Ela conferiu os cabelos e a profundidade do decote no espelho embaçado do elevador. Sua presença naquela festa não tinha como objetivo a diversão, mas tirar um nó da garganta embolado ali havia meses. Não sabia se nutria alguma esperança de que aquele nó seria desfeito e preencheria o vazio de seu peito ou se permanecia com as expectativas baixas para evitar um impacto mais intenso do que o discurso repassado mentalmente no chuveiro.
Ele chegou tão despretensiosamente alegre, mal sabia que, durante um trivial abraço de cumprimento, milhões de hipóteses e possibilidades rondavam a mente dela. Porém, o sorriso largo do garoto trocou de foco mais rápido do que o processamento das informações na cabeça dela.
Ela sabia que ninguém ali podia, e nem queria, ajudá-la. Ligou para quem conseguiu mas nada impedia que o nó a aproximasse vagarosamente da asfixia. O sufocamento, apesar de emocional, doía tanto ou mais que uma glote bloqueada.
Ele, naquela noite, parecia mais distante, os olhares e risos habituais não estavam sendo compartilhados. Será que a angústia que ela lutava tanto para disfarçar estava nítida em seus olhos? Concluiu, assim, que o que precisava era de coragem para cortar o mal pela raiz.
Ela secou as mãos suadas na calça na mesma proporção de vezes que sentiu a garganta arder. Apenas 16 anos, mas a borda do copo plástico cheio de bebida barata já estava manchada de batom escuro.
Ele nem sentia as horas passarem, apreciou aquele momento como a juventude devia ser vivida: com leveza e fervor. Cada pequeno prazer formava memórias doces que, dali em diante, seriam assunto e nostalgia numa mesa de bar ou numa troca de mensagens.
Ela, no entanto, achava que os ponteiros do relógio não andavam mais. Já estava certa de que as lembranças seriam mais amargas que o álcool, mas se convencia que ele a engrandeceria ao descer. Então, com a visão já turva, cambaleou ao encontro dele.
Ele e ela, diametralmente opostos. Um copo caiu. Lágrimas também. A bravura líquida -deveras covardia e sabotagem materializadas- misturou-se com o nó, agora cego. Ao invés das palavras ensaiadas só saiu espanto: um grito silencioso, o pouco que tinha no estômago e o muito que tinha no fígado. Qualquer chance que ela tinha agora não existia mais. Enquanto a boca dela ficara marcada na garrafa, a boca dele, agora, estava manchada com o vermelho de outros lábios.
Glen Coco
"Não sabia se nutria alguma esperança de que aquele nó seria desfeito e preencheria o vazio de seu peito ou se permanecia com as expectativas baixas para evitar um impacto mais intenso do que o discurso repassado mentalmente no chuveiro." essa frase precisa de vírgulas, especialmente no primeiro parágrafo q vc ta colocando a ideia na cabeça do leitor ainda, ele precisa de tempo pra respirar e absorver o q foi escrito.
ResponderExcluirFora isso, impecável sua crônica, adorei como vc encaixou o elemento da bebida de forma sutil, e inoculando na cabeça do leitor com adjetivos como "doce", "amargas". "Um copo caiu. Lágrimas também." muito boa essa frase, eu pelo menos consegui quase q entrar na situação qnd li. Meus parabéns!! Muito boa mesmo, só atenta pra aquilo da pontuação no início. (a não ser q tenha sido sua intenção, tipo naqueles textos de "afogamento" q o autor n usa vírgula pra deixar o leitor se "afogar" nas palavras, mas daí eu q n entendi mesmo kkkkkk)
O texto poderia ser mais claro, mas a ideia foi passada e ele teve muitos pontos positivos, como a forma intimista de descrever as coisas
ResponderExcluirGostei da alternância entre ele e ela. Muito bom o texto, gostosinho. Parabéns, Glen!!
ResponderExcluirGostei da forma que você contou sua história mas não ficou tão claro pra mim a sabotagem. Na primeira leitura achei que era um encontro marcado mas ele a traiu ficando com outra, só que nesse caso seria decepção e não sabotagem, ao meu ver. Mas relendo seria então a falta de coragem que a moça teve de se declarar durante todo esse tempo?
ResponderExcluirAchei que tinha ficado claro, até pelo título, que a sabotagem era usar o álcool para ganhar a coragem de se declarar. Uma pena que ficou confuso...
ExcluirParabéns pelo texto e pela colocação das palavras. Está muito bom!
ResponderExcluirCaraca! Acho que com algumas palavras um pouco mais fáceis talvez a ideia do texto tivesse sido passada com mais clareza. Mas não podemos negar o charme de tamanho "rebuscamento" desse textO.
ResponderExcluirPode ser coisa minha, mas não achei as palavras difíceis kkkkk Uma construção de frase diferente e com uma carga emocional mais pesada não torna uma palavra ou uma expressão “rebuscada”, algo que eu não tive intenção de ser ao meu ver.
ExcluirComo dito acima, faltaram vírgulas no primeiro parágrafo. Fora isso, seu texto funcionou muito bem para mim, uma narrativa um pouco mais detalhada na questão empírica de quem relata, mas que trouxe mais brilho para a situação contada.
ResponderExcluirGostei do texto, algumas coisinhas estruturais ja mencionadas, mas achei que usou bem alguns elementos banais pra dar subjetividade (como a questao do batom)
ResponderExcluirGostei do texto e do desenrolar da história, acho que a narrativa funcionou bem e os detalhes ajudaram bastante. Como alguns já disseram, acho que faltaram algumas vírgulas no início, mas no geral é uma boa crônica.
ResponderExcluirGostei muito dessa alternância entre "ele" e "ela", uma escolha bem criativa de apresentar o texto. Mas, como o pessoal falou, algumas partes ficaram bem confusas e não consegui entender muito bem de quem era a visão em cada parágrafo (acho que até as partes dele foram escritas pela visão dela, né? Fiquei um pouco confusa com isso também). No mais, sua crônica ficou muito bonita, conseguiu escrever essa situação triste e recorrente de uma forma bela e sentida. Parabéns!
ResponderExcluirSim, o objetivo era mesmo deixar mesmo tudo no ponto de vista dela. Era mais uma alternação entre observar a si e observá-lo. Quanto à clareza, foi intencional para demonstrar as falhas de consciência dela.
ExcluirEntendi!! Bem legal
ExcluirCurti muito o jeito que você descreveu a situação, mesmo que não deixando explícito o que aconteceu, ficou interessante de ler. Parabéns.
ResponderExcluirGostei da sua crônica, achei apenas um pouco confuso, o que o uso de vírgulas poderia solucionar. Sua narrativa é bem detalhada e bem feita. Parabéns.
ResponderExcluirAchei a crônica maneira, mas fiquei um pouco confuso. Curti as frases de impacto.
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