficou incrível. Vc deu poesia a algo que poderia ser banal!
ResponderExcluirQuando li que ela começou a desabafar em inglês, logo pensei "nossa, que aleatório, mas também deve ser algo peculiar entre eles" e então terminei a crônica e li o comentário, que deu total sentido à história. Parabéns por colocar tanto sentimento no seu texto, Formiga!
ResponderExcluirFiquei chocada quando li que ela desabafou em Inglês, fiquei "que aleatório, como assim?". O comentário esclareceu bem mais a crônica. Achei bem artística a crônica!
ResponderExcluirÓtima escrita, conseguiu transformar esse acontecimento pesado em algo bonito de ser lido. Parabéns!
ResponderExcluirTexto muito bem escrito, relatou muito bem a história. Parabéns pela crônica!
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