Amsterdam é palco de um debate quente entre progressistas, defensores das liberdades que a cidade oferece, e conservadores reclamando que o lugar virou palco de um tal “turismo psicodélico”.
Sem querer ofender os conservadores, mas era exatamente isso que a gente foi fazer lá. Eu e meu primo compramos cogumelos.
Não em um beco escuro ou nada disso, numa lojinha especializada, veio embaladinho que nem Fandangos, selo da Anvisa de lá e tudo mais.
Resolvemos entrar num parque para comer, achamos um banco e dividimos, e como o efeito não é imediato, marcamos um tempo. Foi nessa hora que chegou uma senhora com dois cachorros na nossa frente, um pequeno, que não saía do lado da dona por nada; e um grande, todo agitado que não parava de explorar o ambiente. No meio de alguma conversa sem pé nem cabeça, decidimos que os dois cachorros eram uma metáfora que nos representava, eu era o maior, observando tudo em volta e doido para sair do banco inicial, ele era o pequeno, introspectivo, se fechando num casulo que, francamente, só ele poderia explicar.
Sei que em dado momento levantei e fui bater perna, para fazer jus ao meu animal espiritual eu precisava explorar, então rodei pelo parque, que estava mais bonito do que eu lembrava, assim como o céu, tudo em HD. Passei por um jardim com uns arranjos florais lindos, por uma aula de yoga a céu aberto, assisti a uma briga de patos no laguinho, tudo era ao mesmo tempo banal e interessantíssimo.
Depois de andar por algum tempo reencontrei meu primo, recém saído de seu casulo, agora transformado no que eu chamaria de uma borboleta filosófica, tivemos debates geniais sobre águas vivas e a água do canal, até que decidimos nos despedir do parque e ir encarar a cidade.
E que bela era a cidade! A arquitetura, os cafés, os espaços abertos, museus que iam de Banksy ao queijo. O trânsito que misturava bondes, carros, ciclistas e bêbados, e que surpreendentemente funcionava. Nada estava fora de ordem e ao mesmo tempo tudo parecia mais bonito, como se eu olhasse para as coisas como quem vê um filme, desses cult francês, candidato ao Oscar em Fotografia.
A noite foi caindo e o efeito dissipando, jantamos em um restaurante aonde presenciamos uma cena horrenda: um senhor se levantou e vomitou a própria dentadura, apenas para pegá-la do chão vomitado e recolocá-la na boca. Terrível. Nojento. Escatológico.
Mas não pude deixar de notar que a iluminação e o enquadramento estavam impecáveis.
Plínio Haroldo Cisne
kkkkkkkk mt bom, parabéns pela crônica!
ResponderExcluirHistórias de chapado são incomparáveis
haha, adorei, parabéns pelo texto!
ResponderExcluirAdorei a crônica, parecia q eu estava junto e vivendo a história. Adoro detalhes não só dos acontecimentos, mas do que você sentiu e achou. Parabénsss
ResponderExcluiradorei o texto, foi um acontecimento totalmente fora da minha realidade. amei como vc narrou a historia e tbm o que vc estava sentindo no momento. ali no final, senti como se estivesse junto vendo o cara vomitando a dentadura... que nojo. parabéns pela crônica!!!
ResponderExcluirAmei o texto, você narrou de uma forma ótima e escolheu um momento divertido. Ansiosa para o segundo relato, parabéns!
ResponderExcluirAmei o texto, história muito legal. Você descreveu muito bem os momentos e eu consegui até imaginar o cenário em que estava e na parte final senti como se estivesse junto vendo aquela cena kkkkk. Houveram algumas pontuações feitas de forma equivocada, mas não foram muitas. Parabéns pela crônica!
ResponderExcluirTranscrevo aqui a resposta do meu primo:
ResponderExcluir"Na noite anterior, antes de dormir, fiquei estudando no wifi do hostel os efeitos e reações adversas ao consumo do cogumelo. Li que era melhor estar de estômago vazio e não misturar com outras drogas. Munido de informações, fomos ao centro e compramos uma caixinha chamada Dragon's Dinamyte, a mais forte, indicação de uma amiga. Num canto do parque, embaixo de uma arvore, dividimos o conteúdo. Tinha um gosto horrível e eu não aguentei comer toda a minha parte. Só então sentamos no tal banco, esperando a onda bater observando os cachorros. Eventualmente a necessidade de dar uma volta não me acometeu como ao primo. Fiquei no banco enquanto ele foi. Me cobri com o capuz do casa de moletom, deitei no banco e viajei na introspecção pscilocíbica. Algumas vezes eu puxava o capuz e olhava em volta procurando o primo, as vezes o via, as vezes não. Passado um tempo ele voltou ao banco e eu já estava apto à volta pelo parque, que agora parecia muito mais parque do que qualquer outro parque jamais fora. Depois veio a decisão de voltar às ruas, veio a percepção de que o efeito estava passando. Sentamos no gramado próximo ao museu Van Gogh, já era noite, discutimos sobre águas-vivas e implicações da esquizofrenia, como o "cara quieto". Por fim, a chuva e o frio nos fez nos recolhermos em uma mesa no "wrong side of the tatas", onde ocorreu o episódio do vômito e da dentadura. O senhor tinha pedido a mesma sopa que eu."
Muito obrigado a todos, que bom que gostaram haha
ResponderExcluirMuito bom seu texto, descreveu bem a ponto de conseguir imaginar as situações, e o relato do seu primo parece completar a história. Parabéns pela crônica!
ResponderExcluirGostei bastante do texto, a forma metafórica como você descreveu os acontecimentos deixou a leitura muito bonita e interessante. Como disse a Garota da Echarpe Verde, é um fato totalmente longe da minha realidade, sonho em um dia ter o privilégio de passar por um rolê como esse, Amsterdam deve ser incrível. Parabéns pela crônica, ficou ótima!!
ResponderExcluirCurti o texto, mas não sabia que Amsterdam tinha rivalidade de debates sobre as liberdades do país. Interessante saber dessa informação!
ResponderExcluirExcelente texto, muito bem estruturado e divertido. Me chame para o próximo rolê kkkkkk
ResponderExcluirQue sensacional!
ResponderExcluirTexto rico em detalhes e amei mais ainda ter sido complementado com as histórias do primo. Muito bom.
O texto está ótimo, bem escrito e organizado, as descrições firam ótimas também.
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