quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Insaciável

 Em outra crônica minha aqui nesse site, também tangenciei a dupla ação e reação, quanta falta de criatividade! Mas talvez por isso se chame “lei universal”, porque se aplica em vários contextos. Nosso corpo, por exemplo, é biologicamente projetado inspirado nesse par, sendo assim, quando nos exercitamos, meditamos ou mesmo trocamos carinho com outra pessoa, a reação mesocorticolímbica é positiva, e nosso cérebro libera dopamina, o neurotransmissor da felicidade. 

O problema é que nosso cérebro não se acostumou a ser recompensado a longo prazo, e, assim como na física, a reação precisa ser instantânea. Com isso, ficamos como aqueles border collies, de joelhos apenas esperando para comer o biscoitinho. 

Mas e depois do biscoitinho, o que fica? 

Farelos? Vontade de quero mais? Arrependimentos? 

Talvez, um, talvez os três, o que não fica é a sensação de saciedade. 

Segundo o dicionário, saciedade é o estado de uma pessoa em satisfação completa, ou seja, precisa atingir a plenitude, trazer satisfação em todas as instâncias. Voltando à biologia, o corpo humano, para avisar a saciedade estomacal, utiliza-se do hormônio da leptina. Mas e quanto às outras áreas? Como saber se já estamos satisfeitos de amor? Ou se não vamos querer repetir o afeto? Vai mais uma dose de tesão aí? 

Em outras palavras, o(a) Biscoitinho, por mais gostoso e bem embalado que seja, não chegará nem perto de te saciar. 

Talvez nosso corpo não tenha gatilhos para avisar as demais saciedades, justamente pelo fato do limite para amor, afeto e tesão, por exemplo, simplesmente não existir. Só o infinito é capaz de preencher esses espaços. Ainda assim, insistimos em trocar o(a) Infinito, por um efêmero biscoitinho. 

Aquilo que é finito, termina em farelos.


                                                                                Cara de Pescoço
                                                                                

33 comentários:

  1. Adorei a crônica, principalmente o "insistimos em trocar o(a) Infinito, por um efêmero biscoitinho".

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  2. Po mano, eu curto seus textos, sempre são aprofundados e bem fundamentados. Mas acho que num tema como o dessa semana voce poderia ter focado menos nessa fundamentação e se soltar mais no sentimento hahaha

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    1. Obrigado meu querido, é q o sr. Cara de Pescoço n tem sentimentos, está morto por dentro.

      Mt decepção

      (tentarei nas próximas)

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  3. O texto em si é muito bom, gosto da sua forma de abordar os temas, mas senti falta do empírico, não consegui enxergar você e sim uma conceituação da proposta

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    1. O empirismo também abarca a observação.
      Mas seu comentário é mesmo pertinente, ainda tenho dificuldade em colocar o "eu" nos textos.
      Obrigado!! Também gosto mt dos seus textos
      (não que eu esteja negando que tenha algo relacionado a mim no texto, mas fica a cargo do leitor a dúvida rsrsrsrs.)

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  4. Caraca, muito bom. De verdade. Costumo dizer que saciedade é pra quem já atingiu o nirvana, não sei se por eu sempre buscar estímulo do meio. Nunca estou satisfeito e, sinceramente, não o quero. Parabéns, Cara de Pescoço. Me prendeu até a última frase.

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  5. Gosto bastante das sacadas que você faz nos textos, me fazem pensar, como essa questão da saciedade. Sua objetividade é muito bem escrita (parabéns!) mas de alguma forma sinto falta de uma coisa mais pessoal, mas isso não é uma crítica, porque sua crônica está ótima, Cara de Pescoço.

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    1. Vc bem que poderia me ensinar ne kkkkkk Mas de qualquer forma, tentarei nas próximas colocar mais pessoalidade
      Obrigado Estrela! <3

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    2. hahaaha eu me entrego até demais, ai é fogo
      de nada!! <3

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  6. Gostei muito da crônica, cirúrgica e objetiva. O assunto me interessa muito, e volta e meia me pego pensando nessas questões. A comparação com os biscoitinho e farelos foi muito inteligente. Como já mencionaram e você também já falou sobre a dificuldade de se inserir mais abertamente nos textos, gostaria de ver mais disso nas próximas.

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  7. Senti o texto muito técnico com vasto repertório sociocultural que cheguei a me perder um pouco. Estou até agora tentando pronunciar "mesocorticolímbica" hahaha senti também uma fulga ao tema, porém você escreve bem e gostei bastante da última frase!

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    1. A intenção com essas palavras (mesocorticolimbica, neurotransmissor, etc) era fixar o contexto biológico na cabeça do leitor, pq dps eu retomo ele em outro parágrafo, mas entendo q n é uma palavra mt usual.
      Obrigado pelo comentário!!

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  8. Os comentários sobre o texto não trazer um lado mais pessoal seu são bem pertinentes em um tema como esse, no entanto, consegui absorver sua intenção e seus pensamentos expressos na crônica muito bem, talvez por também ter essa dificuldade de me abrir com outras pessoas.

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    1. Exatamente, não é pelo fato de não estar em "formato desabafo", que não seja altamente pessoal. Toda a escrita tem um pedaço de nós, é impossível dissociar, como disse o professor numa das aulas.
      Obrigado pelo comentário!! <3

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  9. Assim como os outros já disseram, senti falta de algo mais pessoal e uma história que demonstrasse a proposta de fato, mas entendo que colocar isso em prática pode ser difícil ás vezes. No geral gostei do texto, foi muito bem escrito, parabéns!!

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  10. A metáfora dos biscoitos está ótima e faz todo sentido. Seu texto está muito bom. Eu só teria colocado um ponto em algum lugar no meio do primeiro parágrafo para não deixá-lo muito longo, mas é um gosto pessoal meu.

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  11. Necessário! Apesar de sentir um pouco sua falta no texto, como já bem pontuaram, ainda assim é super possível refletir e se sentir representado em muitos aspectos. Parabéns mais uma vez!

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  12. Texto excelente quase que do início ao fim, só achei que a conclusão poderia ter sido mais desenvolvida. Fora isso, bom demais !

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  13. No geral gostei bastante do texto, mas nao entendi muito bem onde se encaixaria a autossabotagem e pulsão de morte, senti falta do sentimentalismo e do próprio você dentro da crônica.

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    1. A pulsão está em mesmo tento o infinito, trocarmos por prazeres efêmeros, mas ficou sutil mesmo, no mais, obrigado pelo comentário! <3

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  14. Essa metáfora do biscoito foi bem perspicaz, me fez refletir sobre até onde podemos ir por tão pouco e que isso não sustenta um relacionamento. Gostei da maneira que você desenvolveu, parabéns!

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  15. Boa crônica, ela é bem objetiva e gosto do jeito que você escreve, brincando com as palavras. Achei que faltou um pouco mais do lado pessoal, mostrar mais os sentimentos.

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  16. Amei como escreveu a crônica e das palavras e metáforas usadas. Poderia ter posto mais o sentimento, mas imagino que seja difícil.
    "O problema é que nosso cérebro não se acostumou a ser recompensado a longo prazo, e, assim como na física, a reação precisa ser instantânea. Com isso, ficamos como aqueles border collies, de joelhos apenas esperando para comer o biscoitinho." Estou chocado em como esse trecho é verdadeiro.

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    1. Valeu Ritinha!! esse "Estou chocado" entregou o gênero do pseudônimo eim rsrsrsrsr

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    2. Infelizmente deixei esse passar. Faz parte! hahahaha

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