quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Um relato cirúrgico

 Acordou. Não com o despertador, ou com um compromisso, apenas seguiu o que seu

corpo lhe mandou. A visão ainda estava embaçada e sua mente ainda estava despertando,

até que se espreguiçou, e veio a dor. Era uma dor que já sentia a dias, e que percebia que a

cada dia aumentava, mas sua família lhe dizia que era apenas muscular, então não tinha

procurado um médico. Mas naquele dia ela estava muito maior e se alastrou por todo o

corpo, deixando-a imóvel.

Com muita luta se levantou, trocou de roupa e desceu as escadas, sua família estava reunida

no andar de baixo, o pai, a madrasta e seu irmão mais novo, era mais um dia normal, pelo

menos até o momento.

A próxima coisa que se lembra é de estar deitada no banco de trás do carro, de

bruços, já que não conseguia nem se sentar mais, e o carro estava vazio. Ela sabia onde

estava, no hospital da cidade, esperando seu pai que foi adiantar os documentos de sua

consulta, para que ela não ficasse em pé por muito tempo. Depois disso ela se lembra de

estar em um quarto de hospital, seu pai fez questão de deixá-la num quarto isolado, com

cama e ar condicionado. Deitada, recebeu a informação de que tinha um cisto pilonidal e

que iria direto para a cirurgia removê-lo, e ele mudaria muita coisa de sua vida.

Você deve estar pensando: “Mas todo esse drama só por um cisto?” Acalme-se,

leitor, ele é só o início da história.

Seu pai parecia calmo, dava alguns sorrisos, fazia brincadeiras e a tranquilizava. E

ficou no quarto quando ela foi levada para o local que faria a cirurgia. Olhou pra cima, não

conseguia se mexer muito sem sentir dor, apenas viu as luzes passarem rápido e as portas

abrindo e fechando, depois viu alguns enfermeiros, sentiu algumas agulhadas, pensou em

como seria a cirurgia, e acordou. Abriu novamente os olhos e não sabia aonde estava, nem

quando seria a operação, até um enfermeiro perceber seu despertar e avisa-lá que tudo já

tinha sido feito e que ela iria voltar para o quarto. Mais uma vez luzes passando, portas

abrindo, mas seu caminho se encerrou em frente a seu pai, que estava novamente tranquilo,

sorrindo.


Para não nos estendermos, vou adiantar uns dias na nossa história, se quiser

pode incluir algum efeito de time-lapse dos filmes que você gostar.

Já faziam duas semanas de sua cirurgia, ela estava na casa de sua avó todo esse

tempo, estava voltando a ir à escola e estava sendo bem cuidada. Poucas vezes ela recebia

visitas de sua família, outras poucas vezes de seus amigos, mas não se importava, sabia que

estavam ocupados. Era quase como se ela sempre estivesse naquela casa, parte de seus

pertences estavam lá e já tinha até uma certa rotina. Na hora do almoço, sua avó chegou

com uma notícia: ela não voltaria para sua casa, a partir daquele dia ela agora morava ali, e

iria reformar um quarto para se estabelecer.


Devo contextualiza-lo, querido leitor, que ela já planejava sair de casa, mas a ideia

era se mudar para outra cidade. A partir dali, tudo fluiu naturalmente, mas será que para

todos foi natural? Deixo aqui o questionamento para que seja respondido pelos outros

personagens e encerro o relato, guardando esta página para a posterioridade.


                                                                                 Cigana Oblíqua Dissimulada

16 comentários:

  1. Para mim, a ligação dos dois acontecimentos que você narrou ficou um pouco confusa, fiquei um pouco perdida no como uma coisa levou a outra mas talvez isso seja justificado no comentário do ponto de vista de outra pessoa. Fora isso, um texto legal!

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    1. Oi, Lizzy, obrigada pela crítica! Acabei de postar o outro relato, espero que após a leitura dele as lacunas tenham sido preenchidas, fico no aguardo de sua segunda conclusão!

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  2. Poxa, Cigana. A história estava sendo muito boa até a inserção da casa da sua avó. Achei q não teve muito sentido entre esses dois eventos. O final pra mim ficou um pouco confuso, não sei se gostei tanto quanto no início. Mas parabéns!.

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    1. Obrigada, Michael! Realmente poderia ter contextualizado melhor os dois eventos, mas eu mesma não sei a certo como eu cheguei lá. Com o relato do meu pai ficou um pouco mais claro, pelo menos pra mim. Espero sua resposta após ler o segundo relato! :)

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  3. Talvez pudesse ter ligado melhor os dois momentos, ficou meio confuso...

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    1. Oi, Plínio, obrigada pelo comentário. Talvez a confusão diminua com o relato do pai

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  4. Querido leitor, volto aqui para trazer um relato de um personagem essencial, o pai, para preencher algumas lacunas: "No dia anterior, ela havia ido a uma festa, por isso todos achamos que era dor muscular e não nos preocupamos com o hospital. Neste intervalo entre a casa e o hospital, a levei numa clínica e de lá ela foi encaminhada direto para o hospital realizar a cirurgia. Durante a cirurgia, pedi para minha mãe abrigá-la, já que ela não poderia subir e descer escadas por um bom tempo e eu não teria tempo e estrutura para cuidar dela e a servir durante os dias, por isso ela passou essas semanas lá. Como já foi dito, ela planejava mudar-se para outro estado e isso estava me consumindo dia após dia, por isso conversei com minha mãe para que elas morassem juntas, assim minha filha ao menos estaria na mesma cidade que eu, e depois, não foi dito no texto, mas conversei com ela sobre isso antes de minha mãe lhe dar a notícia. Pelo menos eu acho que foi assim."

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  5. A história estava indo bem, mas como alguns já disseram, acho que a segunda parte não foi bem colocada. Poderia ter feito uma ligação mais detalhada pra ajudar na fluidez do texto ao invés de ter feito esse corte. No geral, o texto é interessante e gostei da narrativa na primeira parte da crônica.

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  6. Como os outros comentaram, essa transição pra casa da avó ficou meio confusa, mas o relato ajuda a entender. Gostei do texto e de como você narrou a memória, principalmente no início.

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    1. Falha minha, Estela, foi tudo muito natural pra mim e ao mesmo tempo estava anestesiada, então não me liguei de deixar essa transição mais detalhada. Felizmente o relato do pai foi mais atento

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  7. O texto tava fluído até o pós cirúrgico, como já disseram. Mas depois do relato deu uma clareada. Na parte que você disse "Você deve estar pensando: “Mas todo esse drama só por um cisto?”" eu tava: nãooo, não mesmo! Hahaha e achei menos drama ainda quando fui pesquisar sobre o que era essa sua enfermidade.

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    1. Hahahahah na hora durante o periodo que estava com ele foi uma dor de parto, mas a cirurgia é simples

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  8. Após ler a versão do pai consegui entender melhor a ligação entre os dois acontecimentos. O texto é interessante, a primeira parte conseguiu me prender. Parabéns!

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  9. Realmente, fiquei bem confusa de primeiro momento e precisei dar uma relida. Mas, com o comentário da perspectiva do pai, entendi bem melhor!

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