quinta-feira, 29 de outubro de 2020

No dia que não antecedia

 Essa história é muito estranha, já fazem alguns anos que essa situação aconteceu. Estávamos

no aniversário de uma amiga e ela estava completando 15 anos naquela noite, nós tínhamos

uns 14, salvo engano. Lembro de como era bom nos reunirmos em festas de aniversário, a vida

era mais leve nessa fase e a felicidade se entranhava com muita facilidade. O céu noturno era

um jeans escurecido e a lua mais um botão claro da minha camisa bem passada. De qualquer

forma, vamos para o ponto complicado do que deveria ser só mais uma noite em que pré

adolescentes se divertem como se não houvesse amanhã. O problema foi esse. Talvez não haja

um amanhã.

Seguindo. Estávamos nos divertindo quando de repente surge uma ideia, nossa amiga sugere

que deveríamos comprar um energético. Para isso, eu e meu amigo Neymar (pseudônimo)

fomos até a casa da nossa amiga para buscar dinheiro, não ficava distante, uns 5 minutos de

caminhada. Chegamos lá e aguardamos alguns minutos até que ela voltasse com o dinheiro,

após isso, voltamos para o local da festa e compramos o energético em um comércio próximo,

até aí tudo bem. Algum tempo depois, eis que um amigo de infância do meu morro (convidado

e namorado dessa amiga em questão) sinalizou que gostaria de falar algo comigo. Caminhei

até ele e começamos a conversar:

- Cara, eu soube o que aconteceu.

- O que houve?

- O seu amigo, Neymar, ficou com a minha mina!

- Que ? Que porra é essa ?

- Papo reto, o cria acabou de passar por ali e me contou que ele estava ficando com ela ali na

outra rua, e você tava perto.

- Tá pancadão ? Que papo é esse cara.

- Mano, eu vou matar ele. Não fica na frente. Sapinho vai me emprestar a arma.

Nesse momento, ele me mostrou a arma na cintura do cara que iria emprestá-la, eu fiquei

completamente perturbado e desesperado, pensando no meu amigo que iria morrer por uma

mentira. A partir daí eu tentei convencê-lo da verdade, que o cara tinha inventado aquilo por

sei lá qual motivo.

- Tá maluco cara? Nós é cria porra, te conheço desde que eu nasci, você acha que eu faria isso

com você?

Esse diálogo durou muito tempo na minha cabeça, parecia um dia inteiro de discussão, na vida

real acredito que tenha durado pelo menos uns 30 minutos. Eu percebia que ele no fundo

acreditava, que sabia que eu não faria algo assim com ele, que éramos amigos de infância. Ao

mesmo tempo eu pensava no meu outro amigo, que era um cara super correto e que não

merecia passar por aquilo, pensei tanto na mãe dele, como se sentiria caso algo acontecesse

com o filho dela...


- Cara, é o seguinte. Se você não confia em mim, se pensa que eu te trairia dessa forma, me

mata. Eu não vou sair da frente, atire em nós dois.

Nesse momento, a minha amiga (namorada dele) começou a chorar muito, dizendo que ele

não cofiava nela e preferia confiar em bandido que estava colocando merda na cabeça dele.

Foi aí que ele começou a desistir da ideia, não sei se ele foi 100% convencido da verdade, mas

pelo menos o pior foi evitado. Éramos extremamente novos e essa situação foi completamente

fora da curva.

                                                                                                    Virgilio Expósito

15 comentários:

  1. que loucura, também sinto falta das festas de 15 anos, mas não essas daí kkkkkk. Parabéns pela crônica!

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  2. Nossa que experiência horrível, nem consigo imaginar como foi passar por isso! Ótima crônica!

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  3. Nossa, que tenso. Parabéns. Acho que no início poderia ter sido um pouco mais direto. Mas adorei a crônica!

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  4. Que tenso cara, e passar por isso com 14 anos deve ser foda. Mas agiu bem demais.

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  5. Que experiencia tensa, fico feliz que tenha se desenrolado para o bem. Sobre o texto em si está ótimo e dentro da proposta

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  6. Nossa, que situação, que bom que ficou tudo bem no final. O texto foi bem escrito e os diálogos contribuíram para a tensão da história. Parabéns!

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  7. Rapaz, que doideira! Gostei do texto e fiquei curiosa pra saber o relato de outra pessoa que estava presente no dia da memória. Parabéns

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  8. Caramba, que história! Você foi muito corajoso e fico feliz que esteja aqui hoje, contando essa história, que foi de uma memória traumática a um texto muito bem escrito. Gostei muito de toda a crônica, mas amei em especial a frase: "O céu noturno era um jeans escurecido e a lua mais um botão claro da minha camisa bem passada." Muito bonito, parabéns!!

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  9. "O céu noturno era um jeans escurecido e a lua mais um botão claro da minha camisa bem passada." Gostei muito desse trecho!

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  10. "O problema foi esse. Talvez não haja um amanhã. Seguindo. Estávamos nos divertindo quando de repente surge uma ideia..." Esse "Seguindo" ficou meio solto e desnecessário. Não precisava pôr ele, o trecho já tava compreensível.

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  11. "até aí tudo bem" hahaha eu amo esse trecho pq ele sempre é usado num contexto ruim mas que piora dps então no final o início nem fica tão ruim hsushsu

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  12. 😳 mds estou em choque com o desdobramento dessa história! Fico feliz que todos ficaram vivos no fim. Mas que situação! Enfim, bom texto,cumpriu o propósito e amei aquele trecho que citei!

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  13. Gente do céu, mas como assim! Que loucura!!
    Me envolvi demais com a história!
    Apesar do susto, que bom que deu tudo certo no final.
    Gostei da narrativa, conduziu e me prendeu super.

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  14. Que tenso! Não esperava que a história fosse tomar esse rumo, me surpreendeu, mas ainda bem que tudo deu certo no final. O uso dos diálogos contribuiu bem para deixar a história tensa e prender o leitor. Parabéns!

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