Nos últimos sete meses em especial eu tenho deixado de fazer muita coisa em prol do
bem estar geral e isso tem doído demais. Mas acho que são poucas as coisas cotidianas
que doem mais do que guardar tudo que se tem pra dizer. Cólicas menstruais, talvez.
Fato é que para que não se torne uma dor crônica, resolvi sublimá-la numa crônica, uma
carta para todos aos quais preciso falar, mas sei que nunca vão me ouvir.
Para todos os que me conhecem: eu sou o oceano, mas vocês só conhecem a praia. Eu
sou o universo, mas vocês acham que só há vida na Terra.
Para todos os que queriam que eu não existisse: vocês me odeiam por eu não ser um
homem branco, hétero, cis, de classe média e etc. Bom, apesar de vocês, eu continuo
existindo.
Para meus pais: agradeço por serem tão próximos e sensíveis. Mas vocês precisam
entender que existem partes de mim que talvez vocês nunca entendam. Ou mesmo
gostem. E tudo bem. Saibam que todas as partes de mim amam vocês. Mas eu preciso
de liberdade para descobrir todas as minhas partes e poder ser eu por completo.
Para meus amigos: todo dia eu agradeço a vocês por serem meu tudo. Só que quanto
mais os conheço, mais percebo que são seres humanos e nunca vão cumprir as minhas
expectativas. E vão errar muito, como eu erro. E vão me magoar e vai doer. Mas a
verdade é que quanto mais os conheço, mais procuro amá-los pelo que são.
Para alguns ex-amores: eu sei que acabou, era pra acabar. E agradeço por tudo que
cresci com você. Mas seria muito estranho se eu te mandasse mensagem no meio da
noite, dizendo tudo que não foi dito. Então guardo pra mim e deixo doer.
Para aquela pessoa, talvez a mais próxima de mim: queria saber por que às vezes
você me odeia tanto. Você reclama que o mundo te julga demais, mas quem mais me
julga é você. Continuei contigo por todos os vários momentos em que você me ama.
Quando você me olha e vê a pessoa mais especial, incrível, inteligente, engraçada,
bonita e gostosa. Mas é difícil suportar quando você diz que eu sou chata, irritante,
banal e substituível. Eu sei que você só me diz isso por ser tão insegura. Você acha que
é insuficiente pra todo mundo e eu só queria que bastasse ser suficiente pra mim. Você
duvidou da minha sexualidade, da minha negritude e até da minha feminilidade. Você é
a principal culpada pelas minhas maiores dores e eu peço perdão por não ter levado as
suas a sério. Acho que nós duas erramos. Só espero que daqui pra frente você se permita
sentir. Sinta todo o amor e toda a dor que for possível ou impossível suportar. Esses
dias um filme que me ensinou que o maior desperdício é tudo que arrancamos de nós
mesmos para nos curarmos das coisas mais rápido. Sei que é difícil, mas queria que ao
menos tentasse me conhecer e me entender melhor. Eu sei que você ainda gosta de mim
e espero que me leve contigo, como sempre te trarei comigo. Porque quando eu olho no
espelho, é você quem eu vejo. Carregamos o mesmo nome e a mesma história. E você
ainda é a única que pode me salvar de mim.
A Mulher do Fim do Mundo
Gostei do jogo de palavras do título entre dor e crônica. E espero que isso que te aflingi tenha aliviado, nem que um pouco que seja! ♥️
ResponderExcluirMulher, que pesado. Muito bom o texto, só umas concordâncias na parte dos "ex-amores" e depois é colocado no singular. Perdão, amor e auto conhecimento. Parabénsss
ResponderExcluirNa verdade o singular foi intencional porque eu não poderia falar a eles como um conjunto, queria falar pra cada um individualmente. Mas obrigada por se atentar a isso <3
ExcluirAh sim, me desculpa então. Parabéns pelo texto, muito bom!!
ExcluirConfesso que me assustei com o tamanho da crônica, mas ao lê-la o texto correu suavemente. Parabéns, achei completo.
ResponderExcluirinfelizmente senti que o afastamento que você tanto expos na crônica aconteceu também entre nós, não consegui te conhecer ou entender melhor sua dor. De qualquer forma fique bem, existem pessoas incríveis no mundo que irão te valorizar pelo que você é
ResponderExcluirA crônica está ótima! Gostei muito de como você organizou e destacou algumas partes dela. Parabéns!
ResponderExcluirEu não entendi muito bem pelo o que você está passando, mas gostei muito do texto, do título e da forma que você separou os destinatários da carta.
ResponderExcluirParabéns pela crônica ficou boa e achei o formato interessante.Só acho que se você tivesse reduzido o número de destinatários teria conseguido um melhor aprofundamento nas questões.
ResponderExcluirMinha mãe costuma dizer que um amor se cura com outro.
ResponderExcluirAchei que o título deixou a desejar e que poderia ter escrito de uma forma mais envolvente ao leitor, me senti um pouco de fora do seu trauma.
Amei, o texto foi bem escrito e o formato é interessante. Só acho que poderia ter diminuído a quantidade de destinatários e aprofundado mais as questões de cada um. Não sei como está se sentindo exatamente, mas espero que fique bem!
ResponderExcluirAchei muito interessante o formato da crônica com os destinatários. Só senti falta de mais detalhes e um "desfecho"
ResponderExcluirGostei muito da forma que você abordou a sua dor, se direcionando as pessoas. Texto ótimo!! Parabéns.
ResponderExcluirAchei super interessante se remeter a destinatários diferentes e cada um com suas particularidades. Gostei ainda mais do título do texto e de como o pontuou durante o texto.
ResponderExcluirAmei o jogo de palavras e como "dor" e suas derivadas tiveram destaque. Sem dúvidas, uma das crônicas mais profundas que li aqui. Gostei como você direcionou palavras e sentimentos para as diferentes pessoas da sua vida. Parabéns por esse texto lindo, Mulher!!
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